Superman, Capitão Marvel e outros: lembranças dos anos 40
Durante
a década de 1940, o Capitão Marvel era um dos personagens mais populares
dos quadrinhos nos Estados Unidos, e as HQs que protagonizava foram sinônimo
de sucesso de vendas por muitos anos.
Nada mais justo que, em torno do nome do mortal mais poderoso da Terra,
a Fawcett Comics, editora do personagem na época, comercializasse
produtos de todos os tipos com a chancela de sua "mina de ouro".
Bottons, chapéus, estampas em tecido e muitos outros itens formavam a
disputada memorabília do Capitão Marvel naqueles tempos, vendida aos leitores
por intermédio de cupons em anúncios de revistas. E entre esses produtos,
o mais desejado pelos fãs: uma imponente estatueta de madeira.
A primeira edição da escultura do Capitão Marvel virou sonho de consumo
das crianças, mas é a segunda leva que hoje é considerada o artigo mais
raro da extinta Fawcett. Mais até do que as clássicas HQs, que
atualmente rendem vultosas quantias nos leilões.
Isso porque só há registro da existência de dez exemplares dessa estatueta.
Naquela época, foram disponibilizadas 1500 unidades para venda da primeira
edição. Seriam duas mil, mas a editora não ficou satisfeita com a qualidade
artística e de conservação do material, inutilizando as restantes e fazendo
um novo pedido de quinhentas peças a outro fabricante, que produziu tudo
em resina. O resultado tanto agradou que inspirou o lançamento de versões
para Mary Marvel e Capitão Marvel Jr.
Curioso era o preço das pequenas estátuas. Por 50 centavos de dólar, qualquer
fã podia ter a sua. O problema é que esse valor não era assim tão insignificante
nos anos 40. Com essa quantia, era possível comprar pelo menos cinco revistas
em quadrinhos. Hoje, a rara memorabília está avaliada em alguns poucos
milhares de dólares.
Mas o todo-poderoso da indústria dos quadrinhos de super-heróis dos EUA,
nos anos 40, era mesmo o Super-Homem. Não havia quem ignorasse a existência
do Homem de Aço. Foi a partir dessa década que o personagem iniciou sua
trajetória de sucesso na área de licenciamento.
Havia de tudo com o "S" estilizado do último filho de Krypton, incluindo
produtos destinados ao público adulto, como isqueiros e relógios. Até
mesmo uma simples bisnaga de pão podia ser encontrada com a marca do Super-Homem.
Para se ter uma idéia da força daquele símbolo, a loja de departamento
Macy´s, até hoje uma das maiores e mais famosas da América, usou
o Homem de Aço para divulgar sua (enorme) seção de brinquedos, a Toyland,
com uma ação promocional que não deixou nada a dever aos marketistas de
hoje.
Só para começar, um anúncio de quase uma página inteira publicado no jornal
New York Times. Como se não bastasse, um espetáculo teatral cheio
de efeitos especiais chamado Superman Adventure Show era encenado
diariamente numa praça em frente à Macy´s, em Nova York, atraindo
multidões de crianças e adultos. O evento era patrocinado por rádios e
jornais locais.
Dessas históricas sessões de teatro, sobrou o que atualmente é objeto
de desejo dos colecionadores, independente do quanto estejam valendo.
São os tickets de ingresso dos shows, que permaneciam com os espectadores
como senha para os sorteios de prêmios.
Além disso, eram emitidas cartas ao público nos caso de cancelamento do
espetáculo por motivos técnicos ou de outra ordem. Algumas delas estão
guardadas até hoje, em perfeito estado, por colecionadores zelosos que
agora dividem as lembranças de um dos muitos episódios que ajudaram a
criar o mito do Superman.
Outros fatos marcantes na década de 1940 renderam produtos com a imagem
de super-heróis, mas seu consumo era fruto de uma causa bastante nobre:
a luta contra a paralisia infantil e outras doenças que se tornaram o
pesadelo dos pais norte-americanos.
Várias campanhas de combate a esses males eram organizadas naquela época,
inclusive a anual March Of Dimes, que arrecadava 10 centavos de
dólar por doador e existe até hoje.
As HQs de super-heróis fizeram a sua parte, ajudando nessa importante
iniciativa. Pagando 10 centavos a mais na compra de um gibi, por exemplo,
as crianças levavam um cartão-postal do Superman, Batman & Robin, da Mulher-Maravilha
ou de outros à escolha.
O da princesa amazona foi oferecido em março de 1943 na revista Sensation
Comics #15. Na frente, uma ilustração da personagem assinada pela
própria, numa moldura repleta de motivos patrióticos; no verso, uma mensagem
de agradecimento pelo ato de solidariedade do comprador, que hoje pode
recuperar o valor pago multiplicado por milhares de vezes.
Todos esses fatos vieram à tona, nos últimos dois meses, graças aos inflacionados
leilões de colecionáveis dos EUA, que tornaram novamente públicos os registros
outrora esquecidos de alguns acontecimentos marcantes no currículo desses
três ícones da DC Comics. O preço de arremate das memorabílias
atingiu cifras consideráveis.
Portanto, com a qualidade do que é produzido hoje com esses e outros personagens
dos quadrinhos, é possível imaginar os valores estratosféricos que irão
alcançar daqui a algumas décadas. Até lá, é aconselhável ir cuidando muito
bem desse rentável investimento.