Morreu Luis Augusto Gouveia, autor de Fala, menino!
O dia 20 de janeiro de 2018 começou com uma notícia extremamente triste para o quadrinho nacional: morreu, vítima de um enfarte, o baiano Luis Augusto Gouveia, autor da série Fala, menino! O sepultamento aconteceu ontem, no cemitério Bosque da Paz, em Salvador. O autor tinha 46 anos (completaria 47 no próximo dia 3 de fevereiro), e deixa o filho Ben.
Peço licença aos nossos leitores, mas este obituário terá um tom diferente do utilizado habitualmente no site. Porque Luis Augusto era uma pessoa muita querida por mim. Eu o conheci no final dos anos 1990, quando o Universo HQ nem existia ainda. A preocupação que ele tinha em realizar a inclusão nos seus trabalhos – muito, muito antes de se falar mais sobre isso com a ênfase necessária – me encantou.
Devorei todos os livros que ele me enviou de Fala, menino! – nunca descobri como ele conseguiu meu endereço na época. E, para quem não conhece o material, que existe desde 1996, o protagonista da série, Lucas, nunca disse uma palavra! Grande sacada, né? E a diversidade se estendia aos demais personagens. Rafael é cego, Mirela é surda, Mateus é autista, Esmolinha e Diogo são crianças de rua etc. Luis Augusto abordava tudo em seus trabalhos: separação de pais, homossexualidade, racismo, pobreza, religiões, deficiências físicas. Sempre sob um ponto de vista lúdico.
O resultado foram prêmios como o HQ Mix de melhor livro infanto-juvenil de 1997, e o primeiro Prêmio Ibero-americano de Comunicação pelos Direitos da Infância e Adolescência, do UNICEF, em 1999.
Como me tornei fã do material, quando o Universo HQ mudou de visual pela primeira vez, em março de 2001, convidei Luis Augusto a ter as tiras de Fala, menino! publicadas no site, ao lado de Flávio Luiz, com Rota 66, do mestre Julio Shimamoto, com Gaúcho, e dos hoje saudosos Flavio Colin, com Vizunga, Renato Canini, com Tibica, e Antonio Cedraz, com Turma do Xaxado.
A partir daí, acompanhei o trabalho de Luis Augusto pela internet e nos encontros que tínhamos em eventos pelo Brasil; e era sempre recebido com um sorriso aberto, um caloroso abraço e muitas novidades. Ele publicou dezenas de livros (de quadrinhos e literatura) de Fala, menino!, por diferentes editoras, teve animações da série e estrelou várias campanhas institucionais com seus personagens.
Em 2010, tive o prazer de editar uma história dele na coletânea MSP + 50 – Mauricio de Sousa por Mais 50 Artistas (Panini), na qual Lucas contracena com os personagens da Turminha.
Há alguns anos, Luis passou a produzir outra série: Ben e a bisa, baseada nas peripécias reais de seu filho, que também ganhou vários livros. As histórias eram postadas em seu site oficial e nas redes sociais do autor.
Muito antenado em tudo ligado à Cultura Pop, Luis Augusto era um grande fã de séries e, especialmente, do Superman. Suas últimas postagens foram exatamente ligadas a isso: no Facebook, desaprovando a volta da "cueca" vermelha ao uniforme do Homem de Aço; e no Instagram, uma foto da sua coleção de naves de Star Trek.
A paixão de Luis Augusto pelos quadrinhos e, principalmente, a sua preocupação em levar ao público infantil as mais diversas visões da vida farão uma falta danada. Que sua obra siga falando por ele.