Quadrinhos proibidos por lei no Canadá
Ser
leitor de quadrinhos no Canadá não é uma tarefa muito fácil. Como se não
bastassem todas aquelas famosas leis canadenses repletas de censuras flagrantes,
tratando como únicos e absolutos conceitos tão subjetivos como obscenidade
e blasfêmia, há até uma que estabelece o que pode ou não constar nas HQs
que circulam no país.
Basta ler o que diz o Código Criminal do Canadá sobre os quadrinhos de
crimes. Há uma seção que determina que está sujeito a penalidades quem
criar, imprimir, publicar, distribuir, vender ou ter em posse gibis, livros
ou revistas que contenham ilustrações descritivas de crimes reais ou fictícios.
Quadrinhos eróticos também são monstros a serem combatidos pela justiça
canadense. Alguns casos ganharam repercussão internacional, como o recolhimento,
ainda na alfândega, de edições importadas da HQ Black Kiss, genial
minissérie de Howard Chaykin.
Isso não foi um acontecimento isolado e a prática é histórica no Canadá.
Tanto que, no início dos anos 1990, a
Comics Legends Legal Defense, entidade de apoio a quadrinhistas
e a editoras, distribuidoras e vendedoras de quadrinhos, chegou a organizar
uma campanha para arrecadar fundos em favor de livrarias e comic shops
que abriram processos contra a alfândega canadense.
O quadrinhista independente Chester Brown, nascido no Canadá, também tem
várias de suas obras proibidas de circular em seu próprio país. A censura
chegou ao cúmulo de impedir a entrada, em território canadense, de um
lote da revista informativa Comics Journal que continha uma entrevista
com o artista.
Em 1994, uma edição especial em quadrinhos da revista masculina Penthouse
também sofreu censura prévia naquele país. A HQ foi proibida de circular
por lá entes mesmo de sair dos Estados Unidos.
Mas o caso que mais repercutiu aconteceu no ano passado. Um morador da
cidade de Edmonton foi preso e indiciado por importação de pornografia
infantil. Em sua casa foram encontradas dezenas de mangás eróticos, incluindo
vários com histórias em que menores de idade praticavam sexo.
Como não se tratavam de fotos, apenas desenhos pedófilos, a justiça do
Canadá abrandou a pena e condenou o homem a 18 meses de condicional, 100
horas de prestação de serviços comunitários e multa equivalente a 150
dólares.
A pérola mais fina dessa história maluca, entretanto, ficou por conta
do Edmonton Journal, que demonstrou total falta de conhecimento
acerca dos quadrinhos japoneses e escreveu uma baboseira sem tamanho na
matéria sobre o caso.
Confundindo HQ com desenho animado japonês, o jornal saiu-se com esta:
"Animê é uma ramificação pervertida da indústria chamada hentai".