Moulinsart consegue liminar proibindo programa da TV belga
Moulinsart,
companhia que administra o patrimônio de Hergé (criador do Tintim), conseguiu
que a justiça da Bélgica impedisse a exibição de partes do documentário
Tintim: ele vendeu sua alma ao demônio?, do canal RTBF
(Radio télévision belge de la communauté française),
cujo tema central é: Será que a Moulinsart mantém uma
lista negra de jornalistas?
O documentário seria exibido na quarta-feira passada, 10 de outubro de
2007.
O material proibido tem duração de dois minutos e foi filmado com uma
câmera oculta, e mostra dois funcionários e um dos administradores do
patrimônio de Hergé, Nick Rodwell, o diretor-executivo da Moulinsart
(e atual marido de Fanny, a viúva de Hergé).
A TV RTBF decidiu cancelar a exibição do programa por
enquanto. No segmento proibido, Nick Rodwell revelaria a existência de
uma lista negra com especialistas sobre Hergé que não são bem vistos pela
Moulinsart.
Numa declaração oficial, a RTBF protestou contra o que
chamou de "censura contrária à liberdade de informar". O canal já apelou
da decisão na Justiça.
O assunto virou uma grande polêmica, com direito a matéria no jornal francês
Le Monde e protestos da Associação dos Jornalistas Profissionais
da Bélgica (Association des Journalistes Professionnels
de Belgique).
A empresa Moulinsart governa com "mão de ferro" sobre
o patrimônio de Hergé, desde sua morte em 1983. Tanto a Fundação
Hergé quanto Rodwell vêm sendo bastante criticados por "Tintinólogos"
e "Tintinófilos" (termos franceses usados para designar especialistas
e aficionados por Tintim) pelo fato de estarem dando atenção somente aos
lançamentos de itens luxuosos e caros, que aos poucos vão minando a popularidade
de Tintim.
Rodwell diz que é tudo mentira e difamação. O comunicado oficial da Moulinsart
afirma que a boa fé da empresa foi abusada. Segundo o comunicado, a equipe
da RTBF, teria feito estas filmagens em segredo e sem
o conhecimento da Moulinsart e de seus funcionários e
sabendo que Rowdwell havia se recusado a dar qualquer entrevista.
Ainda segundo o comunicado, o motivo do encontro foi engendrado pra criar
esta oportunidade de gravação secreta, método usado para flagrar corruptos
e traficantes, disfarçado como uma reunião de negócios, sobre uma possível
colaboração entre as duas empresas.
A Moulisart realça o que classifica como falta de ética
dos jornalistas envolvidos no incidente e diz que só impediu a divulgação
do trecho de dois minutos filmado em segredo, o resto do documentário
foi cancelado, ou até mesmo auto-censurado pelo próprio canal.
Este assunto, sem dúvida, ainda está longe de ser resolvido.