Por Sidney Gusman, sobre o press release

Quem pensa que Mauricio de Sousa cria apenas personagens "bonzinhos", certamente desconhece o passado do autor. E uma prova disso é o livro As melhores tiras de Nico Demo (formato 20,8 x 13,7 cm, 96 páginas em preto e branco, R$ 16,00), que a Editora Globo lançou durante a XI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

O personagem nasceu com o Jornal da Tarde, em 4 de janeiro de 1966 e, mesmo nos dias de hoje, enquadra-se perfeitamente na definição "politicamente incorreto".

Nico Demo é desconhecido por grande parte do público porque é justamente a "antítese dos personagens que fazem tudo dar certo no final", define Mauricio. "Ele surgiu para ser diferente de tudo o que eu havia feito naquela época; e para que não fosse nem herói, nem mocinho".

E realmente conseguiu. Nico Demo mostrava um lado entre o absurdo e o cruel da vida. Era um personagem sarcástico, que provocava as maiores confusões.

Sem nenhum texto, traço serrilhado e em preto-e-branco, as tiras descontentaram os leitores. Sob forte pressão, Nico Demo foi cortado. Mas Mauricio de Sousa defende a cria: "Era apenas um bem-intencionado desastrado, que tentava ajudar do jeito que sabe". Na abertura o livro, o autor diz achar "que ele veio antes do tempo".

O loirinho Nico Demo era autêntico e sincero, sem estar preocupado com o certo ou errado. E, de vez em quando, aprontava com os outros. Isso na década de 1960, quando o Brasil sentia o peso do AI-5 e vivia na censura, reprimido.

As melhores tiras de Nico Demo reúne 182 tiras publicadas no Jornal da Tarde, é uma boa oportunidade para conhecer o lado "obscuro" de Mauricio de Sousa, o maior autor brasileiro de HQs em atividade, que, com este lançamento, está comemorando a impressionante marca de 1 bilhão de títulos vendidos.