Universo HQ entrevista Paula Mastroberti, autora de Adormecida
A editora 8Inverso divulgou o lançamento de duas graphic novels nacionais.
Adormecida - cem anos para sempre (formato 28,5 x 21,5 cm, 48 páginas, R$ 51,00), com texto e desenho da escritora, artista plástica e ilustradora Paula Mastroberti, conta em quadrinhos a história da personagem central de A Bela Adormecida.
Na trama, a história de um príncipe aventureiro que, perdido no deserto, entra em um antigo castelo em ruínas para passar a noite. Uma aura de maldição paira no lugar. Ele se vê envolvido em uma história que se repete há muitos anos e de cujo desfecho ele terá que participar, ou será para sempre prisioneiro do castelo.
Assim, o príncipe acompanha o batizado de uma princesa amaldiçoada por uma estranha e sensual feiticeira, que o seduz com seu canto mágico e lhe promete poder e imortalidade.
O álbum está em pré-venda no site da editora e será lançado em abril deste ano.
O outro título, que também será lançado em 2012, é Pan - quando Wendy cresceu, ilustrado por Paula e escrito pelo quadrinhista Maurício Rodrigues, recontando a história de Peter Pan.
De acordo com Paula, "em ambas as produções minha ideia é valorizar os contos considerados infantis, mas para o olhar adulto - muita gente, principalmente aqui no Brasil, tende a perceber contos de fadas e uma história como a de Peter Pan como se fossem exclusivamente para crianças, quando não o são", revela a autora, cujas teses de mestrado e doutorado gravitam em torno da história de Peter Pan.
A artista, que também é conhecida por suas reinterpretações de narrativas clássicas, como Dom Quixote, Odisseia e Hamlet, conversou com o Universo HQ.
Universo HQ: É sua primeira incursão nos quadrinhos. O que a levou a escolher essa mídia?
Paula Mastroberti: Não considero quadrinhos uma mídia, mas uma linguagem narrativa, que pra mim não é nem literatura, nem ilustração. Sou a favor do que diz Paulo Ramos (Nota do UHQ: jornalista responsável pelo Blog dos Quadrinhos): quadrinhos são quadrinhos. Sejam em mídia impressa ou digital. É uma arte híbrida e é por isso que gosto dela. Como escritora, nunca consegui escrever sem articular o verbal com o gráfico (num tipo de obra "quase-quadrinhos"). Então, pra mim, a escolha é natural, porque sou uma escritora formada em artes plásticas. Não vim da área de Letras, embora, posteriormente, a carreira de escritora tenha feito doutorado nessa área.
UHQ: Foram mesmo 20 anos para fazer Adormecida? Que motivo fez tomar todo esse tempo?
Paula: Não, não levei 20 anos pra produzi-la! Ela foi feita em dois anos, nos intervalos de outros trabalhos, entre 1988 e 1990. Levou 22 anos para ser publicada, porque nunca achei quem quisesse fazê-lo. Na época, diziam-me que era uma obra muito cara e sem público leitor definido. Mas acho que, por trás disso, também havia muito preconceito (um machismo descarado, mesmo) contra a mulher quadrinhista. Hoje, com a divulgação maior da cultura nipo-brasileira, por meio dos mangás e animês feitos por mulheres, parece que isso está mudando.
UHQ: O que o leitor pode esperar encontrar em Adormecida?
Paula: Aquilo que menos esperam de um conto de fadas, ainda vinculado a uma proposta infantil. Vão encontrar fadas por lá, é claro, e uma bruxa, também. Mas não em sua função usual.
UHQ: Você vê alguma similaridade entre o seu trabalho e a série em quadrinhos Fábulas, da Vertigo/DC, publicada no Brasil pela Panini?
Paula: No sentido de que a temática é a mesma, ou seja, uma releitura dos contos de fadas e suas personagens. Mas acho que para por aí, porque, na minha HQ, não tento humanizar as personagens, nem procuro deixá-las palpáveis, reais. Fábulas parece dar um acento de ceticismo que não é bem o meu objetivo. Procuro levar o leitor até a fantasia e o simbólico presente nesses contos e seduzi-los novamente para esse universo fantástico.
UHQ: Seu próximo álbum é Pan - quando Wendy cresceu. No que sua abordagem será diferente da história clássica?
Paula: Fundamentalmente, contaremos, eu e Maumau (Maurício Rodrigues, roteirista), a mesma história. Apenas lhe daremos uma conotação mais profunda, muito pouco conhecida pelo leitor brasileiro, mas presente nas entrelinhas do texto original. Peter Pan não é uma obra para crianças - ou, ao menos, não somente para elas. É um texto que rivaliza com Alice no País das Maravilhas ou Através do Espelho, em termos de complexidade. Será uma versão para adultos.
UHQ: Você planeja outros álbuns para o futuro próximo?
Paula: Engraçada, essa palavra: álbuns! Álbuns, não livros. Por que será que os quadrinhos encadernados não são chamados de livros, hein? É para diferenciar dos livros ilustrados? No quesito de definição ou conceito-limite para o meu tipo de trabalho, sou zero. Vou deixar para o leitor decidir se minha próxima obra é um álbum ou um livro. O que quer que venha a seguir, sempre será algo híbrido, porque sou uma autora do verbal e do visual.