Leitores e mídia debatem o declínio da DC Comics
É
de se questionar se, pelo menos em sua história mais recente, a DC
Comics esteve em tão flagrante berlinda diante de leitores
e críticos especializados em quadrinhos, da forma como se encontra atualmente.
E tal fato não se restringe apenas aos Estados Unidos, mas acontece também
em outros países nos quais os títulos da editora são publicados.
Mas são os norte-americanos que demonstram sua insatisfação de maneira
mais veemente. Um dos últimos "ataques" à DC partiu de um artigo
escrito por Valerie D'Orazio no blog Occasional Superheroine.
O texto
repercutiu tanto que foi tema de matéria e debates em sites renomados
como Newsarama
e Comic
Book Resources, entre outros.
Opiniões contra e a favor de seus comentários estão rendendo na internet
as mais acaloradas discussões que, para o bem ou para o mal, estão fazendo
da DC o assunto da vez no mercado editorial dos Estados Unidos.
D'Orazio, que já trabalhou como assistente na edição de títulos como Liga
da Justiça e Crise de Identidade para aquela editora, enumerou
diversos tópicos que explicariam o que aponta como o ocaso da DC Comics,
que já vinha cometendo erros e culminou esse declínio com a maxissérie
semanal Countdown.
No final das contas, tudo se converge para um único "culpado": o editor-executivo
Dan Didio, que em uma recente entrevista ao Newsarama afirmou não
se preocupar com o que dizem sobre ele na internet.
A articulista começa disparando que "a DC não é a Marvel",
acusando a editora de copiar as características dos personagens de sua
maior rival.
"O segredo do sucesso da Marvel é que suas criações são, essencialmente,
párias, aberrações, estranhos e desgarrados. Que tipo melhor de personagens
para atrair os adolescentes?", diz D'Orazio. "Por sua vez, as sérias falhas
de personalidade impostas a alguns personagens da DC no regime
de Didio - como os sociopatas assassinos Maxwell Lord e Superboy; a Supergirl
nada boazinha; o estuprador Dr. Luz; a antiética e cruel Dra. Leslie Thompkins
e a Liga da Justiça amoral - foram sobrepostas, adicionadas artificialmente,
desnecessárias".
Para a articulista, todos os últimos grandes eventos dos quadrinhos da
DC foram preparados sob os motes "Eles (os super-heróis) jamais
serão os mesmos e tudo que você sabe é falso". D'Orazio aproveita para
tecer mais das execrações que estão se tornando comuns para a série Countdown,
além de comentar que é inexplicável que a editora do Super-Homem esteja
caminhando para o lançamento de uma nova e desnecessária Crise.
Nesse ponto, o crossover da Marvel Guerra Civil,
que poderia ser apontado como similar à prática da DC de emendar
sagas épicas imediatamente uma após a outra, é elogiado pelo fato de que
levou a eventos autocontidos e restritos ao universo de seus respectivos
protagonistas, como World War Hulk e Iniciativa, diferente
das citadas Crises e, claro, Countdown, com muitos tie-ins
e spin-offs.
"Olhando uma recente lista de lançamentos da DC, notei que a maioria
dos títulos é relacionada a Countdown", escreveu D'Orazio. "Meu
Deus! Isso é como se a Marvel decidisse fazer de 75% de suas HQs
um spin-off de Dinastia M".
Em todos os tópicos abordados pela ex-funcionária da DC, o editor
Dan Didio não escapa de acusações de incompetência. Desde a falta de projetos
inovadores (os selos Minx
- direcionado ao público jovem feminino - e Zuda
Comics - de quadrinhos online - não seriam projetos de
sua autoria) até as equivocadas seqüências de Crise nas Infinitas Terras,
nenhuma realização da gestão de Didio foi poupada de desdém (o que, de
certa forma, é injusto, pois há de se aceitar que a maxissérie 52
logrou sucesso de público e crítica).
Sempre voltando a Countdown, o texto afirma que o tie-in
Arena,
anunciado há algumas semanas, é uma tentativa desesperada de salvar as
vendas da série principal.
Ainda de acordo com o artigo, essas e outras razões ali destrinchadas,
como o atraso no lançamento de algumas edições, vêm contribuindo para
a queda nas vendas dos títulos da DC, que estariam quase duas vezes
menores que as da Marvel.
Embora muitos possam entender, erroneamente ou não, que Valerie D'Orazio
tenha algum despeito pela empresa na qual já trabalhou e está se valendo
de um momento conturbado da editora para detratá-la, várias de suas abordagens
merecem, no mínimo, o benefício da análise isenta.
Trazendo esses fatos para a realidade brasileira, vale mencionar a Panini
Comics, que sem dúvida alguma irá lançar por aqui esse material
que a DC ora publica nos Estados Unidos e é alvo de tantas queixas.
Fica, então, a pergunta: as vendas, no Brasil, refletirão esse insucesso
que está acontecendo lá fora?
Afinal, os leitores brasileiros já se encontram cientes do que vem por
aí, graças não apenas às propagandas negativas que chegam com rapidez
dos Estados Unidos, mas também à facilidade de leitura dos originais dessas
HQs na internet.