Hoje se comemora o centenário de nascimento de João Mottini
Neste dia 20 de junho, celebram-se os 100 anos do nascimento de um grande mestre dos quadrinhos e da ilustração, um dos primeiros desenhistas brasileiros a ter uma carreira internacional: o gaúcho João Baptista Mottini.
Nascido em 20 de junho de 1923, em Santana do Livramento, Mottini começou sua carreira no final dos anos 1930, na então poderosa Livraria e Editora Globo, de Porto Alegre. Sob a tutela do mestre alemão Ernest Zeuner e convivendo com artistas como João Fahrion e Edgar Koetz, ilustrou clássicos como Dom Quixote, Os três mosqueteiros e Robin Hood.
Em 1948, com 23 anos, Mottini foi tentar a sorte no poderoso mercado editorial de Buenos Aires. Pouco depois, levou para lá a esposa Ivone e iniciou sua família. Foi na Argentina que teve os melhores anos de sua carreira, ao fazer parte do que hoje se conhece hoje como a Era de Ouro dos quadrinhos portenhos.
Sua obra mais conhecida, a série de aventura Aurelio, el audaz, foi publicada durante oito anos na revista Patoruzito, que tinha a impressionante tiragem de 300 mil exemplares semanais.
Mottini também foi o capista oficial da revista por cinco anos. Como professor, atuou na famosa Escuela Panamericana de Artes, ao lado de grandes nomes, como Hugo Pratt, Alberto Breccia e José Luis Salinas.
Com um estilo clássico e um talento assombroso para desenhar cenas de movimento – e especialmente para fazer cavalos –, no final dos anos 1950 Mottini foi chamado pela editora inglesa Fleetway para fazer quadrinhos de Buck Jones, Billy the Kid e outros faroestes que foram distribuídos mundialmente.
De volta ao Brasil, em 1962, João Mottini participou da CETPA – Cooperativa Editora e de Trabalho de Porto Alegre, uma iniciativa de fazer uma indústria de HQs com temáticas nacionais, impulsionada pelo governo de Leonel Brizola.
Os trabalhos de maior destaque de Mottini na CETPA foram as séries Os crimes que abalaram o Rio Grande e Os Abas Largas, publicados no jornal Última Hora.
O autor também fez ilustrações para publicidade, sendo o criador da Ipirela, a garota-propaganda dos postos Ipiranga, que foi uma febre nacional. Para a mesma empresa, também fez lindas artes para calendários com temas da cultura popular brasileira.
Também merecem destaque as ilustrações feitas para dois anuários da Samrig: Profissões, passos e pregões, de 1980, e No tempo dos Farroupilhas, de 1983, que contava com textos de Luiz Antônio de Assis Brasil e foi amplamente difundido em audiovisuais na rede escolar estadual.
Artista versátil, João Mottini também pintava quadros em tinta acrílica, realizando retratos de personalidades como Érico Verissimo e Josué Guimarães, mas principalmente pinturas com cenas gauchescas.
No final dos anos 1980, ele ensaiava um retorna às histórias em quadrinhos e tinha uma encomenda da revista argentina Skorpio. Mas este trabalho ficou inacabado, devido à morte do artista, em março de 1990, aos 66 anos, devido ao agravamento de um câncer.
Ainda em 2023, deve ser lançado um livro em homenagem a João Mottini. A obra será escrita por Rodrigo Rosa, ilustrador e editor da Figura Editora, que foi amigo e pupilo desse mestre gaúcho.