Partiu um gigante: faleceu, aos 91 anos, Ziraldo
Faleceu no dia 6 de abril, aos 91 anos, de falência múltipla dos órgãos, Ziraldo Alves Pinto. Morreu dormindo, em sua casa no Rio de Janeiro. Desde 2018, quando sofreu um AVC – Acidente Vascular Cerebral –, ele fez pouquíssimas aparições públicas.
Pintor, chargista, quadrinhista, humorista, jornalista, escritor, caricaturista, e não só isso. Ziraldo foi um dos maiores artistas gráficos brasileiros de todos os tempos.
Nascido em Caratinga, cidade de Minas Gerais, em outubro de 1932, ainda criança se apaixonou pelas histórias em quadrinhos publicadas na época, e impressionou a todos desde pequeno com seu talento para o traço.
Na década de 1950, Ziraldo publicou na revista A Cigarra, trabalhou no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo), na revista O Cruzeiro, O Cruzeiro Internacional e depois, já na década de 1960, no Jornal do Brasil.
Criou em 1958 o personagem Pererê que, dois anos depois, ganharia título próprio.
“Esta é uma revista nova. Portanto, vamos às apresentações. O Saci-Pererê vocês já conhecem muito bem. Vamos então apresentar o pai. Pai dele, é claro. Ou melhor, pai destas aventuras que o Pererê todos os meses estará vivendo nestas páginas”. Começa assim o texto na segunda capa de Pererê # 1, apresentando a publicação.
O título trouxe para o público brasileiro uma HQ com teor totalmente nacional e personagens relacionados com nossa cultura. Além do protagonista, baseado no mito do folclore, o Saci, muitos outros compunham a turma do Pererê, como, por exemplo, o indígena Tininim, o jabuti Moacir, a onça Galileu e o coelho Geraldinho.
Pererê teve 43 números publicados entre 1960 e 1964, pela editora Cruzeiro, com tiragem por volta de 120 mil exemplares. Os personagens voltariam a aparecer nas bancas de jornais nas décadas de 1970 e 1980, em algumas séries e almanaques lançados pela Abril.
Em 2002, a editora Salamandra deu início à coleção Todo Pererê, que republicaria todos os quadrinhos dos personagens criados por Ziraldo, mas, infelizmente, a série teve apenas três volumes.
Ziraldo foi um dos fundadores e principais colaboradores do tabloide O Pasquim, semanário brasileiro lançado em 1969 que teve papel fundamental na contracultura e na oposição ao regime militar da época.
O Pasquim foi publicado até 1991. No seu auge, na década de 1970, chegou a ter tiragem de 200 mil exemplares. Por conta de sua atuação na oposição política, Ziraldo foi preso três vezes, na época.
Em 1969, o autor publicou seu primeiro livro infantil, o elogiado Flicts, que traz as cores por protagonistas. No ano de 1980, surgiu o título de uma série que se tornaria fenômeno de vendas: Ziraldo lançou o livro ilustrado O Menino Maluquinho, pela Melhoramentos.
“Era uma vez um menino maluquinho. Ele tinha o olho maior do que a barriga. Tinha fogo no rabo. Tinha vento nos pés. Umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo) e macaquinhos no sótão (embora nem soubesse o que significava macaquinho no sótão)”.
O livro, que vendeu milhões de exemplares, ganharia posteriormente as páginas das histórias em quadrinhos (em especial pelas editoras Abril e, depois, Globo), a televisão, desenhos animados, o teatro e o cinema, além de inspirar outras séries criadas pelo autor, como, por exemplo, Uma professora muito maluquinha.
Não só isso, criou diversos outros personagens, com destaque para Jeremias, o Bom; a Supermãe e Mineirinho, o Comequieto, assinou cartazes belíssimos para teatro e cinema; publicou em diversas revistas internacionais; editou e participou de diversas e importantes revistas lançadas no Brasil; escreveu vários livros; publicou caricaturas, cartuns e charges e recebeu um sem-número de prêmios.
Diversos artistas do traço, escritores, atores, atrizes, editores, políticos, instituições e personalidades prestaram homenagens a Ziraldo, devido à sua inegável importância. Uma de suas frases mais marcantes – “Ler era mais importante que estudar” – foi muito lembrada.
Sem dúvida, perdemos um de nossos maiores artistas. E Ziraldo, esse adorável Maluquinho, já está fazendo muita falta.