Jim Lee fala sobre seu trabalho com o Super-Homem
Depois de ter ficado afastado alguns anos das revistas mensais, o desenhista Jim Lee é hoje um homem bastante ocupado. Após sua volta ao mercado no título Batman num arco de histórias em 12 partes que fez muito sucesso (e está sendo publicado atualmente no Brasil pela Panini Comics), ele se prepara para assumir a série Superman.
Lee se juntou ao premiado escritor Brian Azzarello (100 Balas), e os dois assumem a revista em abril de 2004. Eles planejam trabalhar na série por 12 números, numa árdua tarefa de igualar a repercussão que teve o trabalho do artista em Batman. Mas, se era desafio o que ele estava procurando, nada melhor do que este projeto. Foi justamente o desafio que o fez querer trabalhar com o Homem de Aço.
"A idéia original de assumir Superman começou há algum tempo", disse Jim Lee. "A WildStorm iria relançar alguns títulos da DC, como Questão e Vigilante, e procuramos Brian Azzarello. Ele e Lee Bermejo iam trabalhar com um personagem, e no meio do caminho acabaram resolvendo mudar para o Super-Homem (Lex Luthor: Man of Steel)."
"Isso tem pelo menos dois anos e meio", revela o artista. "Foi quando o projeto com o Batman começou a surgir. É uma longa história. Eu e Brian sempre quisemos trabalhar juntos e, quando o Super-Homem entrou no caminho, conversamos sobre fazer algo com o personagem. Seria uma minissérie com um novo vilão chamado Hope, que trabalharia para o Luthor. Eu queria estar envolvido nisso."
Foi quando Jim Lee e Azzarello resolveram mudar a abordagem. "Pra que fazer algo com um vilão secundário? Por que não fazer logo algo com o próprio Super-Homem? Fazia sentido! Já existe uma personagem chamada Hope nas histórias do Super (Nota do UHQ: Uma das guarda-costas de Lex Luthor), e nós não sabíamos. À medida que nos envolvíamos criativamente, seguimos uma direção completamente diferente."
"Além disso, eu e Brian gostamos de ter o desafio de superar o trabalho em Batman. O Super-Homem é mais desafiador do que o Batman", resumiu. Curiosamente, Azzarello está assumindo o título do Homem-Morcego por seis números, logo após a saída de Lee.
Toda essa chacoalhada no universo do Homem de Aço teve início numa discussão que Paul Levitz (atual presidente da DC) e Dan DiDio (editor-executivo do Universo DC) tiveram sobre como fazer o Super-Homem relevante novamente. "Eu era apenas consultor naquela época", explica Lee. "Algumas dessas discussões foram antes mesmo de me chamarem para fazer Batman. Hoje o Super é uma prioridade. Batman está indo bem, mas o Super-Homem vem sofrendo."
"Tenho menos tempo para começar meu trabalho com o Super do que tive com o Batman, mas acho que posso dar conta", continua. "Pretendo fazer 12 números seguidos, sem perder nenhum. Acho que é a única maneira de executar esse projeto".
Com tanto tempo para pensar sobre o Homem de Aço, Jim Lee chegou a algumas conclusões sobre o herói. Mas ainda falta o que fazer. "Estou brincando um pouco com o personagem, visualmente falando. As pessoas sempre pensam nele como a luz, e Batman as trevas. Mas realmente precisa ser assim? Eu poderia colocar mais sombra no Super? Ou deveria adotar o lado oposto e desenha-lo apenas com linhas e deixar o resto para o colorista?", divaga.
"Eu quero que se pareça diferente do que o que fiz com o Batman, mas pode acabar parecido, no final. Acho importante passar por esses exercícios e voltar ao começo de vez em quando. Assim sabemos o que se pode explorar."
Nos sketches que Jim Lee vem fazendo do Homem de Aço, é possível perceber através de suas anotações a preocupação em fazer Clark Kent ser visualmente diferente de Bruce Wayne, assim como alguns testes com o uniforme do herói.
"Estou fazendo esses tipos de testes. Faço uma figura e uso as sombras de maneira diferente. O Super-Homem é muito mais difícil de se desenhar", analisa. "É um conceito mais difícil de se tornar sexy e comercial no mundo de hoje. Mas é por isso que estamos aqui, queremos esse desafio".
"Acho que, de certa maneira, é o desafio definitivo. É um personagem muito conhecido, e as pessoas têm certas expectativas. Ao mesmo tempo, em termos de histórias... quantas grandes e clássicas histórias temos do Super-Homem? Não quero denegrir o que os criadores têm feito, mas não está no mesmo pedigree de Batman", comparou.
"Com o Cavaleiro das Trevas há toda a fase de Denny O'Neil, Frank Miller, Mazzuchelli, Englehart e Marshall Rogers. Recentemente, a última aventura realmente legal do Super que gostei foram algumas feitas por Joe Casey, mas não obteve sucesso comercial. Também gostei de Super-Homem: As Quatro Estações. Foi muito bem produzida", enumerou.
"Claro, tem a do Alan Moore, mas foi apenas uma. O nosso objetivo é fazer 12 edições que as pessoas lembrem por muito tempo. É isso que queremos atingir."
O artista falou mais sobre sua abordagem visual do último filho de Krypton. "A capa do Super-Homem é menor que a do Batman, e não dá para esconder muitas coisas com sombras. O uniforme dele é praticamente um corpo nu com linhas. Não queremos fazer dele um Justiceiro, claro, mas ao mesmo tempo pretendemos quebrar o estereótipo que as pessoas têm do personagem".
E para isso, a abordagem do herói será diferente. De acordo com Lee, Brian Azzarello fará histórias mais adultas. Li o script de Lex Luthor: Man of Steel, e possui a marca registrada de Brian. Há muita conversa, mas o drama acontece nos diálogos. Ele diz que Superman terá mais ação, vamos ver."
O artista revelou ainda que tem os próximos três anos de sua carreira já programados, mas não deu detalhes sobre o futuro.