Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Prefeito do Rio de Janeiro determinou que HQ da Marvel seja recolhida na Bienal do Livro

6 setembro 2019

Na noite da última quinta-feira, dia 5 se setembro, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB/Republicanos), determinou o recolhimento da edição Vingadores – A cruzada das crianças, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

A história foi publicada no volume 66 da Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, da editora Salvat, em 2016. Antes disso, a obra já havia saído em Os Vingadores Especial # 1 e # 2, pela Panini Comics, em 2012.

Originalmente, nos Estados Unidos, era uma minissérie em nove edições da Marvel chamada Avengers – The Children’s Crusade, de 2010.

Durante todo este tempo, nenhuma polêmica envolveu a história, seja no Brasil ou nos EUA. Mas isso mudou esta semana, quando uma mulher que visitou a Bienal reclamou, no Twitter, do conteúdo por mostrar dois heróis adolescentes e gays se beijando – eles são namorados. Ela dizia que o material era ofensivo “para crianças”.

Isso rapidamente se espalhou em grupos de WhatsApp e redes sociais, até que o vereador do Rio de Janeiro, Alexandre Isquierdo (DEM), fez um pronunciamento na Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o livro em mãos condenando a venda na feira, repetindo a (des)informação de que se tratava de material voltado para o público infantil. Como resultado, Crivella mandou recolher a publicação, em um ato de censura.

Não é verdade o que afirma o prefeito, que a obra possui “conteúdo sexual”. Em momento algum, são apresentadas cenas explícitas. Há apenas um beijo entre os dois personagens nas páginas finais.

Além disso, a história não é voltada para crianças, e sim para adolescentes. Nos Estados Unidos, saiu com classificação indicativa T+, ou seja, sugerida para maiores de 13 anos.

O quadrinho em questão

Vingadores – A cruzada das crianças foi escrito por Allan Heinberg – roteirista gay que, dentre outros trabalhos, fez o roteiro do filme Mulher-Maravilha (2017) – e desenhado por Jim Cheung.

A história marca o início de um novo grupo da Marvel, os Jovens Vingadores, formado por heróis adolescentes. Por isso o título da obra, pois mostra seus desafios na jornada que os levam para formar a equipe.

Os heróis, na maioria “versões adolescentes” de conhecidos personagens do Universo Marvel, são: Patriota, Rapaz de Ferro, Visão, Célere, Gaviã Arqueira, Estatura, Wiccano e Hulking. Esses dois últimos, o motivo da controvérsia.

Na trama, eles embarcam em uma aventura para encontrar a Feiticeira Escarlate, após ela ter provocado a queda dos Vingadores e quase eliminado a raça mutante do mundo. A história conta ainda com aparições de Capitão América, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Magneto, Dr. Destino, Wolverine, Homem-Formiga, X-Men e outros.

Resposta da Bienal do Livro

Em comunicado oficial, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro respondeu ao veto do prefeito, repudiando a decisão, reafirmando sua pluralidade e dizendo que não ia retirar o livro do evento. Leia abaixo.

"A Bienal Internacional do Livro Rio, consagrada como o maior evento literário do país, dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+.

A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor.”

Repúdio

O Universo HQ repudia a decisão do prefeito Marcelo Crivella e sua medida arbitrária que se configura como uma tentativa de censura. É um absurdo isso estar acontecendo em pleno 2019.

O desconhecimento completo sobre o teor da obra e a que faixa etária ela se destina reforça o preconceito cada vez maior em nossa sociedade e como as pessoas projetam suas próprias ignorâncias nos mais simples alvos.

Vale salientar: na Bienal de 2017, quando Crivella já era prefeito do Rio de Janeiro, a obra já havia sido lançada e não houve qualquer alarde estapafúrdio, como este.

Num passado nem tão distante, livros foram queimados no Brasil. No presente, tenta-se recolhê-los de uma feira literária. Parabéns à Bienal por se recusar a atender essa medida arbitrária e preconceituosa. Por tempos de mais luz e menos sombras!

Vingadores – A cruzada das crianças

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