Histórias em quadrinhos ganham destaque em livro de Umberto Eco
Já
se encontra nas livrarias brasileiras o novo livro do intelectual italiano
Umberto Eco, célebre autor da ficção histórica O nome da Rosa,
fascinante obra que chegou a ganhar uma versão cinematográfica nos anos
80.
Depois de lançar várias obras de conteúdo erudito, desta vez o escritor
surpreende e ataca de cultura pop em doses cavalares, transformando as
histórias em quadrinhos em fio condutor do romance A misteriosa chama
da Rainha Loana (Record; 454 páginas; R$ 49,90; tradução de Eliana
Aguiar).
Na
verdade uma autobiografia disfarçada do autor, o livro narra a luta do
personagem Giambattista Bodoni (ou Yambo) para recuperar a memória após
despertar de um coma cujo motivo não é explicado na história. E através
de revistas em quadrinhos encontradas em algumas propriedades da família,
começa a reviver sua infância, lembrando-se de contextos da época em que
havia lido as publicações.
Mickey, Flash Gordon, Mandrake, Dick Tracy e vários
outros personagens clássicos (incluindo alguns italianos, desconhecidos
por aqui) comparecem a dezenas de páginas em ilustrações originais.
E mais do que simples citações a esses ícones dos quadrinhos, também foram
resgatadas nos textos algumas curiosidades interessantes sobre eles, como
a do seguinte trecho:
"Havia toda uma série de Álbuns de Ouro com as peripécias de Mickey. Mais
lido que os outros, a julgar pelo estado periclitante do meu exemplar,
o Mickey Jornalista: era impensável que o regime deixasse passar uma história
sobre liberdade de imprensa, mas percebe-se que, para os censores do Estado,
histórias de animais não poderiam ser realistas e perigosas".
A obra é uma excelente oportunidade para os leitores de quadrinhos conhecerem
a qualidade narrativa de Umberto Eco. Assim como os fãs do autor podem
começar a entender o porquê de a arte seqüencial ser tão fascinante, a
ponto de ter exercido uma grande importância no desenvolvimento intelectual
desse mestre da literatura.