Sean Gordon Murphy fala sobre a venda de originais
No início de fevereiro, Sean Gordon Murphy escreveu um artigo sobre a venda de artes originais de quadrinhos (páginas publicadas em alguma revista), do ponto de vista de quem desenha profissionalmente.
Segundo ele, a venda de originais representa hoje 25% de sua renda.
De maneira geral, a renda de um desenhista estadunidense provém de cinco fontes: trabalho contratado pela editora, no qual ele recebe um valor por página; uma porcentagem das vendas das reedições (royalties); a venda das artes originais após o uso pela editora (lembrando que em muitos casos nem todos os originais retornam para o desenhista, uma parte deles pode ficar com o arte-finalista etc.); e a venda de desenhos encomendados (as chamadas comissions); e a venda de sketchbooks, desenhos autografados e outros produtos, nas convenções.
Murphy criou uma lista com cinco sugestões que ele segue para maximizar o potencial de venda de seus originais. O aspecto mais interessante dessa lista é o impacto que ela tem nas escolhas que o artista faz em sua carreira e na qualidade do trabalho desenvolvido por ele.
Para facilitar que seus compradores consigam acompanhar seu trabalho - sempre com o objetivo final de vender seus originais -, Murphy prefere trabalhar em minisséries mais longas, de quatro a doze partes, evitando edições especiais e trabalhos de duração mais curta, com "menor tempo de vida" nas comic shops e livrarias, quando possível.
Por outro lado, um trabalho muito mais longo (como, por exemplo, um período de mais de um ano no mesmo título) pode saturar o mercado, do ponto de vista do comprador, tanto para o estilo do artista, quanto para o assunto da arte. Os fãs que já compraram algumas artes daquele artista com aquele personagem, estão em busca de algo diferente para sua coleção - outro personagem ou outro desenhista.
Quanto à qualidade da arte, Murphy sugere aos artistas que pretendem aumentar sua renda vendendo originais, que se dediquem com afinco às suas páginas, não apenas na parte técnica (composição, narrativa, anatomia, perspectiva etc.), mas também utilizando materiais artísticos de qualidade e de maior durabilidade.
Um desenho feito num papel de primeira linha, com nanquim de qualidade, terá maior durabilidade do que outro feito com marcadores em papel mais simples e, portanto, despertará mais interesse dos compradores que estarão dispostos a pagar mais caro. Pode representar uma diferença pequena para o desenhista (artisticamente falando) ou até um acréscimo no custo da produção das páginas, mas em longo prazo pode significar um aumento considerável na renda anual.
Só para dar um exemplo diferente do impacto que a venda de originais tem nas HQs - tanto na venda quanto na narrativa da história -, uma das práticas mais comuns nas últimas duas décadas é o uso abusivo dos splash pages (aquelas páginas de um só quadro, geralmente destacando personagens importantes ou alguma ação impactante da história).
É um recurso narrativo tradicional e válido - muito usado para páginas de abertura e títulos -, mas perde a força e atrapalha a narrativa quando existem três ou quatro splashes numa história de 22 páginas. O objetivo óbvio do artista, nesses casos, é a venda desses originais por um preço muito superior ao das outras páginas da mesma revista.
Murphy não se posiciona sobre o uso ou abuso dos splash pages, mas recomenda que o desenhista trate com mais cuidado de suas páginas mais "quietas", aquelas com pouca ação e muito diálogo, buscando uma maneira de torná-las mais interessantes e, por consequência, mais rentáveis. O resto das dicas do desenhista sobre a "arte" de vender originais pode ser lidas (em inglês) aqui.