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Fredric Wertham manipulou dados do livro Sedução do Inocente

20 fevereiro 2013

A professora doutora Carol L. Tilley, da University of Illinois Graduate School of Library and Information Science, afirma que o psiquiatra Fredric Wertham manipulou os dados usados no livro A Sedução do Inocente.

Num artigo publicado no Information & Culture: A Journal of History, Tilley revela que Wertham modificou os dados obtidos em seus estudos para escrever o livro, como, por exemplo, a idade das crianças, a omissão de fatores mitigantes e a distorção de citações.

Em 1954, Wertham foi chamado para depor sobre delinquência juvenil, na subcomissão do senado dos Estados Unidos, justamente em virtude dos "méritos" do livro Sedução do Inocente. O resultado direto da investigação foi a criação do Comic Code Authority, o código de censura dos quadrinhos e a falência da E.C. Comics, na época a mais relevante editora de quadrinhos dos Estados Unidos, especializada em histórias policiais e de terror.

A pesquisa de Tilley foi iniciada com um propósito diferente. Quando os arquivos pessoais do psiquiatra - que faleceu em 1981 -, preservados na Biblioteca do Congresso, foram colocados à disposição do público, em 2010, ela buscava saber se Wertham havia trocado correspondência com bibliotecas e bibliotecários naquele período. O que ela descobriu, entretanto, foi a manipulação sistemática das entrevistas e de outros dados usados no preparo do livro.

Em Sedução do Inocente, Wertham diz que recebeu um grande volume de cartas, enviadas por bibliotecários, reclamando dos quadrinhos. Em sua pesquisa, Tilley encontrou apenas uma dúzia - se tantas - de cartas. Esse é apenas um dos exageros cometidos pelo médico. Ele tinha uma clínica de baixo custo, no Harlem, em Nova York, na qual diz ter atendido milhares de jovens problemáticos, mas na realidade esse número está na casa das centenas.

Carol L. TilleySedução do Inocente

Segundo Tilley, o livro possui péssima documentação. Não existem citações diretas ou bibliografia. Não há meios exatos de saber quais as bases dos fatos relatados ou das pessoas mencionadas. Quando tentou corroborar as informações publicadas com as entrevistas com os pacientes, ela encontrou dezenas de distorções, omissões e até mesmo invenções por parte de Wertham.

Segundo Wertham, o garoto Edward, de sete anos, passou a ter pesadelos após ler a revista The Blue Bettle (título do personagem original, da Fox Comics, que vendeu os direitos do herói para a Charlton Comics em meados da década de 1950, muito antes de o Besouro Azul fazer parte da DC Comics), sobre um herói que se transformava em um besouro, e sugere que a história é "Kafka para crianças".

Tilley encontrou as anotações sobre Edward, na qual o médico escreveu que o menino não se lembrava do conteúdo dos pesadelos. Além disso, o Besouro Azul não se transforma literalmente num inseto.

Sobre Batman e Robin, Wertham diz que eles representam os desejos de dois homossexuais vivendo juntos, atribuindo a citação a um jovem de 13 anos, em liberdade temporária, recebendo tratamento psiquiátrico por ter abusado sexualmente de outro menino, que se imaginava como o "Robin", e que queria ter relações com o "Batman".

A pesquisa de Tilley revelou que o garoto preferia ler Superman, Crime Does Not Pay (famosa revista de HQs policiais) e histórias de guerra, muito mais do que Batman. Além disso, ele omitiu o fato de que o garoto havia sido atacado sexualmente anteriormente.

Em alguns casos, Wertham menciona jovens que ele não tratou, como a garota Dorothy, de 13 anos, que era paciente da Dra. Hilde Mosse.

Fredric Wertham Comics Code Authority

A verdade é que Wertham modificou palavras, datas, citações e muitos outros fatos, embora algumas citações tenham sido transcritas na íntegra, para comprovar as suas teorias.

Tilley afirma que existem lições sobre o caso Wertham relativas ao funcionamento do que chamou de pânico cultural de massa. Ela publicará sua pesquisa numa edição futura do Journal of Research on Libraries and Young Adults. Ainda sobre o psiquiatra, Tilley diz que, embora ele tenha distorcido os fatos para suportar suas teorias, Wertham não deve ser transformado num grande vilão, pois existem muitas outras evidências de que o médico tinha boas intenções quanto aos jovens e seu empenho em atividades de assistência social.

Wertham não foi o causador da histeria contra os quadrinhos da década de 1950, mas é um dos mais notórios.

Para encerrar, a pesquisadora afirma que uma pesquisa feita em 1953, um ano antes da famigerada subcomissão do senado sobre delinquência juvenil, apontava que 90% das crianças e 80% dos adolescentes nos Estados Unidos liam quadrinhos. Os números mostram que a proporção entre as HQs produzidas e a população era de 6,5 revistas em quadrinhos vendidas por habitante.

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