Graphic novel é proibida no Egito e autor é multado
No
último dia 20 de novembro, um tribunal do Egito proibiu a circulação da
graphic novel Metro, de autoria de Magdy L Shafee, publicada no
país em 2008. A alegação é de que a obra infringe a decência pública,
baseada no argumento de que possui conteúdo sexual.
Segundo a decisão do tribunal, a publicação, que em abril do ano passado
já teve todos os seus exemplares confiscados do escritório da editora
pela polícia, fica proibida de ser impressa e distribuída no Egito.
Na ocasião do lançamento, Shafee e o editor Mohamed El-Sharqawy foram
detidos sob a acusação de ofensa da moral pública e uso de linguagem obscena.
No julgamento da semana passada, a corte rejeitou a apelação que os dois
fizeram contra decisão anterior da promotoria pública de proibir a graphic
novel. Cada um foi multado em valores equivalentes a aproximadamente
R$ 1.600,00.
Shafee
disse que ele e o editor ainda vão recorrer da decisão. "É antiético suprimir
a liberdade de expressão e retirar os livros do mercado", afirmou a um
jornal egípcio. "Isso é sobre mais do que Metro. Se continuarmos
passivos, perderemos nossos direitos".
Os advogados de defesa alegam inconstitucionalidade dos artigos em que
as acusações se baseiam e que nenhuma violação foi cometida, porque os
acontecimentos mostrados na obra transcorrem em um contexto artístico.
Metro é considerada a primeira graphic novel em língua árabe
e a primeira história em quadrinhos egípcia voltada para adultos. A obra,
ambientada na cidade do Cairo contemporânea, narra a história de Shihab,
um jovem designer de softwares que, devido a uma dívida
com funcionários corruptos do governo, decide roubar um banco.
A decisão do tribunal motivou reações da imprensa especializada em quadrinhos
e entidades de defesa dos direitos humanos do mundo todo.
Rich Johnston, do site norte-americano Bleeding
Cool, afirmou: "É uma pena que o Comic Book Legal Defense Found
(nota do UHQ: entidade que defende a liberdade
de expressão e direitos de autores de histórias em quadrinhos) atue apenas
dentro da fronteira dos Estados Unidos".
Gamal Eid, diretor da Arab Network for Human Rights Information - ANHRI,
disse: "Não há país que exerça a liberdade e proíba livros". E acrescentou:
"Tribunais não são o lugar para crítica literária".
Confira algumas imagens de Metro (os textos dos balões e recordatórios
foram traduzidos para o inglês por Humphrey Davies).