Faleceu Jacques Martin, o criador de Alix
Jacques Martin, desenhista francês criador da série Alix e colaborador de Hergé durante décadas, faleceu no dia 21 de janeiro de 2010, aos 88 anos de idade. Ele morreu dormindo, vítima de um edema pulmonar. O anúncio foi feito pela editora Casterman.
Martin nasceu em Estrasburgo, na França, no dia 25 de setembro de 1921. O artista não conheceu seu pai e foi abandonado pela mãe num pensionato. Seus estudos foram realizados na École Catholique d'Arts et Métiers, de Erquelinnes, na Bélgica. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi forçado a permanecer por um tempo na Alemanha, trabalhando na fábrica de aviões de combate Messerschmitt, em Augsburg.
Em 1942, começou a produzir suas primeiras HQs (Aventures du Jeune Toddy, com o pseudônimo de Jam). Depois da Segunda Guerra, viajou para Bruxelas, cidade já considerada um grande centro de quadrinhos, em busca de um editor para seus trabalhos, que começaram a ser publicados em 1946, ano no qual surgiu a revista Le Journal de Tintin. Durante um ano, ele fez uma parceria com Henri Leblicq e, juntos, assinaram algumas HQs com o pseudônimo de Marleb.
Foi nessa época que Martin conheceu Hergé, o criador de Tintim, e passou a colaborar com seu estúdio, ao lado de Edgar P. Jacobs, Bob de Moor e Willy Vandersteen. Eles são considerados os cinco grandes mestres da Linha Clara.
Martin trabalhou no Estúdio Hergé por 19 anos. Seu trabalho foi particularmente importante nos álbuns Tintim no Tibet e Perdidos no Mar.
Em 1948, ele começou a publicação de Alix, no Le Journal de Tintin, escrevendo e desenhando, sozinho, 20 álbuns da série. Em 1998, passou a colaborar com outros artistas, como Rafael Moralès, Marc Henniquiau, Cédric Hervan e Christophe Simon. Nessa fase, foram produzidos mais oito álbuns.
Em 1996, começaram a ser publicadas As Viagens de Alix, série de 26 álbuns ilustrados no estilo de Martin e inspirados em suas histórias, mas cujo propósito era aprofundar o conhecimento sobre história e geografia de culturas antigas. Alix é um garoto gaulês adotado por um romano durante os tempos de Júlio César, mas que vive no Egito.
Outro personagem importante de Martin é Guy Lefranc, um jornalista aventureiro. Sua primeira história, La grande menace, surgiu em 1954, nas páginas do Le Journal de Tintin. A série tem 19 volumes publicados, mas apenas os três primeiros foram desenhados por Martin. Depois, ele se dedicou aos roteiros e deixou a arte para Bob DeMoor, Gilles Chaillet, Christophe Simon, Francis Carin e Didier Desmit - a partir de 2006, passou a ser escrita e ilustrada por outros autores, com pouca intervenção de seu criador.
Apaixonado pelos personagens históricos, Martin criou Jhen, em 1978. O personagem inicialmente se chamava Xen, mas mudou de nome após dois episódios. Jhen, um arquiteto medieval (mestre escultor e pintor) que percorre a França durante a Guerra dos 100 Anos, foi criado junto com o desenhista Jean Pleyers, que se encarregou da arte até 2004, quando Bernard Capo assumiu os desenhos.
Em 1978, Martin ganhou o prêmio Alfred, no Festival de Angoulême, por seu trabalho como desenhista realista na série Alix.
Os álbuns do desenhista já foram traduzidos para mais de dez idiomas e venderam 15 milhões de exemplares.
Uma doença degenerativa ocular o impediu de desenhar por volta de 1992. Desde então, ele vinha perdendo gradativamente a visão, quase chegando à cegueira. Apesar disso, continuou escrevendo e criando novos projetos até perto de sua morte.
Martin era casado com Monique Martin e deixou os filhos Fréderique e Bruno.
Frédéric Mitterrand, sobrinho do ex-presidente François Mitterand e atual ministro da cultura da França, prestou uma homenagem a Jacques Martin, num texto cheio de elogios, no qual o chamou de "Inventor da HQ histórica".