Memória Disney: saúde ao alcance de todos
Um
império do entretenimento tão antigo quanto prolífico como a Disney
tem muitos cases de sucesso, como se diz no jargão marketista.
Alguns dos mais interessantes, porém, não foram resultados de ações comerciais
ou apostas em grandes produções.
Entre outros exemplos, assim foi a incursão da empresa em iniciativas
na área da saúde pública, com HQs e curtas-metragens que revelam o quanto
a Disney participava dos assuntos de interesse da sociedade, algo
difícil de observar em sua gestão atual.
Tudo
começou em 1938, quando os estúdios criaram uma animação em que Mickey
Mouse, Pato Donald e outros personagens dançam e cantam para divulgar
a primeira edição do March of Dimes, campanha que, até hoje, sempre
no mês de março, arrecada 10 centavos de dólar por doador para a National
Foundation for Infantile Paralysis (Fundação Nacional para a Paralisia
Infantil) nos Estados Unidos.
A partir daí, aconteceram outras iniciativas da Disney em apoio
à causa, inclusive com a participação das revistas em quadrinhos.
Nesse período, veio As Drogas de Sulfa (The Sulfa Drugs),
um anúncio em forma de HQ divulgado em abril de 1944 na revista norte-americana
Look, publicação direcionada ao público adulto. A história mostra
Mickey usando experimentos contra a gonorréia em outros ratos, até que
ele mesmo toma um remédio milagroso à base de sulfanilamida. Quem também
participa da inusitada aventura é João Bafo-de-onça, o maior inimigo do
camundongo.
Em
1946, foi a vez de A História da Menstruação (The
Story of Menstruation) aparecer na tela grande. O desenho animado,
com dez minutos de duração, foi produzido em parceria com a International
Cellu-Cotton Company, e fazia um merchandising matreiro da
Kotex, linha de produtos de higiene íntima feminina.
O teor do filme é bastante brando, em tom sutil e clínico, sem fazer qualquer
referência ao sexo ou à reprodução humana, mas informa sobre a naturalidade
da menstruação e a importância da higiene que se deve manter "naqueles
dias". Estima-se que cerca de 80 milhões de mulheres assistiram à película
nos Estados Unidos.
Muitos anos depois, em 1973, o estúdio enveredou novamente pelas plagas
da saúde pública em O Plano de Ataque das DV (VD
Attack Plan), com 16 minutos de animação em cores sobre as doenças
venéreas.
Não era a primeira vez que a Disney fazia um desenho animado sobre
o assunto. Em 1944, a companhia produzira um curta-metragem para os soldados
que participavam da Segunda Guerra Mundial. Como o público era formado
por homens adultos, o assunto não despertou celeuma, considerando-se a
sociedade recatada da época.
Mas, no caso da produção da década de 1970, o objetivo era atingir estudantes
adolescentes e até o departamento de marketing da Walt Disney Co.
reconheceu a ousadia do empreendimento, mesmo sabendo que o tema exigia
uma campanha agressiva.
Isso incluía um exército de germes da sífilis e da gonorréia saltitando
na tela e até referências ao homossexualismo. Ou, ainda, o incentivo ao
uso de preservativos, o que não acontecia, até então, nos filmes educativos
que pregavam a abstinência sexual como o único meio de evitar doenças
venéreas e gravidez indesejada.
Mais do que um badalado cult movie entre os fãs de animação nos
Estados Unidos, esse trabalho tem outro motivo para ser reconhecido como
uma das produções mais marcantes da Disney: até hoje, o desenho
é exibido, com muito sucesso, em diversas escolas daquele país.