Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Invasão suprema

10 dezembro 2008

Homem-Aranha Ultimate
Em 2000, quando a "Casa das Idéias" estreou sua linha Ultimate,
provavelmente não imaginava que lançaria ali conceitos tão interessantes
(artística e comercialmente falando) que passaria a usar esse novo "universo"
como laboratório para sua cronologia tradicional.

Antes de tudo é preciso lembrar que a indústria dos quadrinhos, como qualquer
outra, precisa gerar lucro. E foi justamente essa lógica comercial que
desencadeou a série de eventos que colocou o Universo Millennium
(como é conhecido no Brasil) e o editor-chefe Joe Quesada em uma posição
editorial estratégica.

Inicialmente, Quesada foi relutante quanto a reiniciar a cronologia dos
personagens. Afinal, a Marvel teve algumas experiências ruins nesse
sentido. No entanto, a insistência do então publisher Bill Jemas
o levou a tentar.

A primeira experiência seria com o Homem-Aranha. Foram escalados para
o projeto o roteirista Brian M. Bendis (na época começando a despontar
no mercado) e Mark Bagley, que já havia desenhado o personagem na década
de 1990.

Ninguém imaginaria que a revista seria um sucesso estrondoso, tanto que
abriria espaço para todo um universo e ajudaria a projetar Bendis, além
de outras conquistas. Aliás, um fato bem inesperado ocorreu no título.

Numa época em que a indústria dos quadrinhos é tudo menos duradoura e
que as equipe criativas ficam no máximo alguns arcos, Bendis e Bagley
fizeram questão de quebrar o recorde de parcerias: permaneceram na revista
por 110 edições, superando as 102 do Quarteto Fantástico de Stan
Lee e Jack Kirby.

Depois do Homem-Aranha, vieram os X-Men, Quarteto Fantástico
e, claro, o projeto mais ambicioso desse universo: Os Supremos
(The Ultimates). Os Supremos é uma visão pouco convencional
dos Vingadores criada por Mark Millar. Os personagens não são exatamente
heróis na visão tradicional das HQs. Para começar, eles não agiam por
conta própria e não se uniram para atuar em equipe por um acaso cósmico
em um belo dia "diferente de todos os outros".

Negativo! Os Supremos são de um grupo militar dentro da S.H.I.E.L.D.,
comandados por Nick Fury.

Os personagens, começando pelo líder do grupo, tinham diversos desvios
morais, praticavam atos amplamente questionáveis e eram tudo menos politicamente
corretos. Contudo, isso não era o que a mídia e a população em geral viam
e pensavam. Mais uma manipulação bem arquitetada para esconder os fracassos
do grupo, como a sua primeira grande missão pública: a prisão do Hulk
- que ninguém deveria saber que se tratava do próprio Bruce Banner, uns
dos cientistas da S.H.I.E.L.D.

Ninguém no grupo se salva: Tony Stark levou seu alcoolismo a um nível
impressionante; Thor inicialmente era visto como um ecoterrorista e chegou
a ser considerado esquizofrênico; Banner se transformava quando estava
com tesão; Hank Pym batia e humilhava constantemente sua esposa; e nem
o Capitão América era santo.

Os Supremos
Vale dizer que, observando bem, no universo Ultimate a maioria
dos personagens seguia essa linha do herói com falhas. Em X-Men,
por exemplo, o Professor Xavier constantemente manipulou, enganou e apagou
a mente de seus alunos.

Nesse contexto, o Homem-Aranha pode ser visto como o único verdadeiro
herói desse universo. Em sua inocência, ele encara os outros personagens
lutando pelo que é certo e, muitas vezes, se dá mal, porque o Ultiverso
quer ao máximo simular a "realidade". E a verdade, todos sabemos, é que
o que é certo nem sempre prevalece.

Então, a Marvel teve todas essas boas idéias acontecendo nesse
universo paralelo, acessível a novos leitores, mas que era tão legal que
conquistou os fãs antigos também. As críticas foram boas, as vendas iam
muito bem, o próximo passo parecia óbvio: implantar o que deu certo no
Ultiverso em larga escala na cronologia oficial.

Como? Basta perguntar aos homens que garantiram o sucesso do Ultiverso
- Bendis e Millar - como eles poderiam aplicar sua "fórmula mágica" em
uma escala maior.

