Indenizações a Ziraldo e Jaguar geram polêmica
"Ziraldo
e Jaguar encerram sua vida profissional desenhando em tinta marrom a charge
da desmoralização de sua luta e da degradação moral de sua biografia".
Esse é um trecho do abaixo-assinado
postado no blog do jornalista Ricardo Noblat, do jornal O Globo,
e endereçado ao ministro da Justiça Tarso Genro.
O texto é apenas uma das manifestações públicas de repúdio contra a indenização milionária e pensão vitalícia que os dois citados cartunistas receberão do governo brasileiro, como vítimas do regime militar que assolou o País entre as décadas de 1960 e 1980.
Para que se tenha idéia do tamanho do desconforto que essa decisão da
Comissão de Anistia do Ministério da Justiça causou, vale registrar
o que escreveu o repórter Paulo Moreira Leite, do jornal O Estado de
S.Paulo, em seu blog
no portal IG. "Jornalista como Ziraldo, adversário do regime como
Ziraldo, Vladimir Herzog foi preso, massacrado pela tortura e assassinado.
Sua família teve direito a uma indenização de R$ 120 mil. (...) Ziraldo
esteve preso, sofreu perseguições e perdeu empregos em diversas oportunidades,
em função de sua atividade política. A indenização de Ziraldo é 800% maior."
"Na prática, o valor foi fixado por critérios econômicos, pelo poder de pressão e prestígio das vítimas, fenômenos típicos de uma sociedade desigual e injusta, como a nossa - como Ziraldo tantas vezes explicou em seus livros para crianças", completou Paulo Moreira.
O
jornalista e escritor Millôr Fernandes, em declaração à revista Veja,
alfinetou seus dois ex-companheiros de jornal Pasquim: "Eu pensava
que eles estavam defendendo uma ideologia, mas estavam fazendo um investimento".
"Aos que estão criticando, falando em 'bolsa-ditadura', estou me lixando. Esses críticos não tiveram a coragem de botar o dedo na ferida, enquanto eu não deixei de fazer minhas charges", defendeu-se Ziraldo, em citação na Revista da Semana.
Para Maurício Azedo, presidente da ABI - Associação Brasileira de Imprensa, as indenizações foram justas. Ele diz que os valores estratosféricos são resultados do efeito retroativo pelo cerceamento de liberdade de imprensa durante o regime militar. "Se o Estado tivesse pedido perdão anteriormente, as indenizações não chegariam a esse ponto. Quarenta anos de sofrimento não têm preço", afirmou ao portal Comunique-se.
Em toda essa celeuma, entretanto, a única certeza é a de que as reparações financeiras serão pagas a Ziraldo e Jaguar, a despeito de quaisquer elucubrações éticas ou morais que o assunto esteja acarretando.
Resta apenas saber se os danos - justos ou não - à sua imagem serão facilmente compensados pelo pouco mais de milhão de reais que cada um irá receber.