Primeiro fanzine brasileiro completou 40 anos de lançamento
Os
zines completaram, nesta última quarta-feira, 40 anos de lançamento no
Brasil. Foi em 12 de outubro de 1965 que o desenhista de Piracicaba/SP
Edson Rontani criou o primeiro fanzine nacional. Na época, o informativo
nem era denominado de fanzine, tanto que o Ficção foi lançado com
o nome de boletim informativo para amantes das histórias em quadrinhos.
O termo fanzine foi muito utilizado nos Estados Unidos incorporando-se à linguagem brasileira no início dos anos 70. Ele deriva das palavras "fan" (fanático) e "magazine" (revista), entendendo-se por ela como sendo a revista do fã.
O fanzine era, quando criado, uma publicação alternativa e de baixo custo, utilizando-se de poucos recursos numa época em que máquinas copiadoras ainda eram objetos caros e sua utilização não havia sido tão disseminada quanto hoje. O computador pessoal nem havia sido criado. Restava então a opção de impressão em clicheria, mas o alto custo das gráficas impedia qualquer projeto desenvolvido pelos pequenos inovadores. O recurso de cópias na época era, então, o mimeógrafo a tinta e mais tarde o mimeógrafo a álcool no qual o estêncil fazia uma quantidade limitada de reproduções.
Foi assim que, em setembro de 1965, Edson Rontani usou de sua habilidade de desenhista e uma máquina de escrever para lançar o Ficção, que teve duração de pouco mais de uma dúzia de edições. A impressão era feita em mimeógrafo à tinta, portanto, preto-e-branco.
Nele, foram divulgadas curiosidades sobre personagens de histórias em quadrinhos, editoras da época e publicações. Rontani catalogou nas edições deste fanzine tudo o que era de seu conhecimento, pois até esta época não havia sequer um levantamento das revistas em quadrinhos publicadas ou quais editoras foram fundadas no país. Como colecionava revistas desde a infância, ele as estudava e guardava dados históricos para dividir com outros colecionadores.
A tiragem dos primeiros fanzines era de 600 cópias distribuídas pelo correio entre colecionadores de revistas em quadrinhos. Nos arquivos deixados por Rontani, constam fichas de destinatários como José Mojica Marins (o Zé do Caixão), Gedeone Malgola, Adolfo Aizen, Mauricio de Sousa, Jô Soares, Lyrio Aragão e outros desenhistas ou aficionados em quadrinhos.
O lançamento do primeiro fanzine ocorreu no dia 12 de outubro de 1965, talvez por seu autor ser devoto de Nossa Senhora Aparecida, fato este nunca assumido por Rontani. Depois do Ficção, em 1971 ele lançou uma nova versão intitulada Fanzine Ficção. Em 1974, lançou o Universo H.Q., finalizando o ciclo de fanzines com o Rontani Fanzine em 1982.
Rontani tinha paixão pelos quadrinhos chegando a passar por suas mãos mais de 170 mil exemplares de revistas do gênero. Foi desenhista artístico e lecionava desenho em seu Instituto Orbis, situado no centro de Piracicaba. Criou em 1948 o Nhô Quim, personagem considerado como mascote do E. C. XV de Novembro de Piracicaba. Sua memória é perpetuada até hoje pelo Jornal de Piracicaba com a publicação semanal da coluna Você Sabia?, que ele editou de 1982 a 1997, ano em que faleceu. Aposentou-se como desenhista técnico da Secretaria Estadual de Agricultura.