Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Marvel punirá Ardian Syaf por mensagens ocultas na revista X-Men Gold

11 abril 2017

Ardian Syaf é um artista da Indonésia, nascido em Tulungagung, na ilha de Java, que já trabalhou para o estúdio Dabel Brothers Publishing, e as editoras Dynamite Entertainment, DC Comics e Marvel Comics.

Seu trabalho mais recente na Marvel, a revista X-Men Gold #1, lançada em 5 de abril, causou muita controvérsia devido a mensagens religiosas que o artista espalhou nos cenários da revista. Essas referências foram percebidas inicialmente por fãs de quadrinhos de origem indonésia, foram espalhados pelas mídias sociais e chegaram à "Casa das Ideias" e a vários sites de notícias especializados.

Existem três referências controversas na edição, ligadas a mensagens antissemitas ou anticristãs.

A primeira delas se refere à origem judaica da personagem Kitty Pryde. Numa cena, ela está de costas para o leitor e é possível ver a palavra "Jewelry" escrita – com a grafia estadunidense – no cenário, no fundo, posicionada visualmente ao lado esquerda da cabeça da heroína. O significado tradicional em inglês é joalheria, mas sua pronúncia é muito similar à de "jewry", um coletivo para designar os judeus, cujo significado histórico também se refere aos antigos bairros de população judaica numa cidade.

Quadro de X-Men Gold # 1

A segunda referência, no mesmo quadro, é o número 212. Na Indonésia, ele se refere à data 2 de dezembro de 2016, quando ocorreu um grande protesto de indonésios de origem muçulmana contra o governador de Jacarta – a capital do país –, Basuki Tjahaja Purnama, conhecido popularmente como Ahok. Ele é um cristão de origem chinesa e foi acusado de blasfêmia, pelo uso do Alcorão, o livro sagrado do Islã, especificamente o capítulo 5, verso 51, durante uma campanha, usando esses versos contra seus oponentes.

Ainda na mesma cena, também é possível ver o número 51 no boné de um personagem e no peito da camisa de outro. O número volta a aparecer nas páginas seguintes, num quadro no qual Colossus está com uma camiseta com o texto "QS 5:51". Q (Qur'an) se refere ao Alcorão e S (Surah) ao capítulo, ou seja, capítulo 5, verso 51.

Segundo o site Bleeding Cool, o desenhista Ardian Syaf adicionou as referências após ter participado de uma segunda marcha contra Ahok, no dia 21 de fevereiro, postando a imagem da página a lápis com as referências, em seu Facebook. Vale lembrar que a Indonésia é o mais populoso país islâmico, com aproximadamente 263 milhões de habitantes, sendo que mais de 87% deles é de religião muçulmana. Nesse contexto, crimes de ordem religiosa, incluindo a blasfêmia, são considerados graves; e existem muitos problemas com minorias étnicas (javaneses, sudaneses, malaios, chineses indonésios, filipinos, melanésios etc.).

Anteriormente, Syaf havia postado o rosto do presidente da Indonésia, Joko Widodo, conhecido popularmente como Jokowi, numa edição de Batgirl.

Quadro de X-Men Gold # 1

Dezenas de leitores denunciaram as imagens no Facebook e no Twitter, como sendo anticristãs e antissemitas, e de estar propagando uma mensagem de preconceito e intolerância.

Um leitor de Jacarta, Haykal Al-Qasimi, escreveu uma carta aberta para a Marvel Comics, em sua página no Facebook, acusando Syaf de incluir mensagens subliminares contra minorias. Segundo o leitor, "eu não imagino que vocês queiram que suas HQs sejam usadas para espalhar ódio com base na religião de uma pessoa".

A roteirista muçulmana G. Willow Wilson, autora da revista Ms. Marvel, repudiou com veemência a atitude de Syaf em seu blog e no Twitter, e acrescentou explicações importantes sobre uma das razões dessa controvérsia referente a discrepâncias na tradução dos versos mencionados, do arábico – a língua na qual o livro sagrado foi escrita originalmente – para o indonésio.

A Marvel publicou uma declaração oficial repudiando a atitude do artista: "O trabalho artístico de X-Men Gold #1 foi inserido sem o conhecimento de seu significado. As referências implícitas não refletem a visão dos editores, escritores ou de qualquer outra pessoa na editora e estão em oposição direta da política de inclusão da Marvel Comics e ao que os X-Men representam desde sua criação. Essa arte será removida das próximas impressões, das versões digitais e dos encadernados. Ações disciplinares serão tomadas contra o responsável".

Em sua página do Facebook, Syaf continuou postando mensagens sobre a controvérsia, pedindo para as pessoas não acreditarem na mídia social e que ele enviou explicações sobre os números para a Marvel Comics e está aguardando a resposta.

Como era de se esperar, a revista X-Men Gold #1 já esgotou em diversas comic shops dos Estados Unidos e os lojistas já preveem que a edição se tornará rara e colecionável, em virtude da controvérsia.

A revista dos X-Men sempre esteve ligada ao discurso de inclusão, contra o preconceito racial e religioso, e possui dezenas de histórias que lidam com esses problemas. É ainda mais irônico que essa edição em particular fale especificamente do preconceito.

Os X-Men foram criados por Stan Lee e Jack Kirby, dois autores de origem judaica, em 1963.

X-Men Gold # 1

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