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Faleceu, aos 92 anos de idade, o mestre dos quadrinhos nacionais Ignácio Justo

18 agosto 2024

Benedicto Ignácio Justo de Siqueira, conhecido como Ignácio Justo, faleceu na data de hoje aos 92 anos de idade. Ele foi um artista prolífico com importante trajetória na história dos quadrinhos brasileiros, como autor e professor.

Apaixonado por quadrinhos desde pequeno, inspirou-se nos heróis da época, entre eles Principe Valente e Flash Gordon, para com apenas 10 anos de idade ter uma HQ publicada nos jornais. Foi no Suplemento Juvenil do editor Adolfo Aizen (criador da Ebal), com o título As Aventuras de Paulinho.

Aos 18 anos ingressou no Exército, chegando ao posto de Segundo Tenente. Depois, se tornou piloto de pequenos aviões. Porém, apaixonado desde sempre por quadrinhos, decidiu que iria trabalhar na área, e apresentou seu trabalho para as editoras da época.

Apoiado por Nico Rosso, outro mestre dos quadrinhos nacionais, publicou seus primeiros trabalhos na Editora Continental. A partir de então, não parou mais, desenhando HQs de terror, suspense, espionagem e guerra, sendo esse último o gênero que mais gostava e no qual faria a maior parte de sua produção.

Mas não só como autor: em paralelo, ele montaria uma pequena escola informal de quadrinhos, o “Barraco do Justo”, e formaria inúmeros artistas, como Pedro Mauro, Aparecido Cocolete, Ailton Elias, Wanderley Felipe e Tony Fernandes, entre outros.

Pedro Mauro (Trilogia Gatilho, Adam Wild, Batman) falou sobre essa época ao Universo HQ: “Conheci o Justo quando eu tinha entre 16 e 17 anos. Vim do interior e trouxe uma pasta com meus trabalhos até então. Ele me recebeu muito bem e disse que eu teria que trabalhar primeiramente anatomia e figura humana para entrar no ramo de HQs. Fui aprendendo com ele, inclusive como assistente. Inácio já publicava e a gente, aluno, observava. Depois comecei a ajudar no lápis, com quadrinhos de guerra. Ele era um grande conhecedor quando se tratava de guerra, dos aviões da 2ª Guerra Mundial, tanques, tinha miniaturas, ele montava. E desenhava com maestria. Também nos levava para conhecer as editoras, nos apresentava. E não cobrava nada. Isso quando não nos convidava para jantar em sua casa”, conta Pedro.

“Eu digo que devo minha carreira a ele, como quadrinhista e desenhista. Em uma mostra de caubóis, pediram que eu fizesse um trabalho e foi publicado. Então, fiz por quase um ano e meio HQs e capas do gênero - nessa época se vendia bem HQs de guerra e faroeste. Depois, veio uma crise no mercado de quadrinhos e saí, fui para a publicidade. Mas foi com o Justo que eu aprendi a fazer quadrinhos, com muita dedicação. Eram noites seguidas desenhando. E outros que passaram ali viraram profissionais, encaminhados por ele, como quadrinhistas ou ilustradores. Foi uma grande figura, professor, profissional e amigo. Eu estava sempre encontrando com ele. Justo trabalhou muito bem com gêneros diferentes, guerra, terror. Sempre falo dele nas minhas entrevistas e agradeço. Ignácio Justo tinha um grande coração; ele, a esposa, toda a família. A gente sente muito a perda”, finalizou.

Justo também publicou seus trabalhos em outras editoras, como Edrel, Editora Abril, GEP, Minami & Cunha e Pan Juvenil. No gênero guerra, entre outras, participou da revista em quadrinhos Combate, famosa na época  No terror, chamou atenção com a Múmia, quadrinho em parceria com Gedeone Malagola.

Em 2006, ele recebeu o prêmio de Grande Mestre do Troféu HQMix. Em 2023, a Editora Criativo lançou a biografia Ignácio Justo – Pilotando Quadrinhos, contando a trajetória de vida desse importante artista do traço.

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