Frank Miller fala sobre novo Cavaleiro das Trevas e avisa: "Quem se ofende com política nos quadrinhos são aqueles que deveriam se sentir ofendidos"
Frank Miller está de volta ao Brasil pela terceira vez para participar da CCXP e, desta vez, com uma novidade. O novo capítulo da saga Cavaleiro das Trevas está prestes a ser lançado pela DC Comics com a edição especial Dark Knight Returns - The Golden Child, que conta com desenhos do brasileiro Rafael Grampá.
A história se passa três anos após os eventos de Cavaleiro das Trevas III - A Raça Superior. Lara passou o tempo aprendendo mais a ser humana e Carrie Kelley evoluiu no seu papel como Batwoman. Mas um terrível mal retornou a Gotham City, e as duas precisarão se unir para impedir a ameaça. E elas têm uma arma secreta. O jovem Jonathan Kent tem um poder dentro de si como nunca antes visto, e chegou a hora de liberá-lo.
Miller e Grampá se conheceram em um jantar, e a parceria começou a evoluir a partir daí até ser concretizada no novo projeto. "Jamais pensei que ele veria um trabalho meu, ainda mais fazermos algo juntos. É uma honra. Eu sou um fã, e fui muito influenciado por ele. Quis fazer quadrinhos por causa dele", disse Rafael.
"O que eu mais busco na arte que eu gosto e em futuras parcerias é uma voz única. Olhos que enxerguem coisas diferentes. Eu vejo isso no Rafael. Existe uma exuberância na obra dele. Um bom artista precisa ser generoso, e ele é assim", elogiou Miller.
Grampá analisou a evolução da saga até este momento. "Tendo desenhado The Golden Child e visto como Frank trabalhou a Carrie em toda a saga, sinto que essa saga é na verdade sobre a Carrie. Estamos contando a saga de uma personagem tão grande quanto o Batman. É melhor que o Batman, pois o Batman virou super-herói por causa de um trauma, a Carrie quis ser uma super-heroína. Então me parece que Frank pensou nisso desde o início, e essa história está se renovando e tem muito mais para vir por aí".
Miller completou. "Carrie realmente é a reviravolta final da trama. Ela continua o legado e não traz consigo a bagagem de raiva que o Batman tem. Durante toda a sua vida, Bruce sempre foi a pessoa mais inteligente do lugar, mas isso não é mais verdade. Se só tivermos histórias de homens se digladiando estamos perdendo mais da metade da diversão".
Para o artista brasileiro, trabalhar com o Batman é uma realização profissional. "Eu tenho uma grande obsessão pelo personagem. Eu amo o Batman, o primeiro desenho que fiz foi dele. O Batman ainda é um personagem muito misterioso pra mim, tenho muitas perguntas sobre ele, e isso me deixa completamente hipnotizado por ele. Comecei a gostar do Batman com os desenhos animados, mas o que me fez querer fazer quadrinhos foi uma capa que o Frank Miller desenhou, no segundo volume de Cavaleiro das Trevas, com o herói dominando a capa inteira e todo machucado. Ali está o DNA do Batman pra mim".
Desde a minissérie original de 1986, o clássico Batman - O Cavaleiro das Trevas, a saga apresenta alegorias políticas. Frank Miller também tocou neste assunto.
"Uma boa história é uma boa história, independente de como você conta ela. Cavaleiro das Trevas sempre brincou com política, isso sempre foi uma temática, desde os tempos de Ronald Reagan (40º presidente dos Estados Unidos e o que estava no governo na época da primeira minissérie). Isso é parte da história. É política. É uma paródia política, e me divirto com isso", analisou o quadrinhista.
"Quem se ofende com política nos quadrinhos são justamente aqueles que deveriam se sentir ofendidos", afirmou Miller.
Foram 15 anos entre Cavaleiro das Trevas 1 e 2. Depois, passaram-se outros 14 anos até Cavaleiro das Trevas 3. Agora, quatro anos para The Golden Child. Por que retornar a uma obra considerada tão emblemática e fazer continuações? "Quando concebi a história original, terminaria com ele morrendo. Tive que brigar com os editores para conseguir este final. Mas acabou que eu mesmo mudei de ideia", revela.
"A DC tinha comprado a ideia, mas quando chegou no final eu achei que não deveria terminar daquela forma. Ele não ia morrer, mas seria o final da saga. Segui em frente com outros projetos, mas o velho continuou me incomodando, me trazendo de volta", brincou. "O universo se expandiu. Incríveis talentos se envolveram e coisas novas foram surgindo. O que estamos fazendo agora é um movimento de pegar um pedaço dessa história e explorá-la, sem trazer todos os outros personagens junto. Não precisamos de um épico de 500 páginas. Isso abre muitas possibilidades e permite muita liberdade para explorarmos de maneira menos rígida".
Sobre de onde vem sua inspiração, ele foi enfático. "Tudo. Não há fim ao que pode me inspirar. A vida. A realidade no geral, filmes, livros, quadrinhos do mundo inteiro. Quando viajo, sempre volto com a mala cheia de quadrinhos desses lugares. Temos mais talentos hoje em dia do que tínhamos no passado. Muita inspiração, mas também muita competição".