O escritor Gerry Conway criticou fortemente a política de pagamentos da DC Comics, numa postagem realizada na rede social Tumblr.

Conway não mediu suas palavras e chamou a prática atual de "ofensiva e desprezível". Segundo ele, as mudanças ocorreram em 2009, após a saída de Paul Levitz, escritor que foi publisher da editora durante décadas.

Com as mudanças, alguns personagens ficaram sem autores, ao menos no que concerne ao pagamento de royalties aos artistas e escritores.

O sistema anterior, instituído por Levitz, chamado de creator equity participation plan (plano de participação equitativa dos autores), garantia que os autores receberiam alguma compensação, caso suas criações fossem utilizadas em outras mídias.

Sob a batuta de Levitz, essa política de pagamentos foi amplamente utilizada e os autores recebiam notificações e pagamentos sobre o uso de suas criações, em muitos casos até desconhecidos por eles.

Logo após a saída de Levitz, Conway recebeu uma carta assinada por Diane Nelson, atual presidente da DC Comics, informando que ele não receberia mais royalties pelo uso da Poderosa (Power Girl), pois ela passou a ser designada como uma personagem "derivada" (no caso em questão, da Supergirl).

A terminologia utilizada é a mesma usada na justiça nos processos sobre quem possui os direitos autorais de super-heróis, como Superman, Superboy etc.

Junto com a carta, Conway recebeu um cheque de mil dólares como prova da apreciação da editora por sua contribuição.

Para Conway, a proposta da DC Comics de que os personagens são "derivados" – e que por isso seus autores não têm o direito ao pagamento de royalties –, é imoral, antitética, enganosa e de uma ganância desprezível.

Além disso, outra mudança foi realizada no processo de pagamento feita pela DC Comics. Os autores têm que requisitar à editora a sua participação para cada personagem utilizado em outras mídias. No caso de Conway, ele estima que criou mais de 500 personagens.

Na prática, isso quase inviabiliza o processo dos royalties, uma vez que, além do tempo gasto pelos autores com essa burocracia, na maioria dos casos eles não são informados com antecedência sobre o uso dos personagens e só ficam sabendo após o ocorrido, muitas vezes em revistas especializadas ou até mesmo assistindo a filmes e seriados.

Como um exemplo prático, Conway citou a vilã Crystal Frost, a Nevasca (Killer Frost). Originalmente, ela foi criada por Gerry Conway e Al Milgrom, em Firestorm # 3, em 1978. Outras três versões da Nevasca surgiram: Louise Lincoln (de Gerry Conway e Rafael Kayanan), em 1984; Loren Fontier (de Gail Simone, Ethan Van Sciver e Yildiray Cinar); e Caitlin Snow (de Sterling Gates e Derlis Santacruz), em 2013.

A versão da vilã usada no seriado Flash é a última mencionada, mas, devido à prática atual da editora quanto aos royalties, nenhum dos autores citados acima está recebendo um centavo da editora.

Como a versão da TV é derivada da criação de Sterling Gates e Derlis Santacruz, nenhum dos outros autores pode receber os direitos de uso, mas o truque é que a personagem criada por eles é derivada do material original de Conway e, por isso, Gates e Santacruz também ficam de fora da jogada.

Além da situação tensa criada entre a editora e seus artistas e escritores, existe um problema de relações públicas e da imagem negativa da DC.

Esse tipo de atitude está no centro do problema que a editora tem com os autores, que continuam se afastando da empresa e buscando outras oportunidades. Isso se reflete nas vendas, com a Marvel no primeiro lugar, aumentando a distância para a DC e, ao mesmo tempo, diminuindo a faixa que a separa do terceiro colocado, a Image.

A DC ainda não se pronunciou publicamente em relação às declarações de Gerry Conway. Entretanto, a resposta dos leitores e de outros autores foi muito positiva, em apoio a Conway.