Millôr Fernandes morre aos 88 anos
O escritor Millôr Fernandes faleceu na noite da última terça-feira, dia 27 de março, em sua casa no Rio de Janeiro/RJ, vítima de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Ele tinha 88 anos e há algum tempo enfrentava problemas de saúde - em 2011, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e ficou internado durante cinco meses na Casa de Saúde São José, na capital carioca.
Além de escritor, Millôr era cartunista, dramaturgo, poeta, tradutor e jornalista.
Batizado como Milton Fernandes, nasceu no dia 16 de agosto de 1923, mas foi registrado oficialmente apenas em 27 de maio de 1924. Ao ler sua certidão de nascimento, percebeu que a grafia de seu nome parecia "Millôr", nome assumido por ele, profissionalmente, em 1941.
Começou sua carreira como jornalista, em 1938, na revista O Cruzeiro, e participou da equipe que levou a modesta tiragem de 11 mil exemplares a aumentar para 750 mil. Ao longo da carreira, passou por diversos veículos de comunicação, atuando como colunista e cronista, nos jornais Diário da Noite, O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, O Dia, Jornal do Brasil, Correio Braziliense e Folha de S. Paulo e nas revistas A Cigarra, Veja e IstoÉ.
Autodidata no aprendizado da língua inglesa, sua primeira tradução foi para Dragon Seed (A Estirpe do Dragão), romance de Pearl S. Buck, em 1942, e foi um dos principais tradutores das obras de William Shakespeare no Brasil. Ele escreveu mais de 50 livros, dentre obras inéditas e compilações de textos de humor e desenhos produzidos para a imprensa, além de peças teatrais e roteiros para o cinema.
No final da década de 1960, Millôr foi um dos fundadores do jornal O Pasquim e levou o humor às publicações alternativas, com fortes críticas políticas, na época em que o Brasil vivia o auge da censura imposta pela ditadura militar. Ele teve muitos problemas envolvendo políticos e censura, que atingiram seus trabalhos para programas de televisão e artigos jornalísticos.
Em 2000, estreou seu site oficial, que traz uma coletânea de seus trabalhos.
Uma área para a qual o autor que reservava um carinho especial era a dos cartuns. A popularização das histórias em quadrinhos, em 1934, também atingiu Millôr, que se tornou leitor assíduo de publicações do gênero. Nesse meio, que ele consideraria mais tarde como a maior e mais legítima influência em sua formação de humorista e escritor, encontrou uma forma de dar vazão à sua criatividade.
Aos 11 anos e estimulado por um tio, ele enviou um desenho para o periódico carioca O Jornal. O trabalho foi aceito e publicado, rendendo ao jovem e talentoso artista um pagamento de dez mil réis.
Millôr estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e produziu diversas charges ao longo da carreira. Em 1955, ganhou prêmio como desenhista na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires e, em 1978, foi homenageado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
Por duas vezes, Millôr teve suas obras em exposições individuais no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.