Entrevista com Minêu, o novo baiano premiado em festivais de humor
A
divulgação, neste final de semana, dos vencedores do XIII Salão Nacional
de Humor e Quadrinhos de Ribeirão Preto (confira
aqui a relação) acabou confirmando o nome do baiano Minêu, pseudônimo
de Rodrigo de Lira Minêu Rocha, residente em Salvador, como novo valor
do traço no Brasil.
Minêu concedeu ao Universo HQ uma entrevista por e-mail, que publicamos
abaixo:
Universo HQ: Quais prêmios você recebeu nestes últimos anos?
Minêu: Não tem nem dois anos que sou cartunista. Eu comecei
a participar de salões no ano passado, quando enviei trabalhos para o
Festival Internacional de Humor de Pernambuco. Por sorte um desses
trabalhos foi selecionado. Isso me motivou bastante. Em seguida, mandei
vários trabalhos para o Salão de Piracicaba e nenhum foi selecionado.
E isso me motivou ainda mais, porque naquele momento eu percebi o quanto
ser cartunista era importante para mim. Continuei a participar de Salões
de Humor e venho melhorando progressivamente meus trabalhos. Hoje acho
que já possuo um estilo próprio.
Participei de mais de 10 salões de humor em 2004 e recebi cinco prêmios,
todos neste segundo semestre. São eles: Menção Honrosa no Salão Universitário
de Piracicaba (cartum), 3° lugar na Expohumor (cartum) e os três prêmios
que acabei de ganhar em Ribeirão Preto (1° lugar em caricatura, 3° em
charge e 3° em cartum).
UHQ: Você foi mais que premiado no Salão de Humor de Ribeirão Preto,
este ano. A que você atribui esta boa surpresa?
Minêu: Fiquei muito surpreso em ser premiado nas três categorias.
Realmente, eu não esperava. Até tinha esperanças em Charge, mas o resto
me pegou de surpresa.
UHQ: Como foi a sua trajetória, e seu aprendizado?
Minêu: Aprendi a ler lendo histórias em quadrinhos. Leio até
hoje, ainda que cada vez menos, pois é muito raro encontrar algo de qualidade
nas bancas. Comecei a copiar os desenhos da Turma da Mônica e depois de
um tempo passei para os super-heróis. Não conseguia encontrar um estilo
próprio. Acho que desenho, assim como qualquer tipo de arte, é uma forma
de expressão, é a maneira como o autor retrata a realidade (por vezes
absurda) em que vive.
Pensei em desistir de desenhar, pois estava cansado de copiar os outros.
Entrei na faculdade de publicidade e há dois anos atrás, voltei a desenhar.
Resolvi simplificar meu traço. Queria comunicar através de desenhos bastante
simples. É isso que mais admiro no cartum: conseguir falar muito através
de um único desenho, fazer pensar através de poucos traços. E de uma forma
que pode ser entendida aqui e na China. Por sinal, ano que vem, pretendo
mandar uns desenhos pra China...
UHQ: Como você se sustenta, profissionalmente?
Minêu: Ando fazendo alguns trabalhos como freelancer, mas sou
relativamente jovem e no momento ainda não me preocupo em pagar as contas.
Estudo jornalismo e acabei de me formar em publicidade. No meio do ano
que vem pretendo ir para Espanha fazer uma especialização em cinema. Paralelamente
às minhas ambições no tocante à publicidade e ao cinema, vou levando o
cartunismo.
UHQ: Como é a sua relação com o Portal El Can: é você mesmo quem atualiza
as informações em
sua página?
Minêu: Eu acessei o Portal El Can no mês passado e encontrei
muita coisa boa lá. Conhecia o trabalho de muita gente lá dentro. Li os
pré-requisitos do site e me cadastrei. Nunca tive nenhum tipo de contato
com ninguém do site. Sou eu mesmo que faço as atualizações e acho isso
muito vantajoso, pois possibilita que o artista coloque no ar trabalhos
que retratem o momento atual do seu trabalho.
Também publico cartuns no Pato
de Laranja e, esporadicamente, no Charge Online. E estou
à procura de algum veículo impresso.
UHQ: O cenário baiano dos quadrinhos e do humor de traço anda muito
parado. A que você atribui isso?
Minêu: Apenas um dos três jornais impressos baianos publica
charges, e acho que atualmente poucas pessoas daqui participam de salões
de humor. De nome, conheço uns seis (Cau Gómez, Simanca, Nildão, Flávio
Luiz, Hector Sallas, Paulo Emmanuel), todos muito premiados, respeitados
internacionalmente e com bastante experiência de mercado. Mas acho que
a Bahia é uma terra cheia de talentos. E gostaria que acontecessem eventos
como um salão de humor, exposições. Gostaria que a classe se unisse. Em
Pernambuco, por exemplo, existe a Acape, que é a associação de
cartunistas de lá. No Rio Grande do Sul tem a Grafar, o Vagão
do Humor, gente preocupada em articular algo, em valorizar a área.
Gostaria que a área fosse unida, que articulassem eventos, para valorizar
a profissão. Vejo muitos cartunistas em potencial que optam por trabalhar
com publicidade por não acreditar no seu trabalho como cartunista. E,
pra agravar a situação, o mercado publicitário, editorial e jornalístico
baiano também não é valorizado... Isso faz com que muitas pessoas não
tirem suas idéias da gaveta e acabem optando em fazer outra coisa.
Claro que há exceções. Aqui na Bahia existe o estúdio do Cedraz e tiras
como Fala Menino. Mas são casos isolados. E que ao não se unir e procurar
algum tipo de articulação ou inovação, não conseguem ir muito além das
fronteiras soteropolitanas. Mas talvez isso já seja muito, considerando
o atual momento do mercado de quadrinhos, com a massificação dos mangás
japoneses e a banalização dos quadrinhos americanos, que concorrem de
forma desleal com muitos projetos brasileiros de qualidade (que infelizmente
não encontram uma base de sustentação). O que quero dizer é que se é complicado
para editoras do eixo Rio-São Paulo, onde existem pessoas extremamente
engajadas, aqui na Bahia a situação se agrava.
UHQ: Você está desenvolvendo algum projeto na área de charges?
Minêu: Tenho contato com alguns cartunistas de outros estados.
Penso em fazer algumas parcerias, principalmente no tocante a tiras e
histórias em quadrinhos, pois não tenho saco para ficar desenhando muita
coisa, prefiro escrever. Também estou organizando um portfólio e pretendo
entrar em contato com alguns periódicos para tentar publicar charges ou
cartuns.
Para entrar em contato com Minêu: rodrigo_mineu@yahoo.com.br.