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Nova HQ de Zoe Thorogood trata de depressão e síndrome do impostor

11 abril 2024

Está em pré-venda a HQ É solitário no centro da Terra (formato 17 x 26 cm, 192 páginas, capa cartonada, R$ 79,90), de Zoe Thorogood, autora de A cegueira iminente de Billie Scott, ambas publicadas pela Conrad.

Este novo trabalho é uma história autobiográfica, na qual a autora fala sobre suas experiências como artista, a solidão que a envolve e, principalmente, sua saúde mental testada por pensamentos obsessivos de suicídio amplificados pela sua síndrome de impostora.

Na obra, que tem previsão de lançamento para 30 de abril, Zoe aplica uma série de estilos: esboço, realista, caricatura, grotesco. Assim, mostra ao leitor o emaranhado de pensamentos que a atormentam e suas mudanças repentinas de humor. Até as cores são usadas para passar sensações, como, por exemplo, uma música ressoando em acordes para melhor ou para pior.

Zoe relata seis meses de sua vida à deriva e depois sua tentativa de se recompor. Ela realiza, ao longo da trama, uma escavação ativa e profunda de si mesma, que traça os efeitos contínuos do passado ao longo de sua vida. Além disso, examina por que e como age no presente. Um fluxo emocional ininterrupto de seus pensamentos e sua personalidade multifacetada.

Definitivamente, não é uma história que vai do ponto A ao ponto B. Ela obedece às variações no estado mental em episódios do passado e do presente com muita naturalidade. De forma artística, mas também confusa, alimentada pela angústia que permeia a mente da autora.

E vale enfatizar: esta não é uma HQ de autoajuda, que mostra como sair da depressão. Longe disso.

A intenção de Zoe é exatamente o contrário. É mostrar que a cabeça de alguém que sofre de depressão é uma grande bagunça, que há vermes rastejando sob seus braços e um gato zumbi lhe faz companhia. Uma presença sombria que é evocada quando tudo parece estar indo bem.

O fluxo da narrativa termina com uma reflexão: a vida é apenas uma coleção de experiências boas e más unidas pelo vazio intermediário. E esse vazio é o espaço para ser moldado, um espaço para controlar e criar.

É solitário no centro da Terra traz um testemunho do poder transformador da arte. Thorogood investiga o papel da criação artística como meio de sobrevivência e autodescoberta. A HQ se torna um espelho que reflete a jornada da artista, destacando a catarse e a liberação emocional que advêm de colocar a alma em seu trabalho.

Os métodos narrativos de Zoe vão de documentário, quando apresenta em flashback um momento-chave de sua existência que se tornaria sua primeira webcomic, à comédia, como um mundo em desenho animado com ela como protagonista, cercada por pessoas surreais e aterrorizantes.

Há histórias sobre automutilação, suicídio e uso de drogas, mas a liberdade com que esses temas são tratados de alguma forma ajuda a compreendê-los. A doença mental não é escondida como uma vergonha, mas sim revelada. É Zoe dizendo “Sim, essas coisas acontecem e são uma merda”.

O álbum capitaliza a experiência de vida por meio da representação mais honesta possível. Em certos momentos, a autora parece egoísta tratando somente de si. Mas, na verdade, ela tem aspectos altruístas. Pois ser tão honesto e transparente e mostrar as próprias vulnerabilidades, permite aos leitores ver os demônios de Zoe Thorogood como se fossem seus e compreender que eles também não estão sozinhos.

Talvez seja justamente essa consciência que se ganha ao final da leitura. Ninguém está sozinho, no centro da Terra.

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