Livros sobre a Ebal: autores longe de um entendimento
Como
informamos na
semana passada, o jornalista Gonçalo Junior escreveu uma coluna criticando
o livro Ebal - Fábrica de Quadrinhos - Guia do Colecionador, de
Ezequiel de Azevedo, por considerá-lo plágio de A Guerra dos Gibis,
de sua autoria.
Ezequiel, que a princípio não se manifestou diretamente sobre
o assunto, colocou sua posição na lista de discussão Gibihouse,
neste último final de semana. Confira:
Boa tarde a todos. Por absoluta falta de tempo, somente agora posso
responder às sandices que escutei. Precisei refletir antes de me manifestar,
pois somente um tolo fala sem pensar. Espero que o que eu escreva aqui,
seja colocado na íntegra em todos os canais onde fui citado, como legítimo
direito de resposta. Ao queixoso cabe o ônus da prova. Irei me ater somente
aos fatos, que posso comprovar, a saber:
1. Nunca pedi, nem fiz nenhuma entrevista com Gonçalo Júnior, somente
tive uma conversa de meia hora, se tanto, com o mesmo. Somente entrevistei
os herdeiros do Aizen e fãs cariocas que freqüentavam a editora, pessoas
que podiam me dar informações verdadeiras, úteis e precisas sobre a Ebal
e suas curiosidades;
2. No meu livro Ebal Fábrica de Quadrinhos, usei como principais
fontes de consulta os filhos de Adolfo Aizen e os quadrinhos da editora
(qualquer bom colecionador sabe da imensa quantidade de informações contida
nas capas e contracapas das revistas da Ebal). O que gastei com
transporte e comprando revistas da Ebal, nem que eu venda cinco
edições de meu livro irei recuperar. Não fiz o livro visando lucro e sim
por admiração ao nosso maior editor de quadrinhos. Pelo jeito, o centenário
de Adolfo Aizen passaria em branco. Ainda está em tempo dos sites especializados,
"especialistas em quadrinhos", editoras e editores prestarem a justa homenagem
ao fundador da Ebal.
3. Para o livro Ebal Fábrica de Quadrinhos, pedi e consegui
a autorização dos três filhos de Adolfo Aizen. O prefácio foi feito por
Paulo Adolfo, que sentiu na obra uma justa homenagem ao seu pai. Fiz questão
de entregar em mãos, num pré-lançamento, em 20 de outubro, no Rio de Janeiro,
um livro para cada herdeiro do fundador da Ebal. Desnecessário
dizer que eles ficaram muito felizes e comovidos com a homenagem.
4. Se Adolfo Aizen nasceu na Rússia Czarista, não posso falar que ele
nasceu no Japão, se ele teve quatro filhos, não posso falar que era primo
de Mussolini, se viveu no Rio de Janeiro, não posso falar que morou na
Dinamarca, e segue o raciocínio.
5. A obra definitiva sobre Adolfo Aizen será feita por seus filhos,
ninguém mais, tenho certeza disso.
6. Nunca, repito, nunca existiu entre Roberto Marinho e Adolfo Aizen
uma guerra de quadrinhos, ambos eram homens de negócios. Na época, nosso
mercado de quadrinhos comportava os dois e havia espaço para muitos outros.
Quando da migração dos personagens da KFS, do Suplemento Juvenil
para o Globo Juvenil de Marinho, Aizen anunciou a continuação das
histórias de seus personagens na nova editora. Roberto Marinho deu de
presente uma assinatura de todas as revistas da RGE aos filhos
do Aizen. A lenda de que Adolfo Aizen "tascou a lenha" em Roberto Marinho,
na entrevista concedida por ele ao jornal O Pasquim, edição # 142,
caiu por terra. Foi um mito que nunca existiu. Em nenhum momento da entrevista,
Aizen faz críticas a Marinho (posso providenciar uma cópia para quem estiver
interessado na entrevista). Esses fatos foram o "dedo na ferida" que está
causando a presente tempestade em copo d'água.
