Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Nova X-Force será lançada sem o selo do Comics Code Authority

19 abril 2001

Comic Code AuthorityEm maio, todo o universo mutante passará por uma reformulação, e a revista X-Force faz parte das mudanças. Passado para as mãos do editor Axel Alonso (ex-Vertigo, e também responsável pelas revistas do Homem-Aranha), o título mudará totalmente. Um novo time criativo, formado por Peter Milligan (argumentos) e Mike Allred (desenhos), será responsável pelas tramas, estreladas por novos personagens.

Mas, na última semana, um novo fato veio dar mais destaque à X-Force #116. A Marvel foi comunicada que o título foi recusado pelo Comics Code Authority, chamado por aqui de Código de Ética, que analisa as revistas e coloca seu selo nas capas das mesmas.

Pense em algo parecido com o aval do Inmetro, que serve para certificar se determinado produto obedece às regras de qualidade e segurança para ser vendido. Entretanto, no caso do selo para os quadrinhos americanos, mostra que a revista está "apta" para ser vendida ao público, levando em conta certos aspectos das histórias, como, por exemplo, se o conteúdo é exageradamente violento, apelativo etc.

"Existe uma qualidade estética na história, que o código objetou", explicou Joe Quesada, editor-chefe da Marvel. "O mundo que Peter e Mike criaram para a X-Force é único, diferente de tudo que já vimos nos títulos mutantes, junto com alguns temas que eles pensam ser muito adulto ou sofisticado para os leitores atuais. Em outras palavras, querem que todas as coisas que fazem essa revistas ser legal, sejam retiradas".

O editor Axel Alonso disse, com maiores detalhes, o que aconteceu. "Mike fez de tudo para passar aos leitores o impacto da violência, com coisas que estão fora dos padrões do código. Existe também algum contexto sexual, tudo subentendido, que eles entenderam de forma errada. X-Force lida com adultos em situações extremas, então, não estou completamente chocado com o que aconteceu. Está fora da minha alçada fazer Mike mudar seu trabalho, provavelmente, um dos melhores que ele já produziu".

A solução encontrada pela editora foi simples. Nada será mudado, e a revista será vendida sem o selo do Comics Code Authority. "Embora tenhamos tempo hábil de fazer as modificações, eu me recuso. Assim, essa edição será sem o selo", disse Quesada. "Todos aqui na Marvel leram a revista, e a resposta foi unanimemente positiva. Mudar algo seria um tremendo desserviço ao Peter e Mike".

A última vez que algo assim aconteceu na editora foi em 1971, com o arco de histórias publicados entre Amazing Spider-Man #96 e #98, escritas por Stan Lee, onde eram comentados assuntos referentes às drogas.

X-Force # 116X-Force # 117

Apesar de tudo, esse imprevisto pode - e deve - ajudar muito nas vendas. As edições seguintes continuarão se submetendo à avaliação do código, assim como todas as publicações, tanto da Marvel, quanto das demais editoras.

O Comics Code Authority foi criado em 1954, pela Comics Magazine Association of America. A CMAA foi fundada por John Goldwater, na época editor da Archie Comics, e todas se uniram a ela, com exceção da Dell. A necessidade da criação de um código se fez necessária para evitar a intervenção do Congresso americano, com uma legislação para restringir os quadrinhos.

Tudo isso aconteceu graças ao livro Seduction of the Innocent (Sedução do Inocente, em português), de Fredric Wertham. Formado em medicina na Universidade de Wurzburg, Wertham se tornou psiquiatra-chefe do Hospital Belleview, onde começou um estudo sobre saúde mental e comportamento criminoso.

Sua pesquisa o levou a lançar o livro, e a atacar os quadrinhos como forma de alienação de crianças, influenciando-as negativamente, desde a criminalidade até ao homossexualismo. A partir de então, teve início uma grande caça às bruxas, inclusive com revistas sendo queimadas em praças públicas.

Agora, fica a pergunta. Para que serve, hoje em dia, o selo de um código de autorização colocado nas capas das revistas, que atua quase como censura, remanescente da ignorância e preconceito de uma época onde os quadrinhos foram escolhidos como bode expiatório para justificar possíveis "desvios comportamentais" de crianças?

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