Spawn: 15 anos da Cria do Inferno
Poucos
personagens das histórias em quadrinhos dividem tantas opiniões. Há os
que odeiam o anti-herói Spawn, criado por Todd McFarlane, mas também existem
aqueles que o admiram e formam os milhares de fãs que em alguns países
acompanham suas aventuras há anos.
Quando estreou em junho de 1992, Spawn parecia apenas mais um dos muitos
personagens que surgiram para compor o mix da Image, editora que
estava iniciando no mercado norte-americano de HQs e fora fundada por
McFarlane e outros quadrinhistas como Jim Lee e Rob Liefeld, todos egressos
da Marvel Comics.
Mas, passados todos esses anos, a revista do personagem tornou-se a única
da Image que jamais foi interrompida, e ainda gerou vários outros
títulos relacionados ao seu universo.
E
para não ficar apenas no âmbito dos quadrinhos, Spawn já estrelou uma
série em desenho animado e um longa-metragem live-action para o
cinema, além de diversas linhas de estatuetas e figuras de ação, sem contar
os mais variados tipos de produtos licenciados.
No Brasil, atualmente, o gibi Spawn tem a numeração de capa mais
longeva entre as revistas de super-herói que circulam no País (neste mês,
a edição 167 chegará às bancas). A estréia aconteceu em março de 1996,
pela Editora Abril, que cancelou o título em 2005, retomado no
ano seguinte pela Pixel Media, na qual tomou novo fôlego graças
a um tratamento editorial mais apurado.
As histórias de Al Simmons, o ex-agente da CIA morto à traição pela agência
de espionagem dos Estados Unidos e que, cinco anos depois, literalmente
voltou do inferno transformado em Spawn graças a uma barganha com o demônio
Malebólgia - feita por amor a sua esposa Wanda -, sempre tiveram elementos
do tradicional mundo dos super-heróis. O próprio personagem principal,
com seu uniforme colante, a esvoaçante capa, os poderes prodigiosos e
os supervilões fantasiados que permeiam suas aventuras não deixa dúvidas.
Mas
os monstros abissais, demônios (incluindo o mais conhecido de todos, Satã),
conflitos religiosos, heresias, blasfêmias, canibalismo, violência, tortura
psicológica, entre outras coisas assustadoras, fizeram de Spawn
uma das melhores revistas em quadrinhos de terror dos últimos tempos.
Pouco a pouco, as semelhanças com os quadrinhos de super-heróis foram
praticamente limadas da série, e o horror passou a reinar sem concorrência
nas páginas das HQs de Spawn.
Em sua fase atual, e, ao que tudo indica, para o resto da vida editorial
do personagem, Spawn assume de vez o terror como matéria-prima e objeto
de suas histórias, agora capitaneadas por David Hine (que há algum tempo
assumiu os roteiros após anos de "monopólio" de Brian Holguin) e Brian
Haberlin (responsável pelos desenhos, pondo fim à controversa "Era" Angel
Medina).
Atuando
nos becos sombrios dos bairros mais perigosos de Nova York; ladeado por
larvas, baratas, ratos e outras pragas repulsivas; lutando no céu contra
anjos e no inferno contra demônios; tomando o cetro do Senhor das Trevas
e desafiando o Criador; ou apenas exibindo seu rosto horripilante em um
quadro de página inteira, Spawn protagoniza histórias que chocam e servem
de combustível para debates ateístas ou religiosos.
Afinal, como ficar indiferente a um ser superpoderoso dos quadrinhos que
foi capaz de eliminar da existência ninguém menos que Deus e Satã?
De
qualquer forma, para quem ainda não se aventurou no universo de Spawn
e possui a mente aberta o suficiente para encarar suas histórias como
pura diversão, a boa pedida é adquirir a edição 166, publicada no Brasil
no mês passado, na qual a nova fase é iniciada e um texto explica os eventos
imediatamente anteriores que levaram a esse recomeço da saga.
Entretanto, para saber como tudo começou há 15 anos, o ideal é o encadernado
Spawn
- Origem (Pixel Media), que reedita as cinco primeiras
edições do título mensal, na época escritas e desenhadas por Todd McFarlane.
E, assim, Spawn continua firme em seu caminho rumo à eternidade. Seja em que sentido for essa afirmação.