O preconceito e o inesperado em Ken Parker 36
Com desenhos de Ivo Milazzo, Direito e Avesso, episódio do volume #36 de Ken Parker é, provavelmente, a mais mirabolante experimentação em roteiro de Giancarlo Berardi.
O primeiro quadro começa como se fosse o último, com a palavra "fim". Não significa que a cronologia esteja invertida. É somente uma ênfase para o monólogo de um velho senhor que se queixa do atraso do amigo para um compromisso.
A seguir, corte na história: numa noite fria de inverno em Helena, Montana, Ken Parker se dirige a um teatro popular, onde o espetáculo já começou. Descobre-se, então, que a fala de abertura da história faz parte da comédia que está sendo apresentada.
Enquanto a música toca e lindas garotas dançam à francesa, o herói solitário procura um lugar para se sentar. Depois de algumas engraçadas situações, ele se depara com o corpo de um homem esfaqueado no peito num dos camarotes.
Chega a tempo de ver no local dois suspeitos, que investem contra ele. Sob intenso tiroteio, Parker foge pelos corredores do teatro. Um dos assassinos se aproveita do tumulto para acusar o fugitivo da autoria do assassinato.
Para sua surpresa, o acusador é o xerife da cidade. Graças à ajuda de uma dançarina, Parker consegue escapar. Na verdade, não se trata exatamente de uma mulher, mas de um rapaz com trejeitos femininos que instantaneamente se afeiçoa ao herói em fuga. Este não vê outra saída senão concordar com o plano de sair do teatro vestido de mulher.
Nessa brincadeira está a justificativa para o título da história. Não demora para que o riso dê lugar ao drama. No convívio entre os dois, Parker conhece de perto o preconceito contra os homossexuais. Nasce, então, uma intensa amizade, totalmente desprovida de caráter sexual e que é, para o herói, sua única esperança de não pagar por um crime que não cometeu. E, dessa forma, Berardi constrói uma surpreendente aventura policial.
A Coleção Ken Parker é uma publicação da Editora Tapejara.