Fantasma, o último romântico
Sucesso na Escandinávia, Itália, popular no Brasil (entre as décadas de
1940 e 1970) e, principalmente, na Oceania, o Fantasma chega à sétima
década de vida como uma verdadeira relíquia de um mundo que não existe
mais, mas que persiste no imaginário ocidental.
O gênio de Lee Falk é atestado pela criação de um personagem de certa
forma simples e, digamos, "clássico". O primeiro dado é o cenário das
aventuras de seu herói: a mítica selva, entre ficcionais Índia e África.
Nos anos 30, viagens ao continente negro e às terras de Gunga Din, eram
verdadeiras aventuras por territórios habitados por fauna e flora exóticas,
e de grande diversidade étnica e cultural.
Tanta distância, associada ao "natural" etnocentrismo ocidental, tornou
o Espírito-que-anda o personagem ideal para levar os leitores a imaginar,
mais uma vez, o quão importante é o papel civilizante desempenhado pelo
homem branco em terras habitadas por rajás, sultões, canibais de hábitos
e costumes cruéis, além dos homens do Ocidente "seduzidos e corrompidos
pelo Oriente".
Do antigo império colonial britânico ficaram as roupas e o gosto pela
aventura. Falk, atento ao sucesso de um outro herói branco das selvas,
Tarzan, deu ao seu soberano de Bangala o paradigmático perfil clássico:
como um Alexandre Magno do século XX, o Fantasma é o soberano promotor
da justiça amado pelo povo conquistado, o herdeiro de uma dinastia comprometida
com o combate à pirataria de bens matérias e vidas.
A terceira característica, talvez a mais importante, é de fundo romântico.
O Fantasma é um personagem misterioso, jamais é visto sem sua máscara
ou óculos escuros. Ele nunca revela sua face, pois tão importante quanto
a preservação da lenda é o poder de intimidação da persona.
De acordo com a lenda, o senhor das selvas não morre, há um Fantasma desde
o século XV. E o trabalho de manutenção do mito é feito por uma família
que há muitos anos educa seus herdeiros para atingirem o ápice da força
física, moral e capacidade intelectual.
O personagem, por ser criado na selva e educado mediante os desafios que
ela apresenta, ainda que realize os necessários estudos em centros urbanos
como Paris, Londres e Nova York, não se deixa corromper pelos "vícios"
da modernidade. Os filhos da dinastia Walker sempre voltam à Floresta
Negra.
Uma possível resposta à popularidade deste personagem
está associada à analise aqui feita. Lee Falk realizou, em sua época,
uma síntese entre o passado e o presente. Que esta combinação continue
a encantar leitores ao redor do mundo, em pleno século XX, não deve espantar
ninguém. Afinal, assim como Super-Homem, Tex Willer e Tio Patinhas, o
Fantasma e seus companheiros, Capeto e Herói, são personagens íntegros,
simples e pertencentes a um mundo ficcional sem grandes áreas cinzentas,
ou seja, onde o "bem" e o "mal" são facilmente reconhecidos.
Fernando Viti, assim como o Espírito-que-anda, ainda se considera um dos últimos românticos