O Louco: 35 anos de maluquice nos quadrinhos
Licurgo
Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco, não é um sujeito fácil
de lidar. Que o diga o Cebolinha, desde 1973 fazendo dupla com aquele
tresloucado em histórias surreais e bizarras que deixam o garoto com os
nervos à flor da pele e continuam divertindo leitores de diversas gerações.
"O Louco tem muito das loucuras dos anos 1970 e foi idealizado pelo meu
irmão Márcio, que na época era roteirista dos nossos estúdios. A figura
foi baseada em um dos desenhistas, o Sidney Salustre, que está conosco
até hoje. Mas é só na aparência, pois o nosso desenhista é muito certinho
da cabeça", revelou Mauricio de Sousa ao Universo HQ.
O personagem fez sua estréia em Cebolinha # 1, da Editora Abril,
na aventura Uma história muito louca (republicada em 2008 pela
Panini Comics, na Turma
da Mônica Coleção Histórica - Volume 1). No início, ele era apenas
um coadjuvante que vivia internado em um hospício e de lá costumava fugir,
invariavelmente encontrando no caminho o Cebolinha - a quem, tempos depois,
passou a chamar de Cenourinha, para incontida irritação do menino.
Foi
com o passar dos anos que ele começou a protagonizar histórias divertidamente
estapafúrdias, sem nenhuma amarra com a lógica, logo transformadas em
clássicos da Turma da Mônica e que fizeram o personagem ganhar
muitos fãs declarados.
"No início, ele era louco, mesmo. O cara que 'viajava', imaginava coisas.
A 'piração' estava na cabeça dele. Hoje, cada roteirista tem a sua visão.
Alguns optam pelo estilo da metalinguagem, como nas historinhas do Bidu.
Algo como... de uma hora para outra chove elefantes e números jogam futebol.
Mas é a visão de cada um. O Louco tradicional ainda existe. Ultimamente,
têm sido feitas muitas histórias nesse estilo que ainda não foram publicadas",
disse Mauricio de Sousa.
É preciso ter um parafuso a menos para conceber tanta maluquice? O criador
da Turma da Mônica diz que a tarefa é mais árdua do que parece.
"Apesar de, aparentemente, ser fácil fazer uma HQ nonsense, amalucada,
não é assim com o Louco. Tem que haver um determinado ritmo, uma seqüência
de ações e reações como um remoinho, sem saída para quem está ao lado
dele - é o que acontece com o Cebolinha, geralmente. O Márcio conta que
nos primeiros tempos era comum ele começar uma história e ela já ir seguindo
para a arte-final, mesmo antes que o roteiro estivesse totalmente pronto.
A história era viva, desenrolava-se à medida que a revista tinha necessidade
de mais algumas páginas", afirmou.
O
roteirista Paulo Back, que já criou algumas aventuras do personagem, tem
a mesma opinião. "Não é fácil escrever historias do Louco. Tem que ter
aquela pitada de nonsense, mas sem soar falso ou previsível. É
começar a escrever a história e deixar ela mesma se encaminhar. Você não
sabe como ou quando ela vai acabar".
Durante essas mais de três décadas, o Louco passou por outras transformações,
além da mudança de estilo dos roteiros nas suas histórias. O visual, antes
mais fiel a quem lhe serviu de inspiração, acompanhou o traço mais "rechonchudo"
das outras criações da Turma da Mônica e, na área do politicamente
correto, não escapou de se adaptar aos novos tempos. "Por precaução e
respeito, ele agora não pula mais do muro para fugir de alguma clínica,
não mora num hospício e não termina as historinhas amarrado numa camisa
de força, como acontecia antigamente", explica Mauricio de Sousa.
Apesar
de não ser título de um almanaque periódico (ao contrário de personagens
de outros núcleos que já têm o seu, como Astronauta, Penadinho e Mingau),
o Louco já protagonizou quatro edições da Coleção Um Tema Só, pela
Editora Globo, e foi importante e indispensável para a trama do
álbum de figurinhas em forma de quadrinhos A
Volta do Capitão Feio.
Além disso, ele tem participado de alguns desenhos animados, mostrando
que seu potencial não se resume apenas às páginas das HQs.
Enquanto não estrela uma coletânea especial pela Panini, o Louco
continua fazendo suas aparições nos gibis mensais da garotada do Bairro
do Limoeiro. Mais que isso, ele está bem sóbrio na série Turma
da Mônica Jovem, na qual virou professor de uma escola e, até
agora, não fez nada que lembrasse os velhos e malucos tempos.
Isso poderia ser a confirmação do que apregoa uma “teoria
conspiratória” surgida por aí?" Mauricio de Sousa
garante que não: "Alguns ousaram duvidar de sua existência real.
O Louco seria uma ilusão criada pelo Cebolinha, talvez de tanto o garoto
levar coelhadas. Mas essa versão é derrubada pela presença dele em historias
de outros personagens".
Esses fãs são mesmo malucos.