As guerras, os quadrinhos e o cinema
As guerras sempre foram populares no cinema e nos quadrinhos. Embora o
gênero permita a reflexão social dos acontecimentos recentes e passados,
é mais usado para atuar como forma de entretenimento escapista.
Durante a Segunda Guerra, os quadrinhos abraçaram o gênero e até o mesclaram
ao nascimento dos super-heróis, com personagens patrióticos como o Capitão
América e tantos outros que lutaram contra o nazismo, o fascismo italiano
e o imperialismo japonês.
Mas foi na década de 1950 que as revistas deste gênero realmente vingaram.
Entre as mais importantes publicações do gênero estão as revistas Aces
High, da EC Comics, que publicava histórias focadas
nos combates aéreos das duas grandes guerras, e trazia na arte feras como
George Evans, Wally Wood, Jack Davis e Bernard Krigstein.
A
EC também publicava as revistas Two-Fisted Tales
e Frontline Combat, editadas por Harvey Kurtzman. A arte era
sempre um destaque à parte e contava com o talento de John Severin, Jack
Davis, Wally Wood, George Evans, Will Eld, Alex Toth, Ric Estrada, Joe
Kubert e Russ Heath.
A DC Comics,
por exemplo, tinha a revista Our Army at War, lançada em 1952
e que foi publicada até 1977, lançando heróis como Ás Inimigo (Enemy
Ace) e o Sgt. Rock e sua Companhia Moleza, personagem muito associado
a Joe Kubert.
Outro título importante da DC, também lançado em 1952,
foi G.I Combat, que incorporava alguns personagens da Quality
Comics (que havia sido adquirida pela DC), como
Blackhawk.
Foi
nessa revista que surgiu o Tanque
Assobrado (Haunted Tank). O título foi publicado até
1987.
Star Spangled War Stories é outro material que merece citação.
Lançado pela DC Comics em 1952, e publicado até 1977,
o título tinha como destaques as aventuras do Ás Inimigo e do Soldado
Desconhecido.
Muitos dos personagens de guerra da DC ganharam revistas
próprias na década de 1960, como Soldado Desconhecido, Sgt.
Rock e o Tanque Assombrado.
Entre 1965 e 1966, a Warren Publishing publicou, possivelmente,
a melhor revista do gênero: Blazing Combat.
Apesar de sua curta duração, Blazing Combat era uma revista de
primeiríssima linha. As histórias eram de Archie Goodwin e os artistas
incluíam muitos veteranos da EC Comics, como John Severin,
Wally Wood, George Evans, Russ Heat, Frank Frazetta, Alex Toth e Reed
Crandall.
Outros
artistas renomados que participaram do título foram Joe Orlando, Gene
Colan, Al McWilliams, Gray Morrow e Angelo Torres.
A revista tinha um tom decididamente antibélico - numa época que esse
sentimento, apesar de a Guerra do Vietnã já estar em curso, ainda não
era comum nos Estados Unidos. Isso causou problemas diversos de distribuição
que prejudicaram o título.
A Atlas, que mais tarde se tornaria a Marvel,
teve uma participação mais discreta no gênero, com títulos como Combat
Kelly, de 1951. Foi na década de 1960 que a editora resolveu, à sua
maneira, explorar mais o gênero.
Stan Lee discutiu com Martin Goodman sobre o sucesso das revistas Marvel.
Goodman afirmava que eram os adjetivos como amazing, spectacular,
uncanny (Amazing Spider-Man, Uncanny X-Men etc.) e outros
usados nos títulos que ajudavam nas vendas.
Mas Lee garantia que era o estilo Marvel e a força de
seu trabalho em parceria com Jack Kirby que geravam as vendas altas.
Para solucionar a questão, Lee fez uma aposta. Disse que bolaria o título
mais rocambolesco e improvável para uma revista e que, apesar do péssimo
nome, ela venderia bem devido ao estilo Marvel.
E foi assim que nasceu a revista Sgt. Fury and his Howling Commandos,
com Nick Fury liderando o grupo de comandos durante a Segunda Guerra.
O primeiro número foi publicado em maio de 1963.
Foi um grande sucesso e a revista teve 167 edições publicadas entre 1963
e 1981.
Em 1965, E.M. Nathanson publicou o romance The Dirty Dozen (Os
Doze Condenados), parcialmente baseado em uma unidade de elite pertencente
ao 506º Regimento Pára-quedista de Infantaria, conhecida como
Os Treze Sujos (The Filthy 13). O nome era uma referência
ao fato de esses soldados, durante seu treinamento na Inglaterra, só se
banhavam uma vez por semana e nunca lavarem seus uniformes.
