Os 45 anos do elefante Jotalhão
Em
1962, quando o jornalista Alberto Dines, do Jornal do Brasil, encomendou
a Mauricio de Sousa uma nova série de tiras, nasceu o elefante Jotalhão,
cujo nome faz referência ao "J" daquele periódico.
"Era para sair no Jornal do Brasil, mas, nesse ínterim, a Folha de
S.Paulo me convidou para lançar a Folhinha de S.Paulo e eu
precisava de novas criações. Então, o Jotalhão entrou no suplemento, no
miolo das histórias do Raposão, em páginas do tipo tablóide. As tiras
diárias saíam nas páginas da Folha Ilustrada", disse Mauricio de
Sousa ao Universo HQ.
Mas, no final da década de 1960, o personagem alçou um vôo mais alto do
que seus quilos a mais permitiriam alcançar em condições normais. Graças
a uma tira da Mônica que mostrou a já clássica piada em que a menina dentuça
puxa um elefante pela tromba e ouve o Cebolinha dizer "Não sei, não...
mas acho que sua mãe pediu foi massa de tomate!".
A brincadeira aludia ao nome do extrato de tomate Elefante,
produzido até hoje pela Cica.
"O Enio Mainardi, da agência Proeme, viu a tira e me telefonou
perguntando se poderia programar uma nova campanha usando os personagens
e o tema. Consenti, e assim nasceu a campanha que me levou para a televisão,
via comerciais, e resultou em cerca de 90 filmes nos primeiros anos de
contrato com a Cica", disse o criador do Jotalhão.
Entretanto, Mauricio de Sousa promoveu uma significativa mudança no visual
do personagem para adaptá-lo à nova empreitada. "No começo ele era cor-de-rosa,
nem sei o porquê. Saía assim na Folhinha de S.Paulo, antes da parceria
com a Cica. Depois, com o contrato, achei que seria melhor esverdeá-lo
para conseguir melhor contraste nas latinhas do extrato de tomate. Ficou
algo meio 'italianado', como eu queria".
A partir daí, teve início uma longa parceria que rendeu comerciais que
marcaram gerações e deram origem ao bordão "Ô, Mônica! Você tem certeza
de que sua mãe pediu um elefante?", imortalizado na voz do ator Túlio
de Lemos, já falecido.
Jotalhão também fez muitas participações nos desenhos animados da Turma
da Mônica, aparece mensalmente nas revistas em quadrinhos daqueles
personagens em aventuras próprias e continua estrelando linhas de brinquedos,
de jogos a bonecos de pelúcia.
Parafraseando a famosa música de domínio popular, o que não é possível
afirmar é que o simpático elefante não tenha incomodado muita gente.
"Durante a ditadura (brasileira, em que o País foi governado por militares,
entre os anos 1960 e 1980), com a 'cumplicidade' do Jotalhão, eu conseguia
fazer diversas histórias com críticas ao regime, na forma de fábulas ou
parábolas", revelou Mauricio de Sousa.
Depois de 45 anos, o elefante verde que desperta o interesse de uma formiga
apaixonada e tem como melhores amigos uma raposa e um coelho, continua
conquistando admiradores com suas histórias em quadrinhos.
E não só nas páginas dos gibis, pois nos comerciais de TV e nas prateleiras
dos supermercados, Jotalhão continuará presente por muito tempo.
"Recentemente, o contrato foi renovado por mais 30 anos com a Gessy-Lever,
atual dona da marca Cica", confirmou Mauricio de Sousa.