Devir lança segundo volume de Supremo
A
Devir colocou
à venda o álbum Supremo: A Era de Prata (formato 16,5 x
24 cm, 216 páginas, R$ 49,90), segundo volume com as histórias do personagem
escritas por Alan Moore.
Na trama, uma homenagem ao mito do Superman, desde sua criação até os
dias de hoje, numa viagem no tempo pelos grandes eventos que marcaram
a história dos quadrinhos.
Mesclando momentos atuais do personagem com flashbacks que retratam
o visual das antigas HQs do final dos anos 1950 até o início dos anos
1970, este é o segundo livro de uma coleção de quatro volumes.
Este álbum traz uma série de histórias e materiais extras inéditos no
Brasil. O prefácio é de Marcelo Naranjo (Universo HQ), confira:
Revisitando a Era de Prata
Houve
uma época nos quadrinhos de super-heróis em que tudo era possível. Quando
as leis da física eram completamente ignoradas, explicações científicas
eram dadas sem nenhum embasamento. Coincidências assombrosas recheavam
cada quadro, cada página. O que naqueles tempos parecia sério, hoje soa
engraçado, inocente.
Argumentos? Pois bem, os argumentos iam do mais singelo ao absurdo
total. E o leitor tinha a satisfação de acompanhar tramas com finais ora
surpreendentes, ora óbvios, nas quais parecia não haver limites para a
imaginação dos roteiristas. E, em meio a esse pandemônio de homens de
uniformes coloridos envolvidos em aventuras das mais desvairadas, dois
personagens foram símbolos emblemáticos de toda essa geração de histórias
tão singulares: Superman e Batman.
Ao leitor desavisado, estamos falando da Era de Prata, período de redescoberta
dos super-heróis, que teve inicio na década de 1950. E, ainda que o álbum
que você tem em mãos seja do Supremo, e não do Homem de Aço, é praticamente
impossível falar de um sem antes mencionar o outro.
Vejamos um pouco do que Superman, o último filho de Krypton, aprontava
naquela época não tão distante: por motivos fúteis, Clark Kent decidia
abandonar a carreira de Superman, afirmando que era "para sempre". Em
seguida, abria mão de ser o jornalista. Ao menos, uma vez por ano, era
certa a notícia de sua morte. Sua identidade secreta era posta à prova
regularmente. Ele perdia seus poderes aventura sim, aventura não. Isso
tudo, além dos problemas provocados por seus melhores amigos, que freqüentemente
ganhavam superpoderes e arrumavam grandes confusões.
Amigos estes mais do que conhecidos por todos. A pseudo-namorada Lois
Lane estava sempre prestes a descobrir o segredo de Clark Kent. Para sorte
do herói, ficava no "quase". Jimmy Olsen, o grande camarada, volta e meia
tentava matar o kryptoniano, ainda que não por vontade própria. As situações
eram reprisadas à exaustão, mas nem por isso deixavam de divertir. Esses
argumentos faziam tanto sucesso que até os amigos do Superman tiveram
títulos próprios em bancas.
Isto posto, falemos do Supremo do "mago bardo" Alan Moore. Sobre o
roteirista britânico, não há mais o que ser dito. Genial, revolucionou
o gênero dos quadrinhos para adultos etc. Nas histórias que você acompanhará
a seguir, ele dá continuidade à releitura que criou para o Supremo, agora
com todo o charme e características marcantes principalmente dos quadrinhos
da Era de Prata.
Nas
aventuras deste álbum, o protagonista, ainda no "presente", enfrenta diversos
desafios numa trama maior, mas este é o pretexto que faz emergir todos
os elementos da sua vida pregressa.
Há, então, um festival de homenagens, referências e citações, que vão
das mais óbvias àquelas que só os mais fanáticos leitores de quadrinhos
perceberão. É hora de matar saudades da grande amizade do herói com o
Professor Noturno e Crepúsculo, a garota-prodígio; relembrar as primeiras
aventuras dos Aliados; enfrentar as armadilhas preparadas pelo terrivel
Lex Lut... ops... Darius Dax, arquiinimigo de Supremo.
Não é só: Ethan Crane esconde sua identidade secreta com um par de
óculos. O leitor vai se deparar com a Fortaleza da Solidão, a Zona Fantasma,
um sem-número de vilões, outros tantos amigos, os amores, os clones-robôs
do herói, mascotes, futuro, família, passado, a cidade de Littlehaven
(Smallville ou Pequenópolis, lembra?) e mais, muito mais, tudo devidamente
rebatizado e adequadamente citado.
Ainda para deleite dos saudosistas, as histórias do passado do Supremo
têm arte propositadamente "datada", ao contrário de quando o herói está
no presente, aí sim com o conhecido estilo da editora Image, com heróis
anabolizados e heroínas gostosonas.
Vale
citar que o marinheiro de primeira viagem, que sequer ouviu falar das
edições antigas dos super-heróis aqui homenageados, não precisa ter medo:
vai encontrar uma história bem escrita, cheia de ironia e aventura e um
desfecho pra lá de bacana.
Já o leitor veterano, que conviveu com essa miríade de elementos principalmente
nas histórias publicadas nas edições da saudosa Ebal, terá a oportunidade
de se deliciar com algo mais, e se surpreender diversas vezes com um inadvertido
sorriso no canto da boca, ao relembrar todo um universo ficcional que
garantiu horas e horas de diversão descompromissada.
Estão presentes na fase de Moore à frente do Supremo toda a inocência
da Era de Prata, sem dúvida. A diferença é a forma como ele amarra as
tramas uma à outra, tornando-as atuais e "encaixando-as" no jeito de se
fazer quadrinhos de super-heróis adotado nas duas últimas décadas.
Então, com o perdão do trocadilho, que você tenha uma leitura... para
o alto e avante!
Marcelo Naranjo
Editor do Universo HQ