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Universo HQ conversa com Joe Sacco, que estará na Flip

5 julho 2011

Joe Sacco

Joe Sacco, autor de HQs jornalísticas como Notas
sobre Gaza
e Palestina
(que acaba de ganhar uma edição
de luxo
no Brasil), será uma das atrações da Festa
Literária Internacional de Parati - FLIP
, no dia 9 de julho, às 12h.

O Universo HQ conversou rapidamente com o criador por e-mail, como você confere abaixo.

Universo HQ: Nas suas primeiras histórias, lançadas há pouco no Brasil, a música e a cultura alternativa ocupam um espaço imenso. Como ficou a importância desses elementos depois de conhecer zonas de guerra?

Joe Sacco: A música e a cultura sempre foram
muito importantes para mim. Eu escuto música quando desenho, e arte, livros
e filmes são as coisas que me deixam feliz de ser um ser humano. A cultura
nos eleva. Estar numa zona de batalha é normalmente feio, triste e esquálido.
Talvez os soldados escrevam poesias sobre a sua irmandade e o seu sacrifício,
mas eu costumo focar nos civis, e o que acontece com eles quase nunca é enobrecedor.
Normalmente, seu mundo é virado de pernas para o ar. Um bom livro, uma boa
peça musical, uma pintura interessante são coisas que estão certas neste mundo.
Este tipo de criação me faz continuar
.

Notas Sobre Gaza

Universo HQ: Você é considerado o criador do "jornalismo em quadrinhos" e hoje há uma explosão desse gênero. Como vê isso e quais obras recomenda nessa linha?

Sacco: Bem, não estou certo que exista uma explosão
de jornalismo em quadrinhos, mas certamente existe um número de desenhistas
trabalhando com este formato hoje. Na França, existe uma ótima revista chamada
XXI, e os editores enviam os cartunistas para lugares interessantes do mundo,
para produzirem reportagens. Eles me enviaram à Índia para fazer uma história
sobre a pobreza rural. Nos Estados Unidos, há autores como Sarah Glidden
e Dan Archer, que estão misturando intencionalmente jornalismo e quadrinhos.
Eles trabalham com muita seriedade
.

Eu gosto de pensar que "criei" esta área, mas a verdade é que os jornais do século 19 frequentemente enviavam seus ilustradores para acompanhar os escritores que cobriam eventos e campanhas militares. Os ilustradores têm uma longa história como cronistas de seu tempo. Então se este é um novo gênero, ele foi feito dando uma nova cara a uma velha ideia.

Universo HQ: Em que medida documentar algo em quadrinhos, como você faz, é menos ou mais dinâmico do que as outras formas de jornalismo? Como seus colegas jornalistas reagiam quando você dizia onde como publicaria a sua cobertura dos eventos?

Sacco: Eu sou um quadrinhista. Então,
obviamente, foi usar os pontos fortes dos quadrinhos como mídia da melhor
maneira possível. Acho que os quadrinhos podem levar o leitor não apenas a
outro lugar, como Gaza ou a Bósnia, mas a outra época. Minha intenção é que
o leitor abra um de meus livros e se encontre imediatamente num campo de refugiados
ou numa vila na Índia. Somos criaturas visuais. Este tipo de material nos
absorve. E enquanto a meta do fotógrafo é normalmente resumir toda uma situação
com uma única imagem, os desenhistas usam múltiplas imagens para criar
uma atmosfera com nuances
.

Palestina

Eu raramente tive problemas com outros jornalistas nesse campo. Fiz bons
amigos entre jornalistas tradicionais. Eles gostam do que faço. Algumas
vezes, invejam o fato de que eu passo semanas ou meses mergulhado numa história
enquanto eles têm que entregar uma nova reportagem por dia. O mais importante
é que sinto que sei o que estou fazendo e que posso fala sobre a situação
real do lugar, e se os jornalistas acham que eu sei do que estou falando,
eles tendem a me aceitar sem mais perguntas
.

Universo HQ: Houve um boato sobre uma HQ sobre sua os Sem-Terra. É um fato? Você tem planos de contar uma história brasileira?

Sacco: Eu andei escutando rumores sobre as histórias
que pretenderia escrever sobre o Brasil, mas a verdade é que não fiz nenhum
desses planos. Existem muitas coisas acontecendo no seu país, obviamente
- coisas que são dignas de atenção. Mas deve haver quadrinhistas brasileiros
que compreendem estas questões muito melhor do que eu. Talvez caiba a eles
lidar com isso
.

Universo HQ: Para muitos, os quadrinhos são uma porta de entrada para a leitura e para a literatura. Seria o jornalismo em quadrinhos uma excelente porta de entrada para o jornalismo convencional?

Sacco: Nunca pensei nos quadrinhos desta maneira.
Eu diria que para certas pessoas os quadrinhos parecem fáceis e, portanto,
são um ponto de entrada para o que de outra forma seria um assunto difícil.
Concordo que alguém possa pegar meu livro Palestina por achar que é uma leitura
fácil, mas a verdade é que contém muito informação pesada, então o leitor
é, de certa forma, "enganado" por suas baixa expectativa e é sugado pelo material.
Desta forma, penso nos quadrinhos como um meio muito subversivo. Parece fácil
à primeira vista, mas pode comunicar uma informação com profundidade
.

Arte de Joe Sacco

 

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