Gonçalo Junior comenta livro sobre a trajetória de Tex
O
Mocinho do Brasil - A história de um fenômeno editorial chamado Tex
(formato 16 x 23 cm, 208 páginas, R$ 39,90), do jornalista Gonçalo Junior
(A Guerra dos Gibis, O Homem-Abril), é um lançamento da Editora
Laços.
A obra mostra a trajetória de personagem em quase 40 anos de publicação
ininterrupta no País, depois de passar por quatro selos editoriais.
Fã do herói desde a infância, Gonçalo escreveu em 2002 o livro Tex
- Edição Comemorativa de Meio Século de Aventuras no Brasil, para
a editora Opera Graphica, com a trajetória editorial do herói,
no qual defendia que Tex não deveria ser desprezado pelo seu valor
como arte em quadrinhos.
Na época, porém, somente uma pequena parte do texto original da obra saiu,
uma vez que a prioridade do álbum era a republicação das primeiras histórias,
autorizada pelo editor italiano Sergio Bonelli.
Esta edição publica o livro integral, revisto e atualizado, numa edição
limitada de mil cópias. O volume traz um caderno de 32 páginas
em cores e papel especial com todas as capas da extinta revista Junior,
de Roberto Marinho, a primeira a a publicá-lo no Brasil, entre
1951 e 1957.
Para cada editora, o autor dedica um capítulo. Há ainda um estudo sobre
o mais famoso caso de plágio brasileiro do herói, a história do personagem
Chet e uma entrevista inédita e exclusiva com Bonelli.
O Universo HQ conversou com Gonçalo sobre a obra. Confira.
Universo HQ: Por que Tex faz sucesso há tanto tempo?
Gonçalo Junior: Por alguns motivos. O principal, acredito,
é o seu formato folhetinesco, com histórias longas, narrativas lentas
que prendem e instigam o leitor ao longo de 100, 200, 300 páginas. Dentro
dessa estrutura, muito comum nos heróis do cinema, dos pulps e dos quadrinhos
das décadas de 1930 a 1950, ele encarna o papel do mocinho justiceiro
num mundo em está subentendido a ausência do Estado por meio da lei. É
um universo de bárbaros, cruel, injusto, no qual a lei é ausente,
omissa. De certo modo, o leitor se sente justiçado, vingado, suprido em
sua necessidade e anseio de justiça.
Por outro lado, a inegável qualidade dos roteiros e dos desenhos, por
mais simplórios e repetitivos que sejam. Tudo é feito com muita competência.
Sergio Bonelli, nas últimas três décadas, mostrou-se um talentoso editor
para se reinventar e manter o personagem forte. Hoje, creio, é um ícone
da imprensa popular italiana, assim como no Brasil.
UHQ: O que o levou a escrever um livro sobre o personagem?
Gonçalo: O livro tem muito de pessoal, é uma declaração
de amor minha ao gênero faroeste, aos filmes de Sergio Leone, John Ford,
Clint Eastwood e Sidney Pollack. Cresci lendo Tex, Ken Parker e Zagor,
ao mesmo tempo que devorava super-heróis da Marvel. Nunca fui de
discriminar gênero algum. Aliás, quando era moleque, tinha uma garotinha
vizinha com grana que comprava muitos gibis de Luluzinha, Brotoeja, Tininha,
Riquinho, Mônica, Disney e Gato Felix. Ela me emprestava pilhas que eu
lia com grande prazer. Bolota era sensacional. Tex eu tenho do 1 ao 400
da primeira série, a segunda edição completa, assim como
a Edição Histórica e álbuns especiais, dezenas de exemplares de
Júnior, Ken Parker e todas as séries de Zagor.
Enfim, o livro nasceu do propósito provocativo de ir de encontro àqueles
que, com arrogância, costumam rotular e discriminar certos quadrinhos.
O preconceito e a intolerância a qualquer forma de arte (como o mangá),
para mim, revela muito do caráter das pessoas. Tex é uma sensacional
forma de diversão popular, dos quadrinhos como prazerosa leitura. O que
o diferencia da maioria dos grandes filmes de faroeste?
UHQ: Foi pela prioridade de ter as histórias originais ou por causa
do Sergio Bonelli que a edição anterior não foi publicada integralmente
pela Opera?
Gonçalo: Não, Bonelli nada teve a com
a história. Nem o pessoal da Mythos. Aquele foi um álbum muito
delicado de ser feito, muita gente botou o dedo, opinou e até sugeriu
exclusão das orelhas, que eu tinha feito com muito cuidado. O livro estava
pronto exatamente como está sendo publicado (agora, revisto e atualizado),
mas os editores resolveram suprimir parte - a história do plágio de Tex,
que eu pretendia tratar em primeira mão, mas que caducou, e a entrevista
que fiz com Bonelli.
Optaram equivocadamente em republicar as três primeiras
histórias, que estavam longe de ser alguma novidade. Tive de condensar
os capítulos e deu no que deu. Fiquei chateado porque fiz várias correções
no print que não foram passadas para a versão final, muito mais do que
o fato de não terem me dado a autoria da edição inteira.
UHQ: Qual seu próximo livro que será lançado, Gonçalo?
Gonçalo: Faço no momento a biografia do rei da dublagem
Herbert Richers. É um personagem fascinante, que vai encantar quem se
amarra em dublagem. Até março deve sair meu primeiro livro infantil pela
Manole. Quem sabe neste ano não desovo finalmente Guerra dos
Gibis 2, concluído desde abril de 2007?