Devir lança O Sonhador, de Will Eisner
A Devir programou para este mês de outubro o lançamento de O Sonhador (formato 19,4 x 25,5cm, 56 páginas, R$ 22,00), de Will Eisner.
Numa história sobre os primórdios das revistas em quadrinhos, a obra conta a trajetória de um rapaz que sonha em trabalhar no mundo das HQs nos anos 1930. Ao longo do caminho, ele irá conhecer outros que compartilham do seu sonho e aqueles que têm seus próprios sonhos.
Esta ficção, baseada em elementos reais, captura o drama e a turbulência da vida nos estúdios de criação de HQs no momento em que os fundadores dos quadrinhos davam origem a uma nova mídia artística.
A obra pode ser encarada como uma "autobiografia ficcional" do próprio Eisner, na qual ele conta o surgimento das revistas em quadrinhos e o "estouro" dos super-heróis, além de mostrar coadjuvantes como Bob Kane, Jack Kirby, Lou Fine, George Tuska e outros do meio editorial americano, todos com os nomes devidamente alterados.
Confira o prefácio do autor e imagens da obra:
Na melhor das hipóteses, a sociedade tende a considerar seus sonhadores com tolerância. Sonhadores caminham pela vida com um ritmo todo pessoal. Eles tomam decisões ou se interessam por empreendimentos que, muitas vezes, parecem ingênuos e duvidosos para os pragmáticos, que, no fim, prosperam em oportunidades disseminadas pela fantasia e devaneios. Esta é a história de um sonhador. É um passeio ao lado de um jovem cartunista no início da sua carreira. É um estudo da esperança e ambição. Os eventos ocorrem durante uma época em que os cartunistas encontravam-se num novo campo, o começo da moderna indústria das revistas em quadrinhos em meados dos anos 1930.
Era uma época muito especial. Jovens cartunistas lutando para entrar nos mercados estabelecidos tinham encontrado uma nova oportunidade - a mídia dos quadrinhos. Ali estava um formato de publicação, na verdade um mutante proveniente das páginas dominicais de quadrinhos dos jornais, que saudava a inovação e estava exposto aos recém-chegados. Os padrões ainda eram muito baixos - assim como o valor pago por página desenhada.
Nessa minifronteira, muitos novos estúdios de produção de revistas em quadrinhos apareceram subitamente e prosperaram quase que da noite para o dia. Nessas oficinas, cartunistas, ilustradores e escritores trabalhavam muitas horas, impulsionados por seus sonhos... muitos dos quais, com certeza, iriam se tornar realidade algum dia. Desses ávidos jovens talentos surgiram os grandes heróis dos quadrinhos que ainda são viáveis depois de quase cinco décadas.
Hoje em dia, a forma de arte da história em quadrinhos está começando a encontrar aceitação crítica como uma respeitável literatura popular, e muitos desses criadores, finalmente reconhecidos mundialmente, estão aproveitando os frutos do seu trabalho. Mas, nos primeiros anos, eles não eram muito diferentes dos seus sucessores modernos que ainda lutam com aspirações similares, porém numa área já estabelecida.
A grande diferença talvez seja o fato de que eles viveram numa época mágica, sem imaginar que as anedotas que contavam e as lendas que criaram iriam, um dia, se tornar parte da história dos primórdios das revistas em quadrinhos.
O Sonhador, embora inicialmente elaborado como uma obra de ficção, no fim tomou a forma de um relato histórico. Na narrativa, era inevitável
que os atores se parecessem com pessoas reais. Seus nomes, entretanto, são fictícios, e eles são retratados sem malícia. Tudo isso saiu do armário desordenado onde guardo os fantasmas do passado, e das lembranças amareladas da minha experiência.
Will Eisner
Flórida, 1986