Dois anos depois, em 1967, a MGM lançou nos cinemas o
filme de Robert Aldrich, Os Doze Condenados, baseado no romance
de Nathanson. Trata-se de uma aventura de guerra que chocou alguns críticos
na época por sua violência (mas que atualmente seria classificado para
menores de 12 anos) e até hoje continua sendo uma boa diversão.
O elenco inclui Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown,
Donald Sutherland, Telly Savallas e John Cassavetes.
Foi um sucesso cinematográfico que gerou algumas imitações, como o filme
italiano Quel maledetto treno blindato, distribuído com diversos
nomes, mas que é mais conhecido em inglês como Inglorious Bastards.
Aproveitando o momento de sucesso de Os Doze Condenados e o interesse
por histórias de guerra, a Marvel lançou Captain
Savage and his Leatherneck Raiders, em janeiro de 1968. Os personagens
chegaram a interagir com Nick Fury e seus comandos, mas o título durou
apenas 19 edições e foi cancelado em 1970.
Mesmo assim, a Marvel não perdeu o interesse pelo assunto.
Em maio de 1972, introduziu em Sgt. Fury and his Howling Commandos
# 98 uma nova série de personagens, os Doze Mortíferos (The
Deadly Dozen), que inicialmente seriam liderados por "Dum Dum" Dugan.
No mesmo ano, a "Casa das Idéias" lançou Combat Kelly And The Deadly
Dozen, incorporando o título da revista de 1951 ao novo conceito.
Como já havia acontecido em Sgt. Fury # 98, a idéia era a mesma
do filme Os Doze Condenados: usar um grupo de prisioneiros transformados
em comandos para missões suicidas durante a Segunda Guerra.
Sem grande brilho, a revista só durou 9 edições, mesmo com a participação
esporádica dos comandos de Nick Fury.
Aliás, anos depois, o aspecto das missões suicidas também inspirou a revista
Esquadrão Suicida (Suicide Squad), da DC Comics,
na qual os condenados são na verdade supervilões.
Com o passar do tempo, o interesse pelo gênero arrefeceu até a maior parte
dessas revistas ser cancelada, nas décadas de 1970 ou 1980 - uma exceção
é o título The 'Nam, que estreou em 1986, e foi lançado inicialmente
no Brasil, em Aventura e Ficção e depois ganhou título próprio
(O Conflito no Vietnã), que durou 19 números.
Mas com o atual interesse em Hollywood por tudo que se
relaciona aos quadrinhos, as editoras estão fazendo o possível para tirar
do limbo seus personagens mais antigos. A DC vai trazer
de volta o Tanque
Assombrado, o Soldado
Desconhecido e o Sgt.
Rock (cujo projeto
de filme está sofrendo percalços, mas ainda deve vingar).
A Marvel também relançou os Howling Comandos,
durante a Invasão Secreta, mas como um grupo de super-heróis,
ligado a Nick Fury, sem nenhuma relação com as histórias de guerra tradicionais.
Também existe o trabalho de Garth Ennis, um aficionado do gênero, que
recentemente lançou pela Marvel, War
is Hell e tem três minisséries Battlefields
em andamento na Dynamite
Entertainment.
Enquanto isso, nos cinemas, Quentin Tarantino está trabalhando numa refilmagem
de Inglorious Bastards (que no fundo não deixa de ser um remake
de Os Doze Condenados).
Depois de um arrastado processo, iniciado em 2001, está finalmente sendo
filmado Inglorious Bastards, com um elenco que inclui Brad Pitt,
Mike Myers, Eli Roth e Diane Kruger.
O longa-metragem está em produção na França e chegará aos cinemas em 2009.
E se isso não bastasse, a Warner e Joel Silver estão
planejando a refilmagem dos Doze Condenados, que será dirigida
por Guy Ritchie, de Jogos, trapaças e dois canos fumegantes.
O primeiro roteiro, que colocava a história nos tempos atuais, foi muito
mal recebido online. Por isso, um novo enredo está sendo desenvolvido
por Zak Penn.
Outro filme de guerra previsto para 2009, é Valkyrie, de Bryan
Singer (de X-Men, X-Men
2 e Superman
- O Retorno), sobre a tentativa real de assassinar Hitler, com
Tom Cruise no papel principal.
Quando esses filmes forem lançados, pode apostar que veremos mais HQs
de guerra sendo lançadas.
Sérgio Codespoti queria que alguma editora bondosa
reeditasse as excelentes histórias de guerra da EC Comics e da Warren
Publishing,e de preferência, com valores acessíveis ao bolso dos soldados
rasos.