Dois mangás disseminam a xenofobia no Japão
Dois mangás estão causando mal-estar nas já conturbadas relações do Japão
com a China e a Coréia do Sul.
E não é para menos. Intitulados, em tradução livre, Odiando a Onda
Coreana, de Sharin Yamano, e Uma introdução à China, de George
Akiyama, ambos são publicados pela editora Shinyusha e possuem
um teor xenófobo que chega a constranger.
"Não há nada de que se orgulhar na cultura coreana", diz
um trecho do primeiro. No outro, os chineses são retratados como depravados,
incentivadores da prostituição e obcecados pelo canibalismo, e ainda se
vê achaques como "Veja a China de hoje, seus princípios, pensamento, literatura,
arte, ciência, instituições... Não existe nada de atraente".
Os dois títulos, de 300 páginas cada, se tornaram verdadeiros best-sellers.
São os mais vendidos do Japão nos últimos quatro meses, mostrando que
o conteúdo xenófobo encontrou um bom respaldo na população.
Até agora, não há registros de nenhuma voz levantada contra esses quadrinhos.
Pelo contrário, existem manifestações desconcertantes como a do historiador
Kanji Nishio, indagando "Por que a Coréia e a China não aprenderam nada
com o Japão?".
A verdade é que ações desse tipo só estão ajudando o Japão a se isolar
na Ásia. Os desafios coreanos e chineses à sua liderança econômica, política
e cultural são a verdadeira fonte da ojeriza nipônica àqueles países.
Uma agravante tem sido a chamada "Onda Coreana", que tem varrido o continente
asiático com filmes, músicas e outras "armas" culturais, afastando a Terra
do Sol Nascente do centro das atenções.
Por falar em arma, é uma pena que os quadrinhos estejam sendo usados como
tal, num festival de provocações que podem ter conseqüências bem mais
graves. A nona arte ficaria bem melhor fora disso.