Mangás ou comics: afinal, qual é mais bem-sucedido?
Não
é de hoje a rixa mercadológica e ideológica entre norte-americanos e japoneses
no que diz respeito às suas produções de histórias em quadrinhos.
Na verdade, não só entre eles, mas entre seus consumidores de outras nacionalidades
espalhados ao redor do globo. Basta uma rápida visita a uma comunidade
virtual, fórum ou lista de discussão relacionada aos comics ou
mangás para se deparar com opiniões acaloradas sobre qual estilo é o melhor.
O japonês Yoshikazu Hayashida veio apimentar ainda mais o caldo desse
debate. Em artigo publicado no site nipônicoOh My News, traduzido
e reproduzido pelo norte-americano Manganews, ele discursa sobre
a carreira mundial bem-sucedida dos quadrinhos de sua terra e aproveita
para explicar por que o mesmo não acontece com aqueles produzidos pelos
filhos do Tio Sam.
Segundo
Hayashida, o fato de os quadrinhos norte-americanos utilizarem o inglês,
o idioma mais conhecido do planeta, não seria necessariamente uma vantagem
contra os mangás. E ele explica isso em duas teorias: o uso de papel de
baixa qualidade por parte das publicações executadas no Japão e o fato
dos publishers nipônicos serem melhores que os norte-americanos.
Na Terra do Sol Nascente, as revistas semanais de quadrinhos - antologias
tão grossas quanto listas telefônicas - têm seu miolo constituído por
papel reciclado. Inclusive, como informa o artigo, uma das principais
revistas do país é conhecida historicamente pela péssima qualidade do
papel reciclado que utiliza. Para Hayashida, a vantagem desse modus
operandi é a viabilidade econômica de um volume maior de histórias
a serem publicadas.
Nos Estados Unidos, boa parte da produção (principalmente a do mercado mainstream) é realizada com páginas coloridas de boa qualidade. O que, na visão de Hayashida, encarece o custo e limita as edições mensais a terem, em média, cerca de 30 páginas. Somando isso, inclusive, a essa mensalidade na distribuição dos títulos, a variação entre a quantidade do que é produzido em cada país é gritante.
Com apenas alguns títulos de renome junto ao público, é possível para uma publicação japonesa obter um bom índice de vendagem, permitindo que o restante do material disponibilizado no miolo possa contar com novos autores e mangás mais "experimentais". Eventualmente, alguns deles podem atingir o sucesso diante do público, tornando-se mais um chamariz da revista.
E
o que estimula os autores japoneses é algo também ausente (em parte) para
os norte-americanos: a manutenção dos direitos autorais das histórias
para os próprios artistas em um cenário não dominado pelas criações de
longa data de grandes editoras - no caso, a referência, obviamente, está
relacionada às editoras Marvel e DC Comics.
No entanto, editoras como a Image - citada pelo próprio Hayashida
no artigo, a Dark Horse, Oni Press, Tokyo Pop são exemplos de selos
que oferecem bons acordos quanto à questão do copyright
de suas publicações. A Vertigo e a WildStorm, subdivisões
da própria DC, também se encaixam nesse esquema. A distância
entre a produtividade satisfatória dos dois mercados vai além disso.
Há muitos anos as vendas em solo norte-americano não têm mostrado grandes
cifras. Ocorrência que se mantém devido a centralização da distribuição
nas comic shops (as famosas lojas especializadas) e do Direct
Market (Mercado Direto) gerenciado pela Diamond. Esta última,
única grande distribuidora do país a atuar no meio e responsável por praticamente
todo o mercado, disponibiliza os títulos por meio do número de pedidos
feitos para os mesmos pelos proprietários das comic shops e pelos
leitores. As editoras, por sua vez, rodam nas gráficas uma média de edições
baseadas nessas requisições.
Hayashida
parece não estar a par desse cenário. O que, ainda assim, não invalida
boa parte de seus argumentos - mesmo quando há uma pontinha de egocentrismo
em seu discurso. E até mesmo eles se restringem a pontos pequenos de uma
indústria que, há anos, tem se mostrado mestre na geração de itens de
consumo pop. Você não apenas lê o mangá feito pelos japoneses. Você assiste
ao desenho animado que o adapta, compra o boneco articulado, camisas e
muitas de outras coisas. Existe todo um apelo e publicidade espontânea
em torno do estilo.
Talvez o melhor argumento levantado por Hayashida seja o de que, no Japão,
não há distinção no tratamento dado aos quadrinhos e seus artistas como
ao que é destinado aos escritores de prosa. Visão similar e tão empolgada
pode ser encontrada entre os europeus, que dão atestado de arte às
suas produções. Independentemente da rotulação e apreciação, o interessante
é notar como o Japão é capaz de associar o respeito a essa manifestação
artística com uma estrutura administrativa e comercial de sucesso.