Tudo começou com Bendis reformulando os Vingadores e quebrando a estrutura
tradicional da equipe a partir de Vingadores - A Queda. Depois
veio a grande cisão entre os heróis: a Guerra Civil, de Mark Millar.

Qual o status atual? Os heróis são registrados e trabalham para
o governo no projeto Iniciativa, comandado pela S.H.I.E.L.D., que
detém as informações sobre as identidades de cada superser ativo. Ou seja,
algo muito parecido com o visto em Os Supremos, mas numa escala
amplificada.

Os vigilantes registrados, comandos pelo Homem de Ferro, representam o
novo conceito de super-herói, adaptado à "realidade" atual dos quadrinhos,
que exige cada vez mais explicações de tudo, com provas "científicas"
para cada movimento. Há uma demanda constante de leitores formados na
década de 1990 que insistem que os heróis, apesar de usarem colants
coloridos, devem ser "realistas".

(Basta observar as origens de super-heróis criados a partir dessa época.
Nenhum sofreu um acidente como o que transformou Peter Parker em Homem-Aranha
e se tornou um combatente do crime. Por outro lado, na Marvel e
em outras editoras, principalmente a Image, sobravam mutantes,
que seriam uma explicação científica relativamente plausível para o aparecimento
de superpoderes.)

Voltando à cronologia Marvel atual, há aqueles superseres que não
aceitaram se registrar. Apesar de não serem um grupo compacto, não terem
liderança, seu principal expoente é o Homem-Aranha. Agora membro da formação
renegada dos Vingadores (título escrito por Bendis), assim como no universo
Ultimate, seu heroísmo é revestido de uma inocência rara.

Mesmo em seu momento mais sombrio, perseguido pela lei, com a tia doente,
voltando a vestir o uniforme preto, Peter Parker é o grande herói da Marvel.
Na cronologia normal ele pode não se destacar tanto no sentido heróico
da coisa, pois diversos outros personagens são tão confiáveis quanto ele,
mas é o que tem a maior exposição.

Mas, como se tem visto, as coisas vão além da aplicação de pequenos conceitos.
O sucesso de Bendis em Homem-Aranha Millennium e sua ascensão paralela
em Demolidor lhe garantiram carta branca na editora para remodelar
o universo todo... como bem entendesse.

Assim, Bendis seguiu por títulos mensais, minisséries, mega-eventos e
continua sendo a grande liderança criativa na Marvel.

Não só ele. Vários artistas como Mark Millar, Warren Ellis, os irmãos
Kubert, Stuart Immonen e, principalmente, Joe Quesada ganharam status
com o sucesso da linha Ultimate. Quesada, inclusive, conseguiu
recentemente emplacar uma de suas idéias que sempre teve a maior rejeição:
fazer Peter Parker solteiro novamente.

O sucesso comercial desse grupo criativo mudou nos últimos anos a cara
da Marvel. Esses profissionais tomaram as rédeas da editora e criaram
uma estética toda própria, tanto visual quanto escrita, ditando padrões,
estilos, uma média a ser seguida.

Obviamente, em uma editora com tantos títulos é até saudável que nem tudo
tenha a mesma cara, mas começou a surgir uma coerência maior, apesar dos
muitos narizes de leitores torcidos.

Ultimate
E é interessante ver como o trabalho é bem diferente quando se salta da
linha Ultimate para a cronologia normal.

Enquanto na Ultimate tudo ainda está por construir, quando o roteirista
vai para o universo tradicional parece que volta a ser leitor e conta
as histórias que queria ler. E isso acaba fazendo muita diferença.

Assimilando algumas idéias da linha Ultimate que a tornavam um
cenário mais coeso, a Marvel tem conseguido revigorar algo que
sempre foi considerado uma de suas características mais importantes: as
relações entre personagens de revistas diferentes e o impacto das ações
de um sobre os outros.

Agora, gostem ou não os fãs mais radicais, existe uma verdadeira cena
política, no sentido mais amplo, entre os super-heróis, que não se encontram
mais apenas para derrotar um vilão no centro de Nova York.

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As versões Ultimate de Diego Figueira e Zé Oliboni podem ser acompanhadas no Pop Balões, mas a cronologia oficial dos dois continua no Universo HQ.

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