7. Meu livro foi feito para homenagear Adolfo Aizen, no centenário
de seu nascimento, pois, se não fosse por ele, não teríamos essa quantidade
imensa de títulos, em todas as décadas, publicada no Brasil.
8. Qualquer autodenominado "especialista em quadrinhos" pode escrever,
por exemplo, um livro sobre Tex Willer, mesmo sem saber o nome do cavalo,
ou do cachorro do ranger, nossa Constituição permite e garante.
O que não é permitido é acusar sem ter provas. Uma mentira dita mil vezes
não se torna verdade, os tempos são outros, as informações estão disponíveis
para quem tiver vontade de se informar.
9. Em relação ao "guia do colecionador" de meu livro, o mesmo não se
resume a um catálogo de capinhas, como foi preconceituosamente chamado.
Consta no mesmo a data de publicação de todas as revistas em quadrinhos
da Ebal, formato e a quantidade de edições. O guia é apresentado
em ordem cronológica e em ordem alfabética, além da relação de todas as
edições extras e especiais da editora. Informação valiosa para colecionadores
e para os leitores mais atentos.
10. Espero ter esclarecido os fatos. Para quem puder, peço que leia
ambos os livros, pois aqui na lista, cada um é suficientemente inteligente
para não se deixar manipular, att, Ezequiel.
Gonçalo
Junior, em contato com o Universo HQ, voltou a ratificar sua opinião,
encaminhando também uma resposta para a lista Gibihouse, como você
confere abaixo:
Ao ler o pronunciamento, finalmente, do senhor Ezequiel, concordo em
único ponto com ele: os leitores devem sim ler os dois livros para comprovar
o que afirmei e acusei no artigo postado no site Bigorna na segunda-feira
passada.
A minha indignação continua porque Ezequiel, em tom agressivo e desleal,
insiste em dizer que a principal fonte para seu livro foram os filhos
de Aizen. Tal afirmação só me traz indignação, porque esperava dele, com
o passar dos dias, uma posição mais serena e justa. Ou seja, um pedido
de desculpas pela sua conduta antiética e porque não dizer, desonesta.
Não é possível que tantos dados - datas, números e nomes completos
de pessoas e publicações - fossem fornecidos a ele pelos filhos de Aizen,
mesmo se considerar que isso aconteceu depois destes terem lido o meu
livro. Ou encontradas nas seções de cartas e de notícias das revistas
da Ebal.
Ezequiel não diz a verdade. Arrogante e prepotente, tenta se colocar
como vítima de "sandices", ao invés de ter a honestidade de dizer que
pegou praticamente todas as informações sobre Aizen e a Ebal do
meu livro - e um pouco da cronologia lançada pela família Aizen em 1991.
Passei 15 anos escrevendo A Guerra dos Gibis. Para isso: fiz
112 entrevistas, consultei cerca de 5 mil documentos do arquivo pessoal
de Aizen, vasculhei cerca de 204 mil páginas dos jornais O Globo,
Diário de Notícias, Última Hora, Tribuna da Imprensa
e outros diários de 1933 a 1964, as coleções de Seleções, O
Cruzeiro e Manchete de 1928 a 1964. Consultei ainda milhares
de gibis da Ebal, La Selva, Abril, RGE e O
Cruzeiro da época estudada.
Tudo isso para montar uma cronologia e levantar dados precisos sobre a
censura aos quadrinhos no Brasil e a história de Aizen. E o que fez o
professor Ezequiel? Apropriou-se de tudo e faz pose de pesquisador, de
entendido no assunto.
Afirmo que os filhos de Aizen não sabiam precisar a data de embarque
da viagem para os Estados Unidos e a volta. Esse foi um dado levantado
por mim que pode parecer irrelevante, mas é importante para exemplificar
que Ezequiel não está falando a verdade. Como também o mês e o ano da
lei de imprensa. É só comparar os dois livros, como ele sugere. Por favor,
façam isso e se posicionem nesse espaço de discussão. O que quero é apenas
justiça e não polemizar com algo que me custou tanto esforço e sacrifício.
Uma luta que, parece-me, será longa e dolorosa.
O assunto ainda deve ter outros desdobramentos.