Violência urbana na graphic novel O Messias
O
Messias (formato 17 x 26 cm, 128 páginas, R$ 29,00), de Gonçalo Junior
e Flávio Luiz, chega às livrarias na próxima semana com um tema bem atual:
a guerra do tráfico contra o Estado.
Uma trágica coincidência: às vésperas da editora Opera Graphica mandar para as livrarias o álbum em quadrinhos O Messias, de Gonçalo Junior (roteiro) e Flávio Luiz (desenhos), explodiu a série de atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC) na cidade de São Paulo.
Em 128 páginas, os dois artistas contam uma história que parece uma previsão macabra sobre a guerra do tráfico nas grandes cidades: no Rio de Janeiro de um tempo muito próximo do presente, um chefe do tráfico de drogas se imagina com poderes divinos para reunir todos os morros da cidade e declarar guerra civil aos poderes do Estado.
“Temia que algo assim acontecesse antes que a edição fosse concluída”, afirma Gonçalo. A edição levou oito anos para ser produzida. Chegou a ser iniciada por três artistas em momentos diferentes, que desistiram da empreitada. Até que, em 2002, Flávio Luiz topou o desafio e, num lento processo de produção, levou três anos para finalizá-la. Na história, não existe um único diálogo, todos os quadrinhos são mudos, porém têm onomatopéias.
“O propósito é mostrar que o crime se banaliza, organiza e avança ante o silêncio das autoridades, até que explode, como está acontecendo em São Paulo”, acrescenta.
Na trama, os autores não acreditam que o crime seja realmente organizado nas grandes cidades brasileiras, embora algumas facções criminosas se identifiquem com determinadas siglas – CV, PCC etc. E temem que, um dia, antes de se chegar a sensibilizar os políticos sobre a dimensão do avanço dos criminosos, surja alguém com aura de Messias, com carisma suficiente para se apropriar desse papel divino.
“Nesse instante, não importa por que meios, o morro finalmente descerá para ocupar o espaço que acredita lhe ser de direito. E em todas as capitais, será instalada uma sangrenta guerra civil”, diz o prólogo. “Que esta aventura em quadrinhos, muda como o descaso das autoridades, sirva, de alguma forma, como um alerta ou mesmo uma premonição”, afirma a dupla.
Gonçalo Silva Junior ganha a vida como jornalista. Escreveu os livros A Guerra dos Gibis (Companhia das Letras), Tentação à Italiana (Opera Graphica), O Homem-Abril (Opera Graphica), País da TV (Conrad), Alceu Penna e As Garotas do Brasil (Cluq), Benício (Cluq) e Biblioteca dos Quadrinhos (Opera Graphica). Organizou os volumes Quadrinhos Sujos e Dom Quixote - Gustave Doré, ambos para a Opera Graphica. Como roteirista, trabalhou por 15 anos com Antonio Cedraz, publicou na Press Editorial, na década de 1980, e escreveu o álbum Claustrofobia (Devir), ilustrado por Julio Shimamoto.
Flávio Luiz Rodrigues Nogueira é cartunista premiado diversas vezes em salões nacionais e internacionais com destaque para o Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1994, na categoria Cartum; e em 2000, em Charge. Recebeu o Prêmio HQMix 1999 como autor independente, com a revista Jayne Mastodonte Adventures #1. Em 2002, ganhou o Prêmio Especial no I Festival Internacional de Cartoon da Suécia; e 4º lugar no Festival Internacional de Artes Gráficas de Foz do Iguaçu, em 2003. É autor das tirinhas Rota 66 e Jab, Um Lutador.