Fernanda Chiella fala sobre estréia nos Estados Unidos
Gaúcha
radicada em Florianópolis, a quadrinhista Fernanda Chiella lança, na semana
que vem, sua primeira revista em quadrinhos (como o UHQ informou
no final
de julho) . Mas In Her Darkest Hour sai direto no mercado norte-americano
pelo selo Shadowline, da Image
Comics.
O trabalho da garota de 22 anos foi descoberto de uma forma inusitada:
o site de relacionamentos ComicSpace,
que tem foco nos quadrinhos.
Atolada de trabalho por conta da estréia, Fernanda concedeu uma entrevista
por e-mail ao Universo HQ.
Para demonstrar o tamanho do caos, Fernanda avisa antes de começar: "Reescrevi
algumas respostas várias vezes e usei uns três computadores diferentes
no processo, sendo que um deles não tinha acento".
Universo HQ: Você nunca publicou nada no Brasil, certo? E na matéria
publicada a seu respeito no Diário Catarinense, chega a dizer que é mais
difícil. Por quê?
Fernanda
Chiella: Acho que preciso tomar mais cuidado com o que digo (risos).
O que quis dizer é que o mercado americano tem mais estrutura pra quadrinhos
em geral, tanto pra produzir quanto pra consumir.
Mas, pra falar a verdade, nunca tentei publicar In Her Darkest Hour
aqui no Brasil oficialmente, pelo simples fato de não botar fé de que
daria certo! Tenho um envelope em algum lugar do meu quarto endereçado
pra Pixel, com a cópia da versão zine dentro, mas não cheguei a
enviar.
Quando entrei no Comicspace, não esperava que nada disso fosse
acontecer.
UHQ: Como começou a ler quadrinhos? E a fazer?
Chiella: Eu lia Disney quando criança. E tinha uma cópia
mal feita do Garfield, que contava o dia-a-dia da minha família e dos
gatos de estimação. Eu copiava Disney, depois o Akira Toriyama
dos encartes do Chrono Trigger, depois fotos de músicos de heavy
metal. Bela evolução... Ha, ha, ha!
Na adolescência, ia nas mostras de animê daqui de Floripa e depois participei
de alguns concursos como o Anime Friends. Foi nessa época que comecei
a fazer zines, mas acabei enjoando um bocado de mangá.
O que me fez gostar mesmo de HQ foram coisas como V de Vingança,
Sandman, e as graphic novels e quadrinhos autorais como
10 Pãezinhos, DEMO, Jennie One...
UHQ: Como surgiu In Her Darkest Hour?
Chiella: Eu tinha algumas idéias pro roteiro e comecei a fazer
a disciplina de Histórias em Quadrinhos na Universidade Federal de
Santa Catarina na época. Pensei que, como teria prazos e notas a cumprir,
ia ter um bom motivo pra fazer uma HQ de várias páginas sem desistir no
meio, o que já tinha acontecido algumas vezes...
Mas como isso já faz uns dois anos. O meu traço já tinha evoluído um pouco,
e acabei refazendo várias páginas pra publicar na Shadowline.
UHQ: Como foi o contato com a Shadowline? Você nunca viu os editores
pessoalmente?
Chiella: Bom, não, meu jatinho particular quebrou e não deu
pra ir para San Diego este ano... He, he, he. O primeiro contato foi pelo
ComicSpace. O Jimmie Robinson (Bomb Queen) viu minha página
lá e mostrou pro pessoal da Shadowline. O Jim (Valentino) e a Kris
(Simon) são muito figuras, e todos os outros artistas que publicam na
editora se comunicam pelos fóruns no site da Image e no Kris-Korner.
Ultimamente, não tive muito tempo pra gastar lá, mas seria jóia conhecer
aquele pessoal um dia.
UHQ: O contrato é legal? Prevê alguma coisa bacana, como novas HQs?
Chiella: Não dá pra falar nada oficialmente ainda, mas existe
a possibilidade de eu publicar mais trabalhos com eles, sim.
UHQ: Você usa bastante ferramentas de internet pra divulgar o trabalho.
Como se relaciona com a grande rede?
Chiella: Mais do que eu deveria, provavelmente. Na verdade,
ser nerd nesse caso acabou sendo útil. Mesmo as comunidades que
parecem mais fúteis, como Fotolog e Orkut, acabam se tornando
ferramentas se você tem algo pra mostrar, além de fotos egocêntricas e
correntes de spam.
O ComicSpace mesmo foi a idéia mais legal que já vi, porque lá
a sua popularidade é medida justamente pela qualidade do seu trabalho,
e não pela sua fuça.
UHQ: E os fãs? Já fizeram pedidos de casamento e coisas assim? Afinal,
HQs ainda são, infelizmente, um terreno bem masculino...
Chiella: He, já rendeu uma historia bem curiosa. Mas acho que
vou deixar pra contar em uma HQ um dia. Quem sabe.