Morreu Ruy Perotti, craque dos quadrinhos e da animação
Os
mercados brasileiros de quadrinhos e de animação acordam de luto nesta
segunda-feira. Ontem (18 de setembro), morreu vítima de um câncer no fígado,
aos 69 anos, Ruy Perotti, criador de personagens inesquecíveis dos gibis
e das propagandas de TV.
Natural da cidade de Valença, no Rio de Janeiro, Perotti começou a carreira
como desenhista de quadrinhos, aos 19 anos, na Editora Brasil-América
- Ebal, de Adolfo Aizen.
No
ano seguinte, mudou-se para São Paulo, onde criou a Lynxfilm, empresa
responsável por cerca de 1500 comerciais de TV e curtas-metragens clássicos,
como as primeiras campanhas com a Turma da Mônica, de Mauricio
de Sousa.
Entre as crias mais famosas de Perotti na animação destacam-se o Sujismundo,
que estrelou uma campanha nacional sobre combate à falta de higiene, e
o Tucano que por muito tempo foi a mascote Varig.
Nos quadrinhos seu legado não foi menos importante. Durante a década de
1970, na Abril, editora em que exerceu os cargos de diretor de
criação, vice-diretor editorial e diretor de promoções, criou projetos
como a Recreio e deu vida a personagens como Gabola e o
impagável Satanésio, que tiveram até títulos próprios.
Satanésio
é um "diabão", que estreou na revista Crás
e triste pelo fato de ninguém mais ir ao inferno, já que os humanos transformaram
o próprio planeta num lugar similar, resolve dar um pulo "no andar de
cima" para conseguir clientes. Constantemente desmoralizado, acaba tendo
até que agüentar um anjo da guarda que quer protegê-lo, o Anjoca. Os roteiros
do autor buscavam sempre uma crítica social.
Perotti explorava de modo singular os personagens nas histórias do Satanésio,
com liberdades criativas que levaram o atrapalhado diabo, no último número,
a queimar as páginas de seu próprio gibi. E ainda dispara: "revista imbecil,
onde sempre levo a pior", para logo em seguida tomar um verdadeiro banho
numa chuva provocada pelo Anjoca.
Recentemente, Perotti autorizou o Universo HQ a publicar uma história
do personagem, que você confere aqui,
para matar a saudade.
Ruy Perotti ainda foi presidente da Associação Brasileira de Merchandising
e, de 1980 a 1983, ocupou o cargo de diretor de criação da Rio Gráfica
e Editora (hoje Globo). Em vários momentos de sua vida ministrou
aulas em escolas e universidades, para passar um pouco de sua experiência
e, nos anos 70, teve até um estúdio, o Arstudium.
Em 1988, fundou a Signos
Comunicações, que trabalha na área de criação e produção editorial,
televisiva e cinematográfica para o mercado infanto-juvenil. E o legado
de Perotti passou para seu filho Guilherme Alvernaz, um dos maiores animadores
de São Paulo e que, a partir de agora, tocará a empresa sozinho.