Morreu Claude Moliterni, historiador de quadrinhos e fundador do Festival de Angoulême
No
dia 21 de janeiro faleceu, de causas naturais, aos 76 anos, Claude Moliterni,
um dos grandes pesquisadores dos quadrinhos. Moliterni foi escritor, roteirista,
editor, pesquisador, curador e, acima de tudo, um grande divulgador dos
quadrinhos.
Por uma triste coincidência, Moliterni morreu poucos dias antes
do 36º Festival de Angoulême, que começa no dia 29 de
janeiro, evento do qual ele foi um dos fundadores.
Moliterni nasceu em 21 de novembro de 1932, em Paris, na França, e é um
dos grandes responsáveis pela popularização dos quadrinhos naquele país.
Seu envolvimento com a pesquisa de quadrinhos começou cedo. Na década
de 1960, ele já ganhava posição de destaque dentro do cenário francês.
Em 1964, Claude Moliterni tornou-se presidente da Socerlid - Société
civile d'études et de recherches des littératures dessinées (Sociedade
Civil de Estudos e de Pesquisa da Literatura Desenhada).
Naquela
década, ele escreveu o roteiro de diversas HQs, dentre elas, Scarlett
Dream, de 1965, desenhada por Robert Gigi, e publicada na revista
V Magazine. Em 1966, criou a revista de estudos das histórias
em quadrinhos, Phénix, publicada pela Dargaud,
da qual foi o redator-chefe até o final da publicação, em 1977. Em 1968,
publicou na Phénix a HQ Orion, também com arte de Gigi.
Também foi em 1966 que Moliterni fez parte da comissão organizadora do
Festival de Quadrinhos de Lucca, na Itália.
Juntamente com Pierre Couperie, montou, em 1967, uma exposição de quadrinhos
no Musée des arts décoratifs de Paris (Museu de Artes
Decorativas de Paris). O evento foi um grande sucesso - servindo de modelo
para outras mostras do gênero - e espantou as dúvidas da mídia francesa,
que naquela época ainda tinha uma relação tímida e desconfiada com os
quadrinhos.
A
exposição resultou no livro Bande Dessinée et Figuration Narrative,
publicado em 1967, e escrito em parceria com Couperie e outros escritores.
Em 1968 começou a publicar a série Amik, desenhada por Claude
Le Gallo e publicada no Journal de Tintin até 1971.
Dando sequência às suas atividades como organizador de eventos
de quadrinhos, Moliterni criou, em 1969, a Convention de la bande
dessinée à Paris.
De 1969 a 1971, Moliterni foi o diretor da revista mensal Pogo-Poco.
Logo em seguida, assumiu a publicação Les Pieds Nickelés Magazine,
de 1971 a 1972. Em 1972, publicou no Il Corriere dei Ragazzi
a história Agar, desenhada por Gigi.
Seu segundo livro teórico sobre quadrinhos foi L'Histoire de la bande
dessinée d'expression française, da Éditions Serg,
lançado em 1972.
Moliterni
foi o diretor de redação das revistas Pilote e Charlie Mensuel,
de 1973 a 1989. Mas um de seus maiores feitos aconteceu em 1974, quando
se tornou um dos fundadores do Festival Internacional de Quadrinhos
de Angoulême.
Naquele ano, Moliterni também escreveu Sweet Délice, com
o pseudônimo de Céhem. A HQ foi desenhada por Loro, e publicada na Pilote.
Nesta época, era o "diretor literário" da editora Dargaud,
e acabou se tornando o chefe de redação da revista Lucky Luke,
de 1974 a 1975.
Comprovando que 1974 foi um ano muito importante na vida de Moliterni,
o autor escreveu os dois primeiros volumes da L'Encyclopédie de la
Bande Dessinée, outra publicação da Éditions Serg, lançados
respectivamente em 1974 e 1975.
O
polivalente Moliterni também foi chefe de redação da Captain Fulgur
entre 1980 e 1981. Em 1980, Moliterni lançou outro livro, l'Histoire
Mondiale de la Bande Dessinée, desta vez pela Éditions Horay.
No ano de 1983, Moliterni voltou aos eventos e foi um dos organizadores
do Festival d'Ajaccio, na Córsega; do Salon de
la BD de Chambery; e do Salon international des comics
et du film d'animation, em Roma, na Itália.
Junto com Philippe Mellot e Michel Denni (autores do guia BDM)
escreveu, em 1986, Images Passions. Em 1987 dedicou-se a uma
monografia sobre Hugo Pratt, publicada na editora Seghers.
No início da década de 1990, colaborou com Philippe Bronson e Édouard
François em L'Aventure de la bande Dessinée (Éditions
Nathan). Assunto que seria retomado em 1996, em Les Aventures
de la Bande Dessinée, lançado pela Gallimard.
Outro de seus livros teóricos é o Dictionnaire Mondial de la Bande
Bessinée, publicado pela Larousse, em 1994.
Voltou a colaborar com Philippe Mellot na criação de Chronologie de
la bande dessinée, da editora Flammarion,
de 1996.
Com a chegada de novas mídias como os CD-ROMs interativos, na década de
1990, Moliterni trabalhou com Nathalie Michel, Isabelle Morzadec, Michel
Denni, Philippe Mellot e Laurent Turpin na criação de um dos primeiros
CDs interativos sobre quadrinhos, Les Héros de la bande dessinée internationale
et leurs auteurs, lançado em 1998 pela Oda.
Também trabalhou com o desenho animado, escrevendo, em 1998, os roteiros
de 26 episódios da série Les Ailes du Dragon, desenhados por
Patrice Serres.
Já no século 21, Moliterni foi um dos fundadores do site BDZoom,
junto com Laurent Turpin e Philippe Mellot, especializado em quadrinhos.
Um dos últimos eventos organizados por ele foi o Romacartoon,
em 2005.
Seus últimos livros teóricos foram l'ABCdaire de la Bande Dessinée,
lançado em 2002 pela Flammarion;
e Omnibus Le BD Guide 2005, junto com Philippe Mellot, Laurent
Turpin, Michel Denni e Nathalie Michel.
Os eventos e lançamentos descritos acima são apenas um resumo da obra
de Moliterni. Além deles também se destacam mais uma dezenas de HQs escritas
em parceria com artistas como Brocal Remohi, Walter Fahrer, Jesus Blasco,
Paul Gillon, Victor de la Fuente, Max Lenvers, Sicomoro, Nikita Mandryka,
Pierre Dupuis, G. Alessandrini e J.M. Ruffieux. Também colaborou com frequência
com Maurice Horn.
Se isso tudo já não fosse o suficiente, Moliterni ainda publicou dezenas
de romances policiais e de espionagem com os pseudônimos Éric Cartier,
Cehem, Olivier Fontaine, Karl von Kraft, Frank Sauvage, Marc Jourdan e
Yves Sinclair.
Difícil negar que a Nona Arte perdeu um de seus maiores pesquisadores
e divulgadores.