Marvel se afasta do desenhista brasileiro Joe Bennett
No dia 9 de setembro, a Marvel Comics confirmou que não terá mais nenhum projeto com o desenhista brasileiro Joe Bennett, após a publicação do trabalho que já foi feito na revista The Immortal Hulk, que se encerrará, em outubro com a edição # 50.
O anúncio veio após uma série de postagens no Twitter, no dia 2 de setembro, do escritor Al Ewing – que trabalhou com Bennett no título do Hulk, desde 2018 –, condenando as atitudes antissemitas e intolerantes do desenhista.
Ewing também afirmou que não fará outras HQs com Bennett, pediu desculpas por não ter se pronunciado antes sobre as polêmicas e disse que entenderia o desinteresse dos leitores por suas HQs, em virtude da sua demora para agir nesse caso.
A “Casa das Ideias” não deu detalhes sobre a razão do afastamento, mas substituiu Bennett no projeto Timeless, uma edição especial com Jed MacKay, Mark Bagley, Kev Walker e Greg Land (no lugar de Bennett).
A polêmica em torno de Bennett começou com um desenho dele de 2017, mostrando um cavaleiro de armadura reluzente decapitando personalidades políticas brasileiras - representados como pequenas criaturas dentuças e orelhudas – e colocando Dilma, Lula e Michel Temer para correr. Temer, diferentemente dos outros, se parece com um vampiro.
Na legenda, Bennett escreveu: “Força, meu Capitão! O Brasil precisa de ti!”; e creditou o colorista Marcos Martins. O Capitão em questão é uma alusão ao então candidato e hoje presidente Jair Bolsonaro.
Posteriormente, em 2019, Joe Bennett apoiou a agressão de Augusto Nunes contra Glenn Greenwald – jornalista do site The Intercept, crítico do governo de Jair Bolsonaro, que foi importante na divulgação de informações desconhecidas sobre Sérgio Moro e a Operação Lava a Jato –, no programa Pânico.
Nessa ocasião, Nunes, jornalista da Jovem Pan, deu um tapa na cara de Greenwald.
O desenhista, na época, postou em seu Facebook a mensagem: “Augusto Nunes, seu caboclo foda! Esse tapa foi meu também! Devia ter dado era um soco!”
O episódio repercutiu mal e os fãs da Marvel questionaram se era o caso da empresa empregar uma pessoa que defendia a violência física. Bennett apagou a postagem e publicou uma carta de desculpas a Greenwald e sua família.
No ano seguinte, Joe Bennett foi criticado por utilizar emojis de riso em relação a comentários transfóbicos numa publicação do Instagram – que também foi posteriormente deletada.
Em fevereiro de 2021, na revista The Immortal Hulk # 43, Bennett desenhou um quadro no qual, numa vitrine de uma joalheria, havia uma estrela de David e a palavra "Jewery" (termo que descreve um grupo de judeus e tem conotações pejorativas) em vez de "Jewelry" (joalheria).
Segundo Bennett, como o texto estava invertido no desenho, ele não percebeu que havia escrito a palavra errada.
A Marvel Comics corrigiu o erro na versão digital e ofereceu às comic shops, a possibilidade de troca, sem nenhum custo, com uma reimpressão sem o texto e a imagem naquele quadro. A editora também admitiu que falhou ao não perceber o problema na edição.
Após esse episódio, o escritor Al Ewing foi informado da charge de 2017 com o cavaleiro perseguindo seus inimigos políticos. Ele interpretou como uma alusão à maneira como os nazistas perseguiam os judeus e outros grupos, frequentemente representados como ratos. E foi a gota d'água para o autor.
O fato de ele tratar do problema com a Marvel, nos bastidores, não oferecia conforto ao público que estava experimentando aquela “propaganda brutal”.
Benedito José Nascimento, cujo nome artístico é Joe Bennett, é um artista de Belém, capital do Pará, que desenhou HQ nacionais por vários anos, antes de ingressar no mercado norte-americano. Seu primeiro destaque na Marvel Comics ocorreu em 1994, na revista Ravage 2099.
Desenhou títulos como Amazing Spider-Man, Captain America, Fantastic Four, The Incredible Hulk, Doc Samson, Elektra, Hawkeye, Nova, X-51 - Machine Man, Captain America and the Falcon e Thor.
Também teve passagens pelas editoras Chaos! Comics, CrossGen, Dark Horse e DC Comics, na qual chegou a ter um contrato de exclusividade. Para a DC, ilustrou Birds of Prey, Hawkman, Hawkgirl, a maxissérie 52 e alguns trabalhos para o selo Vertigo.
O incidente com Joe Bennett não é o primeiro desse tipo. Em 1998, a revista Wolverine # 131 foi recolhida e destruída por conter um termo ofensivo em referência aos judeus, decorrente de um erro entre o editor e o letrista. A edição foi reimpressa e redistribuída.
Em 2017, o artista Ardian Syaf, da Indonésia, escondeu mensagens antissemitas e anticristãs nas páginas de X-Men Gold # 1, e teve seu contrato cancelado.