Faleceu Milson Henriques, criador da personagem Marly
Ano triste para os quadrinhos nacionais.
Na semana passada, faleceu Rodolfo Zalla. Na madrugada deste sábado, 25 de junho, faleceu o capixaba Milson Henriques, criador da personagem Marly, que foi publicada com sucesso em diversos Estados do Brasil em tiras de jornal.
O embrião para a criação de Marly veio em 1972, quando o diretor de um jornal desafiou Milson a criar um personagem que fosse tipicamente capixaba, para sair em tiras diárias. A primeira tentativa surgiu com o papagaio Edilberto, cuja profissão era vereador. Mas, em plena ditadura militar, e como o autor já havia sido preso por suas ideias, chegou a conclusão de que não daria certo. Solicitaram, então, uma criação que não tivesse nenhuma relação com a política.
Foi quando nasceu Marly, uma solteirona frustrada, que vive ao telefone com uma amiga de nome Creuzodete, falando mal de tudo e de todos, principalmente de quem consegue ser feliz.
Inicialmente, era publicada somente em Vitória. Por isso, as brincadeiras com personagens locais fizeram muito sucesso. Em 1973, foi lançado o Almanaque da Marly, recolhido e incinerado pela Policia Federal. Foi quando o editor da Patota (editora Artenova) convidou Milson para colocar sua "cria" na publicação – ele participou dessa revista de coletânea de tiras e também da Eureka, da editora Vecchi.
Ao mesmo tempo, a editora carioca Ecab fez um contrato para distribuir a personagem nacionalmente, e Marly chegou a ser publicada em 11 estados. Com isso, o tom central das piadas mudou um pouco, passando da fofoca pura e simples para a desesperada carência por homens.
Dentre as proezas da personagem, já foi capa de cardápio de restaurante em Manaus, tema de escola de samba e virou até boneca de pano.
Em 1983, Milson parou com Marly. E voltou com a personagem em 1992, quando escreveu uma peça de teatro chamada Hello, Creuzodete!, retomando também as tiras de jornal, com o intuito principal de promover o espetáculo – e continuou com as tiras até os dias de hoje!
Milson também escreveu com sucesso peças de teatro, livros (publicou recentemente um livro infantil), poesia, charges, além de ter trabalhado como professor e cantor. Como ele mesmo se definia, em conversa por telefone com o autor desta nota, era um artista multimídia.
Milson Henriques nasceu em São João da Barra, no Rio de Janeiro, em 1938. Chegou ao Espírito Santo em 1964 e não saiu mais de lá. Ele batalhava contra a leucemia e faleceu aos 78 anos, no Hospital das Clinicas, em Vitória.
Amplie as imagens e confira algumas tiras de Marly publicadas na revista Patota.
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