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Valerian, arte de Jean-Claude Mézières
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Faleceu o desenhista francês Jean-Claude Mézières, um dos criadores de Valerian

24 janeiro 2022

Jean-Claude Mézières, desenhista francês cocriador de Valerian e Laureline (junto com seu amigo Pierre Christin), faleceu no dia 22 de janeiro, em Paris, aos 83 anos. O óbito foi informado pela editora Dargaud.

Nascido a 23 de setembro de 1938, no subúrbio de Saint-Mandé, em Paris, Jean-Claude Mézières conheceu Pierre Christin na infância. As famílias dos dois se refugiaram no mesmo abrigo durante o bombardeio alemão à cidade, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.

A inspiração para trabalhar com arte e quadrinhos veio de seu irmão mais velho, que com 14 anos publicou um desenho na revista OK.

Sua inspiração inicial foram séries como Arys Buck, de Uderzo; Kaza le Martien, de Kline; e Crochemaille, de Erik. Depois vieram Tintim, Spirou e Fantasio e Lucky Luke.

Publicou seus desenhos pela primeira vez em 1951, na revista Le journal des jeunes, do grupo Le Figaro. Em 1953, passou a cursar o Instituto de Artes Aplicadas, em Paris. Foram seus colegas de classe Patrick (Pat) Mallet e Jean “Moebius” Giraud.

Mézières e Giraud se tornaram grandes amigos e trabalharam juntos na produção do filme O Quinto Elemento, de Luc Besson, fortemente inspirado nas HQs de ambos. Durante esse período de estudos, publicou trabalhos nas revistas Coeurs Valliants, Fripounet et Marisette e Spirou.

Após a escola de artes, Mézières serviu no exército por 28 meses, e por um tempo esteve locado na Tiemcen, na Argélia, durante a guerra colonial francesa naquele país (1954-1962).

De volta à França, ele fez ilustrações para a série de livros História das Civilizações, da editora Hachette. Em parceria com Benoît Gillain, filho do desenhista Jijé - que lhe foi apresentado por Moebius, e que na época era assistente de Jijé -, Mézières criou um estúdio de publicidade. Ele era multitarefas. Além do desenho, também serviu de modelo, foi fotógrafo e designer gráfico.

Jean-Claude Mézières

O trabalho ficou em segundo plano em 1965, quando fez uma grande viagem aos Estados Unidos. Passou por Nova York e foi de carona para o oeste, passando por Seattle e Montana até chegar em São Francisco. Teve alguns problemas com a imigração e foi para Salt Lake City, onde fez algumas ilustrações.

Depois conseguiu trabalhar num rancho, como um verdadeiro caubói, realizando um sonho de infância. No inverno, desempregado, fez uma HQ de seis páginas chamada Le Rhum du Punch e enviou uma cópia para Moebius.

Moebius, que estava desenhando Blueberry para a revista Pilote, mostrou o trabalho para René Goscinny, o pai de Asterix e editor da publicação, que concordou em publicá-lo. A HQ saiu na Pilote # 335, em 24 de março de 1966.

Na América conheceu Linda, com quem se casaria mais tarde. Mézières retorna à França e continuou a sua colaboração com a Pilote, fazendo trabalhos em parceria com Fred (Frédéric Othon Théodore Aristidès).

Numa conversa com o amigo Christin, os dois decidem criar uma HQ de ficção científica juntos, uma área pouca explorada até então pelos desenhistas franco-belgas.

Fonte de inspiração para numerosos autores de todo o mundo, Mézières teve uma preferência pela ficção científica, tendo trabalhado na ilustração, publicidade, fotografia, cinema e televisão.

A editora sublinhou a “exigência, energia, forte personalidade, gentileza, simplicidade, alegria de viver e curiosidade” de Mézières, que fizeram dele “um ser precioso”, nesta colaboração de longa data com Pierre Christin, que viria a incluir ainda Évelyne Tranlé.

Valérian e Laureline, agentes espaçotemporal, surgiram em 9 de novembro de1967, na Pilote # 420, na HQ Les Mauvais Rêves, com texto de Christin e arte de Mézières. Évelyne Tranlé, irmã de Mézières, se juntou ao grupo como colorista da série.

O trabalho de Tranlé foi merecedor de um documentário, Les Couleurs de la page 52, de Avril Tembouret, lançado em 2016.

As aventuras de Valérian e Laureline saíram em mais de 25 álbuns, que influenciaram centenas de escritores, artistas e cineastas do mundo todo. Em 2007, a dupla de aventureiros espaçotemporais ganhou uma série de animação na TV francesa.

Os personagens chegaram aos cinemas numa adaptação de Luc Besson, em 2017, com o filme Valerian e a Cidade dos Mil Planetas.

No Brasil, o personagem estreou em O Globinho Supercolorido. Recentemente, a editora SESI-SP publicou cinco volume de Valérian Integral, e prometeu continuar com os dois volumes faltantes.

Mézières e Christin ganharam o Grand Prix de Angoulême em 1984, por seu trabalho com Valérian. Mézières também foi premiado em Portugal e na Alemanha.

Além de seu trabalho com quadrinhos e ilustrações, ele também tem diversas passagens pelo cinema e pela TV, como Billet Doux e Hard to be a God. Muitos dos seus trabalhos para o cinema foram publicados dois volumes de Les Extras de Mézières.

Após o lançamento de Star Wars, em 1977, Mézières e Christin reclamaram de dezenas de similaridades entre a trama e os elementos visuais da trilogia de George Lucas, fato que também foi observado por Kim Thompson, Jean-Philippe Guerand e a equipe do jornal Libération. Ele chegou até a fazer um desenho, publicado em 1983 na Pilote, no qual Luke e Leia se encontram com Valérian e Laureline num bar. Interpelados por Leia (Vocês por aqui?), Laureline responde: Estamos aqui faz tempo.

Mézières sem dúvida está no panteão dos grandes mestres das HQs do mundo.

 

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