Uma solução para a polêmica dos scans?
As
revistas em quadrinhos escaneadas que circulam pela internet e têm dividido
opiniões contra (representadas, principalmente, pelas editoras) e a favor
(vindas dos leitores que, muitas vezes, veem na prática o único meio de
leitura dos gibis) podem estar com os dias contados.
Ou, pelo menos, devem perder gradativamente espaço se a iniciativa da
norte-americana Eagle
One Media virar o ponto de partida de uma nova era para o comércio
digital de HQs.
Na semana passada, em parceria com dezenas de editoras dos Estados Unidos,
a empresa criou uma comic shop online para download de gibis
em arquivo PDF, com preços a partir de 99 centavos de dólar.
Somente para os primeiros dias da abertura da comicstore, já estão
disponíveis centenas de títulos, dentre HQs mensais e graphic novels,
incluindo mangás, originalmente publicados em versão impressa pela IDW,
Antarctic Press, Alterna, Rorschach, Moonstone,
Heroic e muitas outras editoras.
A cada semana, vários títulos serão adicionados ao catálogo, gerando um
acervo que, por motivos óbvios, jamais terá o estoque esgotado.
Para os fãs dos quadrinhos Marvel, a Eagle One Media também
coloca à venda os DVDs e CDs com séries completas de todas as revistas
de linha estreladas por Homem-Aranha (que tem ainda uma compilação dos
gibis publicados de 1987 a 2007), Hulk, Vingadores, Quarteto Fantástico
e outros personagens, a partir de suas estreias até a última edição impressa
em 2006.
Da mesma forma, HQs como Star Trek e Betty & Veronica têm
suas coletâneas completas disponibilizadas em DVD.
Embora isoladamente, a exemplo da Marvel, já existam editoras norte-americanas
disponibilizando seu acervo para venda em arquivo digital, o caso da EOM
é o primeiro registro de uma loja virtual que reúne o material de várias
delas para comercialização contínua.
Sem custos de reimpressão e distribuição, mais a divulgação a cargo da
comic shop e a "tiragem" ilimitada, a vantagem não é pequena para
as editoras. Além do que, como esperam inibir o avanço dos scans,
a ideia tem agradado e pode gerar outras empreitadas do tipo.
Opiniões de críticos especializados, em sites norte-americanos, sugerem
que, nestes tempos de crise econômica, essa também seria uma ótima saída
para o lançamento de edições inéditas, paralelas ou não à publicação impressa.
Some-se
a isso o fato de a Diamond, maior distribuidora dos Estados Unidos,
ter causado a revolta e o afastamento de algumas editoras menores desde
que, há menos de um mês, decretou novas regras e exigências que a colocam
sob acusação de favorecimento às majors Marvel e DC,
o cenário torna-se ainda mais propício.
No Brasil, onde os quadrinhos digitais se restringem a exibições gratuitas
ou vendas realizadas pelos próprios autores, o nicho ainda é um vasto
território a ser explorado.
Seguir o exemplo da Eagle One Media, entretanto, poderia esbarrar
no desinteresse das editoras brasileiras por esse mercado alternativo.
Mas a própria existência da "indústria" dos scans, que incomoda
as editoras, é a prova inequívoca de que o mercado está mudando a passos
largos e formando um público que cada vez mais busca e gosta da leitura
de quadrinhos no computador.
O crescente aumento no número de blogs e sites de tiras e quadrinhos
que apresentam suas próprias HQs, é também um fato que não deve ser ignorado.
Restará às editoras brasileiras a opção de se adaptar ao novo mundo e
oferecer opções a quem está integrado à era do entretenimento tecnológico
e procura alternativas menos onerosas para ler quadrinhos.
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