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Notícias

Faleceu o quadrinhista brasileiro Oscar Kern

14 janeiro 2008

Oscar KernUm
dos maiores conhecedores, defensores e reconhecidamente batalhadores dos
quadrinhos brasileiros encerrou sua longa história. Na tarde do último
dia 12 de janeiro, faleceu em Porto Alegre/RS o quadrinhista gaúcho Oscar
Kern.

Nascido em setembro de 1935, na cidade de Taquara/RS, Kern foi roteirista
dos gibis Disney da Editora Abril, nos primeiros anos da
década de 1970.

O período curto foi suficiente para marcar seu nome entre os fãs da turma
de Patópolis, escrevendo histórias (algumas delas publicadas em outros
países) do Zé Carioca, Tio Patinhas, Pateta, Morcego Vermelho, Peninha
e outros, além de criar personagens como o Senhor X e seus asseclas e
o astronauta do planeta Tucânia.

Em 1972, lançou o fanzine Historieta,
um dos mais conhecidos e importantes da história dos quadrinhos nacionais
e cuja última edição foi lançada em 2003. Nessa publicação, pela qual
passaram nomes hoje consagrados no mercado nacional, como Mozart Couto,
Emir Ribeiro, Mike Deodato e Renato Canini, ele também escreveu diversas
aventuras.

Historieta
Apesar de militante inveterado dos quadrinhos brasileiros, Kern não fazia
distinção de nacionalidades. Gostava de ler bons gibis, independentemente
de que país os produziu. Assim como lia de Machado de Assis a Mark Twain,
nas HQs passava de Jayme Cortez a Alan Moore e acompanhava os personagens
Marvel, DC e, claro, Disney.

Para quem o conheceu, mesmo mantendo contato a uma grande distância, diminuída
pelas vantagens da internet, é uma tarefa difícil escrever sobre sua partida
com palavras meramente informativas. Homenageá-lo como a pessoa alegre,
simpática e gentil que foi é mais do que uma obrigação moral, diriam muitos,
mas também uma necessidade criada pelo sentimento de perda entre os que
tiveram o privilégio de aprender, se divertir, ouvir e ser ouvido por
ele.

Six e os Agentes X
Figura presente em diversas listas de discussão sobre quadrinhos dos mais
variados estilos, Kern impressionava tanto pelo conhecimento da história
antiga dos gibis (principalmente dos publicados no Brasil) como pela paixão
incondicional que não escondia nutrir pela nona arte. Era como se as décadas
houvessem marcado apenas seu corpo e deixado intocado o espírito que permanecia
criança e aflorava sempre que falava sobre HQs.

Essa alma de fã o moveu em todos os seus trabalhos. Afinal, como funcionário
público da Previdência Social desde os 16 anos, até se aposentar, ele
nunca precisou fazer das HQs um meio de sobrevivência, o que não lhe impedia
de levantar a bandeira da valorização dos quadrinhos nacionais e do reconhecimento
aos artista brasileiros.

Amante dos fumetti da Sergio Bonelli Editore, ele concedeu
a última entrevista de sua vida ao Blog
do Tex
, de Portugal, publicada exatamente no dia de seu falecimento
e sob autorização da família. Entrevistado por José Carlos Francisco,
o artista falou sobre sua paixão pelas aventuras do ranger Tex,
do qual colecionava gibis, e sobre os quadrinhos de faroeste.

Oscar Kern
"Não o conheci pessoalmente, mas, de tanto trocar e-mails com ele, eu
o tinha em consideração como se fosse meu pai", disse José Ricardo, criador
do Grupo BonelliHQ e do Blog
do Zagor
, ambos do Brasil. "Recebi dele duas plaquinhas de metal
com capas das revistas do Zagor. Troquei por alguns números de Martin
Mystère
, série da qual ele era fã número um", concluiu.

"Perdemos um grande amigo que enfeitou de maneira singular muitos dos
meus dias de outrora", afirmou Edílson Souza, integrante da lista Classics
Disney
, da qual Kern também participava.

Em comentário no Blog do Tex, o português Pedro Bouça exprimiu
o que Oscar Kern era pessoal e profissionalmente. "Quando pequeno, li
uma HQ Disney em que a turma de Patópolis era encolhida por um
gás alienígena e precisava lutar com formigas para sobreviver. Uma história
relativamente longa (16 páginas) e de qualidade rara nos quadrinhos Disney,
que permaneceu em minha memória mesmo após eu ter esquecido de 90% do
que tinha lido naquele tempo. Anos depois, conheci o Oscar via internet
e tive a grande surpresa de descobrir que fora ele o anônimo escritor
dessa história, cuja qualidade eu nunca cansei de celebrar. Agora, lamento
nunca ter tido a oportunidade de me encontrar pessoalmente com ele. Ou
mesmo de não ter mantido mais contato com esse homem que, apesar da distância
e do relativamente pouco contato, eu tive o orgulho de chamar de amigo".


Por essas e muitas outras, a repercussão da partida de Kern foi imediata
e os depoimentos de pesar que já se espalham na internet brasileira mostram
que o legado do artista transcendeu sua importância na atuação e luta
em favor dos quadrinhos nacionais e atingiu o conceito pleno de amizade,
amplamente cultivada entre fãs e profissionais da área.

A pedido do Universo HQ - onde Oscar Kern foi várias vezes citado
ou tema de matéria e para o qual também forneceu preciosas informações
para alguns textos -, o quadrinhista Disney Fernando
Ventura
concebeu uma ilustração (ao lado) que, por meio da tristeza
de alguns dos personagens da Turma de Patópolis (criados ou não pelo saudoso
artista, mas com os quais ele já trabalhou), simboliza o pesar dos fãs,
amigos e admiradores.

Oscar Christiano Kern foi vitimado por um ataque cardíaco, aos 72 anos
de idade. Ele deixou esposa e quatro filhos.

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